Mais uma grande fraude eleitoral em marcha

As eleições brasileiras são feitas fundamentalmente para contrariar a vontade do eleitorado e defraudar as expectativas populares. Isto é natural, uma vez que os grandes capitalistas nacionais e estrangeiros querem os seus representantes no governo e estes representantes, em geral, são odiados pela população.
A história recente das eleições presidenciais está marcada por esta fraude permanente.
Em 1989, o regime estava completamente esgotado. Depois das milhares de greves operárias, do fracasso dos planos econômicos do governo Sarney e da hiperinflação, Sarney havia se tornado um dos presidentes mais impopulares da história nacional. Os partidos que o haviam apoiado, em particular o PMDB, o PFL, atual DEM e PSDB de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, haviam sido arrastados pela crise e se tornado incapazes de aparecer como um fator político nacional. Nessas condições, Lula, dirigente sindical e líder do PT aparecia como a única alternativa. A burguesia criou um candidato avulso na pessoa de Fernando Collor de Mello, obscuro governador do estado de Alagoas. O monopólio dos meios de comunicação, com a Rede Globo à cabeça colocou-se a controlar a eleição. Um administrador corrupto de segunda linha foi transformado do dia para a noite no “caçador de marajás”, transformando a inflação em um problema menor e interessando os milhões que perdiam dinheiro todos os dias em defensores da moralidade pública acima do seus interesses materiais. No segundo turno, embora Lula tivesse muito superior apoio popular, Collor venceu.
Nas eleições de 1994, o mesmo quadro repetiu-se. Collor, o “caçador de marajás”, havia sido derrubado no maior escândalo de corrupção da história nacional no final de 1992. Itamar Franco estabeleceu um governo interino. No início do ano, Lula aparecia com quase 70% das intenções de voto. O ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso lançou o Plano Real, plano de estabilização monetária, contendo a inflação. A popularidade de Lula misteriosamente despencou, o que lhe garantiu uma vitória fácil sobre Lula.
Agora, a mesma situação se repete, a candidata do PT, Dilma Rousseff, que tinha uma vitória praticamente segura no primeiro turno sobre José Serra, aparece, no segundo empatada com o candidato da direita que teve, mais uma vez, espetacular crescimento, quando, no primeiro turno todos vaticinavam a completa liquidação não apenas do candidato, mas do seu próprio partido. A causa, desta vez, da inversão de tendências é a mais disparatada de todas. Apesar de supostamente a economia ser uma maravilha, reconhecida pelos próprios adversários do atual governo, da inflação estar supostamente sob controle, a candidata está sendo derrubada… pela religião. É a mais esgarçada de todas as explicações já apresentadas.
No primeiro turno, pouco menos de 20 milhões de pessoas votaram em uma candidata desconhecida, um desses heróis de faz-de-conta da imprensa capitalista que não passam de uma cara na televisão e que ninguém sabe o que fez, fará ou deixará de fazer. Agora, estes 20 milhões que teriam votado na candidata, em uma grande medida, porque não queriam votar em José Serra e no PSDB, estão votando em massa no PSDB, menos explicável ainda.
Controle da imprensa capitalista sobre a eleição, controle dos grandes capitalistas sobre o eleitorado com grandes somas de dinheiro, controle dos currais eleitorais por grandes máquinas partidárias? Tudo isso certamente é um fator na eleição. Ademais, a eleição, como se sabe é uma engrenagem controlada em geral pela classe dominante e que ela, depois de muitas oscilações, leva para o lado que quer, principalmente quando não há uma grande mobilização popular. Isso, porém, não explica tudo.
Em vários momentos decisivos da vida eleitoral do País, a eleição foi claramente fraudada, após intensa campanha de manipulação da imprensa. Em 1982, nas primeiras eleições para o governo estadual depois do golpe militar, o então candidato do PDT, Leonel Brizola, popular líder político de antes da ditadura, ia ganhar com facilidade a eleição no Rio de Janeiro contra o candidato da ditadura, Miro Teixeira. Em meio à própria apuração, a Rede Globo começou a divulgar dados falsos que indicavam a derrota do candidato do PDT. Abriu-se uma enorme crise porque ficou claro que a eleição iria ser fraudada. A partir das denúncias do próprio Brizola, a Globo foi obrigada a recuar, aceitando a vitória do candidato oposicionista. Em 1986, na eleição para a prefeitura de São Paulo, o candidato do PMDB, Fernando Henrique Cardoso tinha a eleição garantida, a tal ponto que o jornal O Pasquim deu como manchete do jornal que saía às ruas no dia da eleição a vitória de FHC contra o candidato da direita, Jânio Quadros. Jânio Quadros ganhou a eleição, para surpresa de todos e, anos mais tarde, veio à tona que a eleição havia sido fraudada.
Na eleição atual, estamos entre uma escandalosa manipulação eleitoral e a fraude. Levar José Serra, com 24% de apoio do eleitorado, à presidência da República será, de qualquer ângulo que seja veja a questão, uma fraude das eleições, um completo desvirtuamento da eleição. É isso o que está sendo preparado.
E tal coisa deve ser energicamente denunciada.
Não é preciso ser partidário do PT, defender o PT como mal menor ou ainda, considerar que o PT é uma opção melhor do que Serra para o País. Não somos partidários do PT, não defendemos o PT e não consideramos o PT como mal menor diante de Serra. O que vemos de diferente entre o PT e Serra também não é decisivo do ponto de vista da política que ambos defendem para as massas em última instância.
A grotesca manipulação da eleição ou fraude, assim como já aconteceu com a esquerda no primeiro turno da eleição, não é apenas um ataque contra este ou aquele candidato, este ou aquele partido, mas um ataque contra os direitos democráticos de toda a população. Quando PCO, PSTU e PCB foram alijados de todos os debates da campanha eleitoral, o denunciamos não como um ataque apenas contra o nosso partido, o que efetivamente foi, mas contra os direitos democráticos do eleitorado e como uma manipulação ilegítima e ilegal das eleições.
Detrás das eleições, estão os planos econômicos e políticos dos grandes capitalistas, banqueiros e do imperialismo para todo o povo e não apenas para este ou aquele partido. Da mesma forma que a eleição de FHC trazia consigo todo um plano de privatizações e ataques ao movimento operário que marcou profundamente uma década de política nacional.
Poder-se-ia argumentar que, se Lula fosse eleito em 1994, ele faria a política da burguesia – o que sempre fez, desde os seus tempos de dirigente sindical no ABC – e que não mudaria nada. No entanto, se assim fosse, qual seria o sentido de uma manobra da envergadura que foi o esforço para ganhar as eleições de 1994? Lula é um político burguês e pró-imperialista e sempre foi, mas nem sempre foi ele o elemento mais adequado para levar adiante os planos da burguesia e isso faz uma diferença fundamental. Por isso a manipulação e por isso fraude.
Esse fato não diz respeito à opção de votar em Lula ou em Serra, mas ao caráter político assumido pela eleição que deve ser denunciado como parte da luta contra a burguesia, venha ela com a face de Dilma Rousseff e a estrela vermelha ou Serra, a Opus Dei e toda a confraria sinistra antiaborto.
Poder-se-ia perguntar porque, diante desta situação, não chamar a votar em Dilma Rousseff. Aqui coloca-se um outro problema de grande envergadura política. Para lutar contra o que vem pela frente, inclusive agora contra a manobra eleitoral fraudulenta, é preciso que os trabalhadores tenham independência da própria burguesia. Esta independência significa antes de qualquer coisa independência do próprio PT, único partido do sistema político burguês e pró-imperialista que efetivamente tem ascendência sobre as massas.
Esta consideração nos leva ao outro lado da moeda, ou seja, à opção presente para a burguesia na atual situação. As condições políticas em que o PSDB se organiza para chegar ao poder, apesar de toda a manobra política utilizada para envolver a população são muito desfavoráveis. Isso pode levar a que a pressão sobre o PT caminhe para um acordo político em torno do programa a ser adotado, ou seja, de um duro ataque às massas para enfrentar a crise, em primeiro lugar, a crise do Estado, em situação falimentar. Serra é, evidentemente, o homem mais adequado para o papel, mas talvez não consiga base política para esta ofensiva. É, inclusive, provável, que esta política conduza de qualquer modo a uma crise muito profunda, como estamos vendo, neste momento, na França. Este próprio fato é uma argumento em favor do PSDB. A opção Dilma necessitaria disciplinar o PT de maneira efetiva para este serviço e este disciplinamento seria obtido por toda a pressão eleitoral feita pela direita. Nessas condições, o próprio PT levaria adiante a ofensiva que está preparada. Esta possibilidade coloca ainda mais em relevo o papel que o PT tem em atrelar às massas ao conjunto do regime político e à ofensiva que está sendo preparada contra a classe operária e as massas.
Por esse motivo, chamamos a votar nulo, a combater Serra, ou seja, a política dos bancos e do imperialismo, não em geral, mas para a próxima etapa, mas não dar o menor apoio político ao PT porque o atrelamento dos trabalhadores ao PT é caminho seguro da derrota diante de Serra e do grande capital. Mas, ao mesmo tempo, denunciamos o golpe eleitoral e o plano de austeridade que está sendo chocado detrás de todo o ilusionismo eleitoral e através das eleições.

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