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Os oito anos do governo de Lula: o PT ressuscita o PMDB

A chamada “transição democrática” de 1985, da ditadura para o primeiro governo civil, foi uma operação de preservação dos interesses essenciais do grande capital nacional e estrangeiro no governo.
O PMDB, partido criado pela ditadura, mas visto como o partido da luta democrática traiu todas as expectativa democrátias e manteve o grupo essencial da ditadura no poder. Em um episódio dos mais irônicos da história nacional, o primeiro governo civil e democrático acabou sendo encabeçado por um dos mais conspícuos representantes da ditadura, José Sarney.
A manobra foi bem sucedida devido à completa ausência de oposição. A direção do PT naquele momento somente não a apoiou abertamente porque, como eles mesmos afirmaram, os votos no Colégio Eleitoral não eram necessários.
A classe operária, no entanto, tratou de ferir de morte a manobra política traiçoeira. Apenas no ano de 1985, o governo civil, recém estabelecido, enfrentou 15 mil greves que liquidaram completamente o partido fundamental da burguesia e sustentáculo do governo. O PMDB tentou ainda recuperar-se com enorme fanfarra em toda a imprensa capitalista em torno dos seus planos econômicos que acabaram fracassando lamentavelmente e acabando com o partido. Nas eleições de 1989, o PMDB não foi capaz de apresentar uma liderança nacional, situação que perdura até hoje.
Criou-se uma contradição fundamental. O sistema eleitoral tradicional, baseado nos currais eleitorais, dominado pelo PMDB, não era capaz de produzir uma verdadeira capacidade de liderança política para o partido que era a coluna vertebral do regime político. Esse fato deu lugar ao racha que viria a formar o PSDB, uma tentativa de parte do partido de escapar ao estigma de partido antidemocrático, antipopular, repressivo e corrupto. Devido à sua fraqueza, o novo partido transformou-se simplesmente em refém do partido que veio da ditadura, rsgatado do naufrágio do regime pelo PMDB, uma fachada de professores universitários ex-esquerdistas vendidos para o imperialismo que serviam de fachada democrática ao tradicionais gorilas da direita retrógrada.
A maior conquista popular e operária do período foi a devastação operada entre os partido burgueses que são o sustentáculo do regime. Abriu-se uma gigantesca brecha que ameaçava engulir todo o regime político que expressa a ditadura do capital. Este foi desde o final dos anos 80, o sinal mais claro do caráter profundamente revolucionário do processo político brasileiro.
Em contrapartida à dispersão e crise da burguesia, a classe operária apresentou, com uma força extraordinária, a tendência oposta, à centralização e unidade, materalizada fundamentalmente na CUT, mas que lançava um reflexo eleitoral sobre o PT.
A formação da frente popular, isto é, da frente entre o PT e partidos burgueses, saídos do bloco organizado em torno ao PMDB como PSB, PCdoB e PDT, foi o início de um processo que caminhava para buscar reverter esta crise e resgatar o regime político dos grandes capitalistas, latifundiários e banqueiros da falência.
Na sua eleição em 2002, Lula aliou-se a um partido burguês de direita, embora secundário, o Partido Liberal, o maior defensor ideologico do neoliberalismo, outra ironia, uma vez que os petistas procuram se mostrar como os opositores desta política indentificada com FHC. O fato é que, desde o seu primeiro congresso, todas as alas do PT já haviam aderido à política e à ideologia neoliberal, camuflada com um verniz, puramente verbal, de socialismo.
A crise do mensalão, política que buscava dar ao PT uma base nos municípios capaz de superar a crise do PMDB, abriu caminho para que o PT buscasse a estabilidade do regime através da única via possível, a do resgate do PMDB. Em 2006, Lula formou uma frente com o PMDB que passou a ter uma enorme presença no governo. Esta aliança foi confirmada agora novamente na eleição de Dilma Roussef.
O segundo governo de Lula mostrou claramente o sentido da politica do PT: recuperar, por meio da participação no orçamento do Estado, o partido da repressão e da corrupção que é o PMDB, uma das alas direitas da política nacional, uma vez que boa parte dos direitistas da ditadura migraram para este partido em função do colapso do DEM.
Toda a evolução da situação revela claramente que o conjunto do regime político apóia-se fundamentalmente no PT como única forma de sustentação diante das massas. Se a burguesia consegue fazer funcionar o regime, apesar da crise gigantesca dos seus partidos e das suas instituições, deve-se fundamentalmente à política do PT e o governo dos últimos oito anos foi fundamental nesse sentido.
É sobre isso que se apóia hoje a direita para atacar a classe operária, o trabalhador do campo e os direitos democráticos de toda a população.

Os oito anos do governo de Lula chegam ao final

O governo de Luís Inácio da Silva chega ao final com um saldo extraordinariamente negativo para a classe operária.
Está claro que é absolutamente infantil adotar a metodologia dos apologistas do PT de mostrar cifras. É um velho truque eleitoral dos partidos burgueses. Tais números não significam nada. Tudo depende das relações políticas e econômicas vigentes, da análise da relação de forças, da conjuntura nacional e internacional. A manipualação dos dados abstratos é um aceno para o que há de mais atrasado na política e uma grande homenagem à política reacionária da direita usada para ludibriar o povo.
O governo do PT, do ponto de vista puramente numérico, por outro lado, nada tem a mostrar, exceto a continuidade e o aprofundamento da transferência da poupança nacional, forçada através da pesada carga fiscal, para os bolsos dos banqueiros, dos especuladores internacionais e do grande capital nacional associado a eles. Lula garantiu que este gigantesco mecanismo de transferência continuasse a funcionar apesar de toda a rejeição popular ao governo FHC.
No que diz respeito à política do Estado, em particular na economia, Lula foi apenas um continuador da obra reacionária e espoliadora de FHC.
O fundamental em um governo, em particular em um governo que se proclama de esquerda é a política. Com isto queremos dizer a evolução da classe trabalhadora, da luta pelas suas reivindicações, do avanço da consciência operária e do povo em geral e da sua organização. No final das contas, nada poderia ser mais reacionário do que a idolatria do atual regime político e do capitalismo atrasado existente no Brasil. Qualquer governo, mesmo os governos burgueses, devem ser julgados sob o ponto de vista da transformação histórica de que o país necessita.
A organização da classe operária sofreu sob o governo Lula o mais profundo retrocesso desde a ditadura militar. Este retrocesso iniciou-se já no governo de Sarney e aprofundou-se sob Collor e mais ainda sob FHC. Em todos estes momentos, o PT teve uma participação decisiva em conter a luta popular, em desviá-la para o terreno puramente eleitoral, onde foi estrangulada. Com a subida de Lula ao governo esta situação chegou ao seu ponto mais baixo. A profunda e vasta corrupção da burocracia sindical da CUT, chegada aos postos governamentais, serviu para desorganizar ainda mais os sindicatos e outras organizações operárias e estudantis,o que acarretou um retrocesso político geral no País. A crise é tão profunda que salta ao olhos, a ponto de que uma parcela da esquerda, sem qualquer política séria para o movimento de massas, consegue arrastar uma parte dos elementos ativos, está certo que em grande medida pequeno-burgueses, para a tradicional política semi-anarquista de criar organizações “puras”, não contaminadas pela burocracia. Os trabalhadores vêem-se despojados das suas organizações e incapazes de criar um movimento pela sua recuperação em função da falta de alternativas e da pressão dos aparelhos dominados pelo Estado capitalista.
Lula tentou consolidar este esmagamento das organizações operárias com a reforma sindical e fracassou. No entanto, consolidou-se a liquidação do direito de greve e intensificou-se a intervenção estatal no sindicatos, revelando que o governo do PT serviu, acima de tudo, como cobertura para uma ofensiva da ala direita da burguesia contra a organização operária.
Outro lado desta mesma questão é a situação dos direitos democráticos da população em geral. Nos últimos oito anos, aprofundou-se extraordinariamente a tendência retirar os direitos da população, consolidando-se a obra do governo FHC. Censura, represssão policial, intervenção das forças armadas, reformas reacionárias no judiciário, proibições e mais proibições acumularam-se em uma clara ofensiva da direita contra as lutas, os movimentos e a organização popular.
No campo, aumentaram os assassinatos de dirigentes da luta popular.
Argumentarão alguns que estas coisas todas não foram feitas pelo governo, mas por diversas instituições do Estado. Esta consideração é muito parcialmente correta, porque Lula tomou a iniciativa de formar a Força Nacional de Segurança, aumentando a capacidade repressiva do Estado, de mandar tropas para o Haiti e os parlamentares do PT participaram ou se omitiram na aprovação da maioria dessas iniciativas.
Isso, porém, não tem importância alguma. O mais importante é que o PT no governo culminou a obra que vinha realizando de neutralizar completamente toda oposição ao regime político. A maior parte das organizações sindicais, juvenis, de luta pela terra e de movimentos diversos estão sob a direção do PT e estão completamente paralisadas diante das iniciativas tomadas pela direita. O PT só assinala a questão da direita nas eleições, de maneira puramente retórica e demagógica para ganhar votos e nada mais. Passadas as eleições, não há conflito algum e sim uma estreita colaboração.
Esta capacidade de neutralização é, inclusive, a única e real importância que o PT tem para a burguesia. Este é o mais importante serviço prestado aos capitalistas e à direita politica.
O aspecto progressista e revolucionário dos oito anos de governo do PT é que serviram para uma ampla experiência da classe operária com a política deste partido e que terá uma influência decisiva nos próximos acontecimentos políticos de importância. Esta experiência parece aos leigos ser inexistente porque se dá em meio a um perído de prostração da lutas populares, em particular da classe operária. No entanto, a inevitável aceleração da situação política em função do desenvolvimento da crise fará com que venha à tona o desenvolvimento latente. Lula não se chocou abertamente com a classe operária, o que fará com que o movimento de luta dos trabalhadores seja obrigado a realizar uma nova experiência com Lula. No entanto, Lula e o PT são coisas distintas, mesmo se ligadas. A crise da burocracia sindical petista e das lideranças do MST em função da sua política de colaboração de classes levam a uma erosão do partido cada vez mais e que deverá assumir um caráter fulminante em uma crise de grande envergadura.