A revolução surge da crise

Quando do início da atual crise, quatro anos atrás, a burguesia mundial e seus costumeiros apologistas no mundo intelectual trataram de minizar seus efeitos, em particular, seus efeitos revolucionários inevitáveis. Buscaram demonstrar que a crise capitalista é um simples problema de administração financeira. Despejaram bilhões nos bancos para evitar a falência e prevenir o colapso econômico fulminante. O choque apocalíptico foi evitado, mas a crise continuou a se desenvolver sob novas formas.
O Estados capitalistas foram empurrados pela “simples operação contábil” de transferir dinheiro para os bancos para a beirada do precipício da falência. Daí surgiram os planos de austeridade, inclusive no país que, a acreditar nos políticos, jornalistas e intelectuais brasileiros, manteve-se à margem da crise. Dos planos de austeridade saíram as gigantescas mobilizações que estamos assistindo neste momento na Europa, onde a própria moeda européia está ameaçada de liquidação.
Espanha, Portugal, França, Itália, Grécia, Irlanda, Grã-Bretanha estão convulsionados por mobilizações para resistir aos ataques dos governos imperialistas contra as condições de vida dos povos.
O que leva estes governos a desafiar as populações mais desenvolvidas do mundo e que trabalharam tanto para manter pacificadas? A crise capitalista, que atua acima da vontade dos governos. Da crise nasce a revolução.
Estas mobilizações não são a revolução? Muito bem. Admitamos que são os primeiros passos na longa caminhada que conduz aos desmoronamento completo dos Estados. No entanto, os primeiros passos são parte inegável de um processo revolucionário. Ou não?
Uma parte da esquerda negou a tese de que a revolução nasce da crise porque, segundo ela, não há partido revolucionário. Um esquematismo evidente. O partido revolucionário deveria ser criado antes da crise. Seria, portanto, não um produto da evolução da massas e sim uma criação intelectual ou de laboratório. Os partidos revolucionários criam-se como parte do processo revolucionário e, mais, são a expressão mais sintomática da própria existência desse processo. À medida em que a crise evolui, pequenos grupos de teóricos apresentam, se a sua política corresponder em alguma medida ao processo em marcha, a tendência se transformar em grandes organizações com capacidade de dirigir o movimento revolucionário. Há uma relação recíproca de intercãmbio permanente entre a consciência e a organização cuja base, ou seja, cujo princípio e motor é, não obstante, a evolução da contradição entre as relações sociais estabelecidas e perimidas e o desenvolvimento permanente das forças produtivas da sociedade, o seu desenvolvimento material e não espiritual. Qualquer outra relação é impossível. Os partidos social-democratas conquistaram uma liderança através de diversas lutas revolucionárias e mantiveram a sua coesão relativamente no período pacífico das últimas décadas do século XIX. O partido de Lênin, normalmente tido como um modelo, construiu-se através de sucessivas ondas revolucionárias prévias a 1917, incluindo a significativa experiência de 1905. Tanto a revolução como o partido somente podem ser obra das massas, em uma medida muito maior e muito mais decisiva do que se pode dizer que a revolução é obra do partido. Só os partidários de filosofias idealistas podem acreditar que um partido possa ser construído à margem de uma revolução. Se assim fosse, seria uma obra metafísica, do espírito e não do mundo material.
Esta não é uma questão acadêmica, mas de política. A luta pela construção de um partido da classe operária capaz de guiar os passos desta classe em um período revolucionário tem que se apoiar sobre o próprio desenvolvimento do processo revolucionário e da experiência das massas.
Esta é a tarefa que está colocada para o próximo período para todos que acreditam que o socialismo é o resultado inevitável da “agonia mortal do capitalismo”, como muito apropriadamente descreveu Trótski.

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