Pense o que quiser, diga o que quiser, desde que “eles” concordem

Não é apenas a divulgação de segredos diplomáticos que incomoda os donos dos meios de comunicação do mundo. A Atea, associação brasileira que pretende concregar e representar os ateus nacionais tomou a decisão de iniciar uma campanha nacional em defesa das suas convicções.
Foram assinados contratos para a divulgação das idéias da entidade em ônibus das principais capitais do País. Mesmo assim, as empresas de publicidade decidiram (com o estímulo de quem?) que a mensagem náo era aceitável e sem maiores explicações romperam o contrato. Pode-se ver, pelas idas e vindas do episódio que os donos das empresas de publicidade em ônibus adotaram a princípio uma atitude liberal, mas que um lobby religioso, muito nosso conhecido e muito atuante na questão do aborto, decidiu intervir para impedir este mal.
Moral da história. A organização de ateus precisa da autorização dos detentores dos meios de comunicação para divulgar suas idéias.
O caso da censura ao ateísmo é mais que esperado e, inclusive, simbólico da situação que estamos vivendo. Nesta coluna, temos denunciado a onda obscurantista que busca colocar todo o País e todas as instituições sob o tacão de uma ditadura moral. A ditadura moral, que pode começar com a proibição de expressar idéias que alguns podem considerar ”más” termina sempre com a proibição daquilo que a classe dominante, em particular a sua facção mais direitista, considera imoral.
O imoral é subjetivo, aquilo que para uns é ofensivo, para outro não é. Uma sociedade que respeite o direito democrático dos cidadãos não pode arbitrar nunca sobre o que pode e o que não pode ser dito. Isso, em si, é uma ditadura.
Para alguns esquerdistas sem um pingo de bom senso, proibir – ainda que seja absolutamente inócuo como política – um livro de Monteiro Lobato porque contém expressões ofensivas para o negro, pode parecer bom. No entanto, para a classe dominante e a direita parece muito mais moral e muito melhor proibir os ateus de divulgarem idéias que, nem sendo ofensivas aos que são religiosos, podem ser prejudiciais para a perpetuação da ilusão social maior que há que são as idéias religiosas e, ainda mais, às instituições que se alimentam desta ilusão.
A probição do racismo retórico leva à proibição do ateísmo não apenas retórico. Essa é a sequência lógica da censura e da proibição.
Quem será o juiz daquilo que é melhor dizer ou deixar de dizer? Se uma maioria ocasional se permite uma probição, nos marcos do regime atual, capitalista, antidemocrático, dominado pela ditadura das grandes empresas e dos governos que atuam em função delas, uma outra situação levará a um resultado diferente. Por este motivo, o movimento operário, em particular a sua vanguarda consciente, os marxistas, nunca cederam à tentação de dar aos governos o direito de censurar a direita ou á polícia a missão de prender os fascistas. É fácil compreender que neste tipo de arbitragem a balança rapidamente pende para o lado dos opressores e exploradores.
A esquerda nacional, em sua esmagadora maioria, está dominada por uma outra ilusão, que corresponde a uma espécie de religião, a ilusão da democracia. Crêem que o regime democrático situa-se acima das classes e dos conflitos sociais. Assim, se se aprova uma lei é como se a sociedade fosse Moisés recebendo as tábuas da lei diretamente de deus. Quem ousaria se opor àquela voz tronituante que vemos no filme de Hollywood estrelado por Charlton heston? Assim, também, a democracia é uma voz tronituante que fala uma verdade acima das fraquezas humanas, que vem do sobrenatural. Não seriam parlamentares financiados pelas grandes empresas que fazem a lei e nem juízes reacionários que fazem as leis e nem a polícia do mundo real que as faz respeitar. O regime democrático não é o templo da corrupção e da exploração mais desenfreada do povo, mas a materialização no mundo do espírito da deusa da democracia.
Pobre ilusão! Nem mesmo o deus de Israel teve tanto poder. A bíblia narra que Moisés ficou com os cabelos brancos diante da sarça de fogo e da voz tonitruante apenas para descer e ver o povo eleito renegando ali mesmo, com a maior desfaçatez a palavra divina!
Dar ao regime que representa a sociedade dividida entre milhões de miseráveis e um punhado de parasitas e onde os parasitas dominam o aspecto infalivel do deus do Sinai em nome da democracia é apenas e tão somente um suicídio político. É colocar a espada nas mãos do carrasco e abençoá-la.
É preciso uma ampla campanha contras as forças reacionárias que se agrupam para aprofundar o caráter antidemocrático do regime e que se revela com toda a clareza, tanto no caso Wikileaks como no caso da Atea.

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