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Von Mises, o guru dos imbecis

Por Afonso Teixeira Filho

Eis o que disse von Mises: “O único fato sobre a Rússia sob o regime soviético com que todas as pessoas concordam é: que a qualidade de vida do povo Russo é muito menor do que a do povo no pais que é universalmente considerado como o paradigma do capitalismo, os Estados Unidos. Se fôssemos considerar o regime soviético um experimento científico, poderíamos dizer que a experiência demonstrou claludwig-von-mises-misesramente a superioridade do capitalismo e a inferioridade do socialismo.”
Prova de que o austríaco não era nenhum cientista.
Primeiro: “o ÚNICO FATO”, vejam bem, único, “o único fato com que todos concordam sobre a Rússia…” Será que os dirigentes soviéticos concordavam com isso? Será que o operário russo concordava com isso? Se alguém discorda, já não são “todas as pessoas”, ou são? E, seria esse o único fato (coso fosse verdade)? Imagino que todos, sem exceção, concordavam que o regime soviético era um regime de partido; certamente todos concordavam que o regime soviético era parlamentarista; certamente todos concordavam que o Estado soviético era um Estado operário; certamente todos concordavam que a economia soviética era planejada. Portanto, a menos que eu esteja ficando louco, o fato exposto pelo charlatão austríaco não era “o único”. Das duas uma, ou ele não conhecia os outros, ou falava o que lhe dava na telha.
Ademais, embora eu não concordasse com o regime soviético, eu também não concordo com aquilo que Mises diz que todos concordam: que a qualidade de vida nos Estados Unidos era melhor do que na União Soviética. Certamente era melhor para os ricos, mas para os pobres a União Soviética era bem melhor.
Sobre a falácia de que “a experiência demonstrou claramente…”: demonstrou coisa nenhuma. O capitalismo funciona apenas em países imperialistas, com uma outra exceção temporária. A África tem 54 países capitalistas (100%) e vive numa miséria que dá gosto. Eis aí uma prova inconteste de que o capitalismo não gera riqueza. O que gera riqueza é o trabalho. O capitalista faz apenas apropriar-se do trabalho alheio.
Os teólogos da religião de von Mises o citam como se ele fosse uma grande sumidade no terreno da economia. Citam também a Hayek e a Friedman e a Böhm-Bawerk. Esses são exemplos de “burridades astronômicas”. Os misianos (não parecem missionários?) vivem afirmando, em seu catecismo, que Bawerk desmentiu Marx. As afirmações ridículas de Bawerk nunca chegaram a constituir uma teoria. Quem o cita são apenas detratores de Marx que nunca procuraram ler a obra de Marx. Mas alguns marxistas tiveram o trabalho de ler a obra de Bawerk e criticá-la, como Bukhárin e Hilferding.
Mas não é preciso ser marxista para perceber as falhas de Bawerk. A edição de seu livro “Teoria positiva do capital” (coleção Os Economistas) tem dois volumes. O segundo volume, inteirinho, é dedicado a defender-se das críticas apresentadasa ele. Vejam só: um livro inteiro para defender-se de críticas. Mas, na maioria dos casos nem defesas são; são desculpas, correções e frases como “não foi bem isso que eu disse”, “não era bem isso que eu queria dizer”.
Continuaremos com a crítica a Böhm-Bawerk retirando do blogue de Rodrigo Constantino, outro picareta, na reviscapitalismota Veja (só podia ser!) as “provas” de Bawerk contra Marx.
Von Mises teria dito (está no blogue do Rodrigo Constantino). Leiam e pensem bem como alguém pode dizer uma besteira dessas. “O sistema econômico marxista, tão elogiado por hostes de pretensos intelectuais, não passa de um emaranhado confuso de afirmações arbitrárias e conflitantes.”
Vou citar a hoste de pretensos intelectuais: Sartre, Walter Benjamin, Adorno, Gramsci, Breton, Celso Furtado, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Eisenstein, Prokofiev, Chostakóvith. E a lista poderia continuar até atingir 200 páginas; e os principais intelectuais do século XX estariam nelas. Pergunta: de quem é a pretensão? Quem é o pretensioso? Mises ou toda essa gente? E, agora, José?
Vamos ao resto. O marxismo seria um “emaranhado”. Prova de que ele não entendeu Marx. Se houvesse entendido não diria que a teoria marxista é um emaranhado, pois muita gente a entendeu. Dizer que algo é um emaranhado é desculpa de mal aluno.
E, pior ainda, “é um emaranhado confuso”. Existe emaranhado que não seja confuso? Além de tudo, escreve mal.
Mas a piada não para por aqui. “Afirmações arbitrárias”. Nenhuma crítica séria ao marxismo poderia dizer que ele contém “afirmações arbitrárias”. O marxismo é um sistema e, por isso, não pode conter afirmações arbitrárias. Seja uma sistema correto ou incorreto, não poderia conter afirmações arbitrárias, pois é elaborado sistematicamente. Todo o sistema é formado por obras concatenadas. Tem bases filosóficas profundas. Fundamenta-se na dialética. Penetra na economia e faz uma crítica profunda ao sistema capitalista.
Vamos a última graça de Mises: o marxismoé um emaranhado de afirmações conflitantes. É fácil falar, difícil provar. Nunca li, em toda a minha vida uma única linha, de nenhum autor, demonstrando os conflitos nas ideias de Marx, que o próprio Marx não tenha mostrado, criticado e corrigido. Por outro lado, provei aqui como Mises, em uma única sentença, escreve uma série de coisas conflitantes, especulativas, confusas e tomadas arbitrariamente.
Constantino dá prosseguimento a seu texto doutrinário fazendo uma demonstração pífia, incompleta do que seria o marxismo. diz ele: “(a teoria da exploração) diz que todos os bens de valor são produtos do trabalho humano, mas que o trabalhador não recebe o produto integral do que produziu, pois os capitalistas tomam para si parte do produto dos trabalhadores.”
Perguntamos: é isso mesmo o que ela diz? É a partir dessa sentença que Constantino vai procurar “derrubar” a teoria marxista, usando como argumento de autoridade o ridículo Böhm-Bawerk, uma das múmias do liberalismo, ressuscitada pelos misianos. E toda a “demonstração” estará comprometida porque Constantino omite (de propósito, penso eu) algo muito importante. Quem conhece Constantino sabe que ele trabalha para a revista Veja, que não é uma rev ista séria. Tampouco ele é um sujeito sério. É autor de bobagens homéricas,como afirmar que o emblema da Copa do Mundo era uma propaganda subliminar do PT. Mas vamos ao que ele omite. O mais honesto seria dizer: “os bens de valor são produtos do trabalho humano, mas o valor é determinado pelo trabalho socialmente necessário para produzi-lo”. Foi isso o que Marx disse. Diante diss
o, cai a farsa montada por Constantino. Ou isso prova a desonestidade dele, ou lhe prova a ignorância. Nunca leu Marx e leu muito mal o próprio Böhm-Bawerk. Ele despreza alguém a quem não entende e admira outro ao qual também não entende.
Constantino continua: “se fosse verdade que um produto vale somente aquilo que custou de trabalho para produzi-lo, as pessoas não iriam atribuir um valor diferente a um magnífico barril de vinho de uma região nobre vis-à-vis o vinho de outra região pior. Uma fruta achada não teria valor algum também.”
Parece aula de economia dada por um professor de OSPB ou Educação Moral e Cívica. Está tudo errado.
Aprenda Constantino. O vinho produzido em uma boa região vinícola, como Bordeaux, Douro, Mosel, etc., tem mais valor do que o vinho produzido em regiões mais pobres pois há nas boas regiões séculos de trabalho de preparação de terra, de estudos de temperatura, umidade, técnicas de plantio e colheita, etc. E, portanto, MUITO MAIS TRABALHO ENVOLVIDO.
E quanto a uma fruta achada na beira do caminho, por que essa fruta tem valor? Porque, a fruta achada ou mesmo a fruta silvestre tem valor devido ao trabalho socialmente necessário para produzi-la.
Em suma, todo o artigo de Constantino é uma falácia, pois omite, simplesmente o mais importante: o trabalho socialmente necessário.
Se ele tivesse criticado essa teoria, podia ter ido pelo caminho certo. Mas ele não é um cientista. É um intelectual desonesto que trabalha para uma revista desonesta.