Paraguai: o que mostraram as eleições?

Nas recentes eleições gerais do Paraguai, o conservador Partido Colorado, pilar da sanguinária ditadura encabeçada por Alfredo Stroessner (1954-1989), foi o grande vencedor. Trás haver obtido 45,8% dos votos válidos (abstencionismo: 31,4%), o novo presidente do País será Horacio Cartes, um milionário sobre quem pesam acusações de contrabando, lavagem de dinheiro e ligações com o narcotráfico.

Efraín Alegre, do Partido Liberal e ex-ministro de Obras Públicas e Comunicações no governo de Fernando Lugo, obteve 36,94% dos votos.

O candidato do ex presidente Fernando Lugo, Anibal Carrillo, obteve 3,32% e o outro candidato esquerdista, Mario Ferreiro, de Avanza País, obteve 5,88% dos votos.

O Partido Colorado obteve 19 senadores, de um total de 45 vagas, 47 deputados de um total de 80, e a governatura de 15 departamentos de no total de 17, inclusive o Central, onde fica Assunção, a capital do País.

Lugo, tirado do poder em junho do ano passado, por meio de um golpe de estado branco, quando foi destituído pelo Congresso, se limitou a declarar: “tentamos obter o triunfo, mas não foi possível. O povo paraguaio se pronunciou e nós respeitamos”.

Qual é o significado da vitória do Partido Colorado?

O triunfo da direita recalcitrante paraguaia aconteceu sob forte pressão do imperialismo e burguesia pró-imperialista. Da mesma maneira que aconteceu nas eleições no México no ano passado, o imperialismo impôs um candidato “reciclado” (sem um passado político de primeira linha), sob forte pressão e enormes esquemas de fraudes com compras de votos que superaram os tradicionais níveis de corrupção, levando, além da suspensão de um senador, a denúncias na própria imprensa burguesa.

As eleições se enquadram na nova política do imperialismo norte-americano para a América Latina que tem como objetivo aumentar o saque das riquezas devido à necessidade de repassar para a região parte da crise, por causa da derrotas que tem sofrido nas demais regiões do planeta, e à queda acentuada dos lucros dos monopólios a partir do ano passado, perante o fracasso dos “pacotes de estímulo”, ou seja os trilhões repassados para os monopólios, que não conseguiram promover qualquer crescimento.

Numa primeira fase, o imperialismo está tentando impor governos de centro direita, como aconteceu na Colômbia, no Chile, no México e, agora, no Paraguai. O problema é que esses governos estão entrando em crise muito rapidamente devido ao aumento do descontentamento e dos protestos das massas. Por esse motivo, esses governos devem ser considerados como uma etapa intermediária que continuarão enfrentando enormes dificuldades para aplicar a política imperialista. A tendência da direita pró-imperialista é usa-los como trampolim para progredir para uma saída de força aberta, para governos ditatoriais a la Pinochet. O aumento dos ataques contra as massas passam pelas tentativas de desestabilização e derrubada dos governos nacionalistas para, a partir daí, destruir os organizações da massas trabalhadoras em grande escala.

O Paraguai voltará ao Mercosur e aos demais organismos de onde tinha sido excluído após o golpe contra Lugo, como a Unasur. O governo brasileiro colocou como condição a aprovação formal pelo senado paraguaio do ingresso da Venezuela ao Mercosur. Isto, assim como vários outros fatos, mostra claramente a aliança concreta que existe entre o nacionalismo brasileiro e o chavismo.

 No que o imperialismo está de olho no Paraguai?

Os interesses dos monopólios no Paraguai são diversos devido, principalmente, à fartura de isenções, facilidades de todos os tipos e ao tradicional entreguismo das elites locais. O aquífero Guaraní representa as maiores reservas de água doce do mundo. As recentes descobertas, na região fronteiriça com a Bolívia, expuseram enormes reservas de minério de ferro, ouro, cobre e titânio. No Chaco, há importantes reservas de petróleo de tipo leve que incialmente permitiriam produzir 150 mil barris diários. A maior reserva de gás das Américas está localizada na região conhecida como “La Vertiente”, em Tarija, Bolívia, que, está conectada, à reserva de petróleo e gás “Independência 1”, a 100 quilômetros de Gabino Mendoza, no Paraguai.

A multinacional anglo-britânica Rio Tinto tem um projeto, avaliado em US$ 4 bilhões, para produzir alumínio. Devido à alta demanda energética requer um forte controle das duas grandes centrais hidrelétricas e, obviamente, a estabilidade social e política no País, cuja economia, no ano passado, sofreu contração de -1,5%.

Para manter e ampliar a produção de soja transgênica, que hoje ocupa grande parte do território, e as vendas de agrotóxicos, a Monsanto precisa conter os camponeses pobres e sem terra, e, por esse motivo, foi um dos principais protagonistas do golpe contra o presidente Lugo.

A base militar do exército norte-americano no Chaco serve como ponta de lança, para facilitar intervenções rápidas nos países do Cone Sul e no Brasil, e faz parte da estratégia para o controle militar do Continente junto com as demais bases existentes na Colômbia, Argentina (Chaco) e Chile, e a recentemente reativada IV Frota.

Publicado no Causa Operária Online número 3432, de quinta-feira, 25 de abril de 2013

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