Os defensores da moral e dos bons costumes levantam novamente a cabeça

Monteiro Lobato foi julgado impróprio para o ensino pelo seu vocabulário pelo Conselho Nacional de Educação. Esta barbaridade contra a cultura nacional apareceu a muitos politicamente incautos não ser uma manifestação muito óbvia de obscurantismo e de perseguição da opinião como crime.
Seria um caso de racismo ou, mais propriamente, de luta contra o racismo e esta luta justificaria tudo. Um sofisma que encobre uma política de direita praticada por ignorantes e oportunistas da esquerda nacional que tantos serviços preciosos tem prestado à direita.
Não demorou muito para que o verdadeiro conteúdo da questão viesse à tona.
A famosa tesoura da censura, agora em defesa na nossa população infanto-juvenil, barrou o livro “Os 100 melhores contos do Século XX” sob a alegação de pornografia.
Nada poderia ser mais natural que da censura de palavras supostamente racistas passemos à censura de palavras supostamente pornográficas. Mais abstratamente, passamos da censura de determinadas à censura de outras palavras. Em resumo, passamos à censura das palavras.
O que o racismo e a pornografia escritos têm em comum. Ofendem moralmente a um determinado setor da população. Aqui temos, portanto, uma regra, que já está sendo colocada em prática de maneira implacável diante da falta de reação democrática: a ofensa moral é causa para censura.
Quem decidirá o que é e o que não é ofensivo? O povo, a maioria, as minorias, a esquerda? Certamente que não. Quem decidirá e já está, de fato, decidindo é o Estado brasileiro. Estado capitalista, dominada por verdadeiros criminosos políticos, por grandes empresas sedentas de lucro a qualquer custo, um estado que é um inimigo do povo, mesmo disfarçado de “democracia”, mesmo com um governo de esquerda como o atual.
Não pode haver qualquer dúvida de que estamos diante da volta dos defensores da “moral e dos bons costumes” de tempos passados. Naturalmente, eles sempre estiveram aí. Agora, no entanto, estão em plena ofensiva para impor o seu ponto de vista retrógrado e obscurantista. E contam com a ajuda de uma esquerda completamente entregue aos capitalistas para encobrir as suas tradicionais mazelas.
A “moral e os bons costumes” é a moral da direita e os bons costumes da direta. Do setor mais retrógrado, obscurantista e reacionário do País. Quanto a isso, não há qualquer mudança. A única diferença é que foram se reintroduzindo com o apoio de causas progressistas como a luta contra o racismo, contra a discriminação das minorias em geral, da defesa da mulher etc.
Não se poderia esperar outra coisa. A esquerda no governo, PT e PCdoB, nada tinha e nada tem a oferecer ao povo a não ser demagogia, uma vez que os capitalistas estão voltados para atacar cada vez mais as condições de vida materiais do povo dada a magnitude da crise capitalista. E a política da esquerda governamental não é contrariar, mas colaborar com a burguesia. Na falta de matéria, decidiram cuidar do espírito popular com conquistas imaginárias tais como a lei de censura de manifestações racistas. Nesta qustão, o ganho é infinitamente menor que a perda. Os negros não ganham nada de prático e, em troca, recebem uma satisfação moral. Esta situação foi habilmente manipulada por aqueles que têm o poder de manipular para reintroduzir a moral e os bons costumes. A base para esse avanço da direita não é apenas esta política suicida da esquerda governamental, mas uma outra política suicida. Para chegar a um acordo com a burguesia e participar nas delícias do poder foi necessário estrangular todo movimento de luta operária e popular. Ora, o que garante a frágil existência de certas liberdades democráticas é justamente a mobilização popular e mais nada.
Não é mera coincidência, se formos acreditar em geral em coincidência na política, que o atual reitor da USP, o direitista João Grandino Rodas, indicado por José Serra contra a vontade da comunidade uspiana, tenha pedido a expulsão de 21 alunos utilizando como base um decreto da época da ditadura que coloca como critério para a perseguição “a moral e os bons costumes”.
Está na hora de realizar uma ampla campanha em torno da defesa das liberdades democráticas ameaçadas de morte. É preciso abrir este debate em todas as organizações da esquerda, do movimento democrático, operário, popular e estudantil

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