Por Afonso Teixeira Filho
Eis o que disse von Mises: “O único fato sobre a Rússia sob o regime soviético com que todas as pessoas concordam é: que a qualidade de vida do povo Russo é muito menor do que a do povo no pais que é universalmente considerado como o paradigma do capitalismo, os Estados Unidos. Se fôssemos considerar o regime soviético um experimento científico, poderíamos dizer que a experiência demonstrou cla
Von Mises teria dito (está no blogue do Rodrigo Constantino). Leiam e pensem bem como alguém pode dizer uma besteira dessas. “O sistema econômico marxista, tão elogiado por hostes de pretensos intelectuais, não passa de um emaranhado confuso de afirmações arbitrárias e conflitantes.”
Vou citar a hoste de pretensos intelectuais: Sartre, Walter Benjamin, Adorno, Gramsci, Breton, Celso Furtado, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Eisenstein, Prokofiev, Chostakóvith. E a lista poderia continuar até atingir 200 páginas; e os principais intelectuais do século XX estariam nelas. Pergunta: de quem é a pretensão? Quem é o pretensioso? Mises ou toda essa gente? E, agora, José?
Vamos ao resto. O marxismo seria um “emaranhado”. Prova de que ele não entendeu Marx. Se houvesse entendido não diria que a teoria marxista é um emaranhado, pois muita gente a entendeu. Dizer que algo é um emaranhado é desculpa de mal aluno.
E, pior ainda, “é um emaranhado confuso”. Existe emaranhado que não seja confuso? Além de tudo, escreve mal.
Mas a piada não para por aqui. “Afirmações arbitrárias”. Nenhuma crítica séria ao marxismo poderia dizer que ele contém “afirmações arbitrárias”. O marxismo é um sistema e, por isso, não pode conter afirmações arbitrárias. Seja uma sistema correto ou incorreto, não poderia conter afirmações arbitrárias, pois é elaborado sistematicamente. Todo o sistema é formado por obras concatenadas. Tem bases filosóficas profundas. Fundamenta-se na dialética. Penetra na economia e faz uma crítica profunda ao sistema capitalista.
Vamos a última graça de Mises: o marxismoé um emaranhado de afirmações conflitantes. É fácil falar, difícil provar. Nunca li, em toda a minha vida uma única linha, de nenhum autor, demonstrando os conflitos nas ideias de Marx, que o próprio Marx não tenha mostrado, criticado e corrigido. Por outro lado, provei aqui como Mises, em uma única sentença, escreve uma série de coisas conflitantes, especulativas, confusas e tomadas arbitrariamente.
Constantino dá prosseguimento a seu texto doutrinário fazendo uma demonstração pífia, incompleta do que seria o marxismo. diz ele: “(a teoria da exploração) diz que todos os bens de valor são produtos do trabalho humano, mas que o trabalhador não recebe o produto integral do que produziu, pois os capitalistas tomam para si parte do produto dos trabalhadores.”
Perguntamos: é isso mesmo o que ela diz? É a partir dessa sentença que Constantino vai procurar “derrubar” a teoria marxista, usando como argumento de autoridade o ridículo Böhm-Bawerk, uma das múmias do liberalismo, ressuscitada pelos misianos. E toda a “demonstração” estará comprometida porque Constantino omite (de propósito, penso eu) algo muito importante. Quem conhece Constantino sabe que ele trabalha para a revista Veja, que não é uma rev ista séria. Tampouco ele é um sujeito sério. É autor de bobagens homéricas,como afirmar que o emblema da Copa do Mundo era uma propaganda subliminar do PT. Mas vamos ao que ele omite. O mais honesto seria dizer: “os bens de valor são produtos do trabalho humano, mas o valor é determinado pelo trabalho socialmente necessário para produzi-lo”. Foi isso o que Marx disse. Diante diss
o, cai a farsa montada por Constantino. Ou isso prova a desonestidade dele, ou lhe prova a ignorância. Nunca leu Marx e leu muito mal o próprio Böhm-Bawerk. Ele despreza alguém a quem não entende e admira outro ao qual também não entende.
Constantino continua: “se fosse verdade que um produto vale somente aquilo que custou de trabalho para produzi-lo, as pessoas não iriam atribuir um valor diferente a um magnífico barril de vinho de uma região nobre vis-à-vis o vinho de outra região pior. Uma fruta achada não teria valor algum também.”
Parece aula de economia dada por um professor de OSPB ou Educação Moral e Cívica. Está tudo errado.
Aprenda Constantino. O vinho produzido em uma boa região vinícola, como Bordeaux, Douro, Mosel, etc., tem mais valor do que o vinho produzido em regiões mais pobres pois há nas boas regiões séculos de trabalho de preparação de terra, de estudos de temperatura, umidade, técnicas de plantio e colheita, etc. E, portanto, MUITO MAIS TRABALHO ENVOLVIDO.
E quanto a uma fruta achada na beira do caminho, por que essa fruta tem valor? Porque, a fruta achada ou mesmo a fruta silvestre tem valor devido ao trabalho socialmente necessário para produzi-la.
Em suma, todo o artigo de Constantino é uma falácia, pois omite, simplesmente o mais importante: o trabalho socialmente necessário.
Se ele tivesse criticado essa teoria, podia ter ido pelo caminho certo. Mas ele não é um cientista. É um intelectual desonesto que trabalha para uma revista desonesta.