Derrota do Brasil na Copa: o mundo sem conspirações

Natália Costa Pimenta

Não existe conspiração. Só existe o acaso, o destino. É o que, constatamos no Brasil recentemente, acredita a pequena-burguesia educada ideologicamente pelo imperialismo. Os ideólogos norte-americanos cunharam um termo que mora na boca dos ingênuos bem pensantes que se consideram cultos e iniciados em todos os mistérios: “teoria da conspiração”. O próprio termo é esclarecedor: não há conspirações, apenas teorias paranóicas. Qui prodest? A quem interessa tal aberração a não ser aos próprios conspiradores?

Para eles, o baixo clero intelectual das classes médias bem pensantes, que estão longe de  todos os mecanismos de poder e controle da sociedade, as coisas acontecem naturalmente, casualmente. acreditam nesta peça bizarra da ideologia imperialista, talvez porque não tenham poder para conspirar contra nada e ninguém, a não ser em uma escala infinitesimal, doméstica, acreditam que não exista tal coisa como a “conspiração”. Isso da parte de uns, pois de outros é puro cinismo.

Para essas pessoas o mundo funciona como a monstruosa máquina de propaganda da burguesia diz que funciona. Tudo o que é publicado na imprensa capitalista é a mais singela expressão da franqueza, os políticos não conspiram e nem mentem. E é evidente que para obter o máximo efeito, os interesses econômicos e políticos por trás de cada uma das ações devem ser ocultados, mas isso é apenas mais uma “teoria da conspiração”.

Está claro, para quase todas as pessoas do mundo, que nenhum conspirador falará abertamente dos seus desígnios. Caso contrário, não há conspiração, obviamente. E porque seus objetivos não são declarados, os que acreditam em tudo o que ouvem na imprensa capitalista, os que vivem de uma aparência que encobre como um véu obscuro a realidade, dizem que não há objetivos a serem alcançados, que não há interesses dissimulados, que as opiniões são resultado apenas de um julgamento frio e imparcial.

No caso da Copa do Mundo não é diferente. Os mesmos que encheram a boca para falar que devemos ser contra a realização do evento porque ele é promovido por uma empresa capitalista que só visa o lucro, acreditam que a FIFA e todos os envolvidos num evento de tais proporções, que abarca o mundo inteiro e interesses bilionários, deixam a Copa transcorrer tranquilamente, sem qualquer interferência de bastidores. E que vença o melhor! É tudo feito às claras, as cartas estão abertas sobre a mesa.

Falam como se a Copa nunca tivesse sido usada para interesses políticos: como os casos clássicos de 1934 e 1938, títulos ganhos pela Itália sob o regime fascista de Mussolini, ou 1978, realizada na Argentina, que sai vitoriosa, sob a ditadura de Jorge Rafael Videla. Acreditam que o boicote às Olimpíadas de Moscou foi feito por causa da invasão russa do Afeganistão e que Olimpíada de 1936 coube a Alemanha de Hitler porque deu como resultado no sorteio.

Falam como se a seleção brasileira nunca houvesse sido sabotada: como se não tivessem quase acabado com a carreira de Pelé em 1962, quando o Brasil mesmo assim foi vitorioso e em 1966, quando a violência conseguiu mais uma vez tira-lo da competição e entregar a taça para a Inglaterra. É também senso comum que algo aconteceu em 1998 para que a seleção perdesse a final para a França.

E, no entanto, querem dizer que não há conspiração. Que tudo aconteceu por acaso.

Falar que não há conspiração é como acreditar que as empresas não agem em função do lucro, mas por razões humanitárias, como elas dizem. É acreditar, por exemplo, que a guerra do Iraque começou porque George W. Bush queria combater terroristas e levar a democracia para esse país, quando todos sabem que os EUA invadiram o Iraque para controlar o petróleo e a região.

Aliás, os Estados Unidos são mestres em inventar pretextos para entrar em guerras e intervir em países e talvez seja por isso que eles sejam os maiores opositores da “teoria da conspiração”; para neutralizar os opositores que pretendam denunciar suas conspirações.

O que a classe média bem pensante não consegue compreender é que na política e nos negócios, sem mencionar as outras esferas da vida social, não apenas há conspirações que vão muito além de qualquer teoria, como, na realidade, quase tudo, senão tudo é feito de maneira conspirativa, às costas de todos os interessados. A era do monopólio e dos governos imperialistas é, também, a era da conspiração permanente contra o povo, ou seja, do controle da imprensa e de toda comunicação e da espionagem permanente contra governos e povos. Que o diga a Operação Prisma, que espiona milhões de seres humanos de uma única vez. Que o digam Edward Snowden e Julian Assange!

E, no caso em tela, quem não sabe que, em torno da Copa articula-se uma feroz luta pelo poder político no País que vai se expressar agora nas eleições?

Já Lênin assinalou que ingenuidade dos operários diante do que são e fazem as classes sociais era o seu maior defeito.

Fechar os olhos para as conspirações é pedir para ser manipulado, pois é para isso que elas existem.

Do Diário Causa Operária Online

http://pco.org.br/editorial/o-mundo-sem-conspiracoes/aspy,y.html

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