DIREITA BRASILEIRA: DO “NÃO VAI TER COPA” AO “NÃO VAI TER HEXA”

Rui Costa Pimenta

A COMÉDIA POLÍTICA DA COPA

DIREITA BRASILEIRA: DO “NÃO VAI TER COPA” AO “NÃO VAI TER HEXA”

Goebbels, encarregado da máquina de propaganda do nazismo, é citado como tendo dito certa vez que “ganhar uma partida de futebol é melhor que ocupar uma cidade”. As ditas democracias europeias entregaram ao periclitante regime fascista de Mussolini duas copas do mundo. Adolf Hitler também teve a sua fatia no bolo esportivo e recebeu como presente o direito de sediar em Berlim as Olimpíadas de 1936.

A manipulação política dos esportes, em geral, do futebol e da Copa do Mundo em particular já tem uma longa história. Dizem os que testemunharam a catástrofe brasileira de 1950 que a causa foi a disputa da eleição presidencial que, naquele mesmo ano, levaria Getúlio Vargas ao poder, início de uma das maiores crises políticas nacionais. Uma fraude evidente deu a Copa do Mundo à Argentina em 1978 em plena ditadura genocida do General Jorge Rafael Videla. Antes dele, o General Médici já havia explorado em seu favor a vitória brasileira no México, a qual quase havia comprometido. De uma maneira ou de outra, não houve nunca competição esportiva que não estivesse sujeita aos mais diversos interesses políticos e, sem dúvida, também aos econômicos.

Nada mais natural que o futebol ocupe um lugar de destaque nesta história de manipulação. Este é o esporte próprio da classe operária em quase todos os países do mundo. A Copa do Mundo de futebol é o maior evento esportivo e de entretenimento do planeta.

A jogada perfeita

Quando o governo do PT se empenhou, há cerca de quatro anos para trazer ao Brasil a maior competição esportiva do mundo em todos os tempos, tudo parecia não ser mais que a repetição de uma fórmula infalível. Todos ficam contentes, os torcedores brasileiros, que há anos gostariam de ver uma Copa no Brasil, as empreiteiras, os empresários de toda a área do turismo, comércio e indústria em geral.

Copa do Mundo em junho de 2014, eleições em outubro de 2014. Uma fórmula de comprovada eficácia criada e testada…. pela direita. A manipulação política da Copa do Mundo é a Copa do Mundo das manipulações políticas.

As experientes raposas políticas do PT cometeram, contudo, o erro de subestimar tanto a situação política como a capacidade para o cinismo da direita da burguesia que se opõe a elas e do próprio imperialismo. Quanto a este segundo fato, não seria a primeira vez, já que não foram capazes de avaliar corretamente o papel cumprido pelos juízes do STF no caso do mensalão.

A mesma direita que manipulou a Copa do Mundo de 1970 em seu favor, decidiu que iria impedir que o PT conseguisse os dividendos políticos da Copa em 2014.

O primeiro erro de Lula e do PT foi o de não contar com a suprema capacidade de cinismo da ala direita da burguesia e do imperialismo. Se em 1970 utilizaram a Copa para buscar dar prestígio ao regime genocida de Médici, em 2014 levantaram a humanitária e pretensamente politizada consideração de que os gastos não se justificavam em um país com tantos problemas como o Brasil e que o futebol é (pasmem) a “alienação do povo”.

Se o grande Henrique IV foi capaz de considerar cinicamente que “Paris vale bem uma missa”, deixando de lado, pelo poder, toda uma religião, por que os pigmeus políticos da direita não poderiam parafrasear, “Brasília vale várias Copas do Mundo”?

A realização da Copa do Mundo no Brasil, ainda mais se o Brasil for campeão, é uma ameaça de eliminação completa das possibilidades eleitorais dos partidos de direita ligados ao imperialismo como o PSDB, DEM etc.

Assim, esperaram que o governo federal, estados e prefeituras alocassem o dinheiro para o início das obras – afinal, nem só de política vive o homem, mas também de pão – e quando o dinheiro estava gasto e o calendário colocou as eleições presidenciais e estaduais na ordem do dia, começaram uma estridente campanha contra a “imoralidade” da Copa.

Diz a sabedoria popular que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Mas a política, mais que o deus da Bíblia, tem os seus próprios e misteriosos caminhos. Ela, na realidade, nunca trata da justiça em sua forma intemporal e metafísica.

O ataque contra a Copa do Mundo transformou-se no eixo central de defesa e de ataque da direita na sua luta pelo poder político no Brasil. Para o imperialismo, a questão central em vários países do mundo é a de acabar com o que chamam de “gastança populista”, ou seja, com os governos de pequenas concessões ao povo, depois da hecatombe neoliberal, e passar ao regime de “austeridade”, ou seja, governos de ainda maior esfolamento do povo e ainda maior gastança dos capitalistas. É isso o que explica o golpe na Ucrânia para que os bancos alemães e norte-americanos possam sugar todo o sangue do país. O mesmo ocorre na Venezuela, onde o petróleo está sendo usado para a “gastança populista” etc.

Uma campanha política muito peculiar: o ópio do povo

O grande problema técnico da campanha contra a Copa residia em como lançar uma campanha profundamente impopular no meio da maioria da população. Somente os costumeiros argumentos morais apresentados pelos defensores tradicionais de toda e qualquer farra do capital não seriam suficientes. Era preciso dar à campanha um caráter “popular”.

Para isso, lançou mão de uma das suas bases populares mais fieis: o baixo clero intelectual das classes médias. Naturalmente esnobe em relação ao povo, alimentado desde o berço pelos preconceitos morais abstratos dos pretensamente superiores, guiados pela imprensa capitalista e suas façanhas de falsificação e manipulação e sempre prontos a seguir uma opinião bien pensant do seu próprio meio, a qual é uma versão idealizada do interesse da classe completamente sem ideiais que são os capitalistas.

Esta camada das classes médias cultiva um preconceito antigo que diz que o futebol é um estigma da incultura e do atraso do povo brasileiro. Segundo pessoas que se acreditam iluminadas, toda a culpa dos problemas nacionais e das suas próprias existências de oprimidos com mentalidade de opressores, estaria na ignorância do povo. Houve uma época em que a burguesia se pôs a educar o povo como parte da sua tentativa de encaminhar o Brasil pela senda do progresso econômico capitalista. Esta ideia burguesa converteu-se com o passar do tempo no preconceito pequeno-burguês de que o povo deve ser recriminado pelas mazelas nacionais.

O futebol foi selecionado como principal alvo porque faz parte da cultura do povo, em particular da classe operária, não apenas no Brasil, mas em todos os países industrializados da Europa e da América Latina.

“O futebol é ópio do povo”, é a infeliz e incorretíssima paráfrase de Marx utilizada pelo baixo clero bien pensant. A religião é o ópio do povo, segundo Marx, porque promete, em oposição ao mundo real, desumano e intolerável, um paraíso ilusório, em oposição ao mundo real, assim como o ópio. A realização humana, impossibilitada neste mundo, é transferida para um outro mundo sobrenatural, ilusório e, assim, é abandonada neste mundo. A cultura do povo, sua música, suas atividades próprias não são um paraíso ilusório e não o retiram da realidade material do reino deste mundo para o reino das ilusões. A música, a dança, os esportes, as artes fazem parte da vida do povo e são perfeitamente compatíveis com a luta pelos seus interesses materiais e pelo socialismo. O preconceito que se esconde – mal – detrás desta teoria pretensamente marxista é o de que o divertimento do povo o leva para longe da luta política que essas classes médias consideram importantes porque o povo é manipulado pela burguesia por meio do futebol.

A prova de que se trata de um mero preconceito contra a classe laboriosa e o povo em geral está em que o entretenimento burguês e das classes médias não é colocado sob esta rubrica infamante de “ópio do povo”, apesar de toda a sua decadência. As classe médias têm direito aos seus shows de música, ao seu cinema, ao seu teatro, às suas festas, viagens e passeios, o povo não.

Outro fato que revela e comprova o preconceito contra o povo é a ideia da manipulação. Para o baixo clero bien pensant somente o povo é manipulado; ele, ao contrário, seria plenamente consciente de tudo. A realidade, infelizmente para esses esnobes, é exatamente o oposto. A manipulação é tanto maior e mais sofisticada com os pretensos intelectuais de classe média e até mesmo a burguesia. Todo o seu universo é manipulado.

Alguns sociólogos gostam de utilizar para os seus próprios objetivos o conceito marxista de “alienação”. Em algum lugar se deram conta de que este termo vem frequentemente associado ao termo “trabalho” e daí retiraram a vulgaríssima conclusão de que… apenas o trabalhador é alienado, porque o trabalho aliena.

Ocorre que toda a sociedade baseada no mercado, no capital e no trabalho assalariado é alienada pela própria natureza dessa sociedade. É baseada no fetichismo da mercadoria, do dinheiro, do Estado, como assinala Marx. Os “mais alienados”, ou seja, aqueles que são mais dominados pelas forças exteriores da sociedade, são os que se encontram no topo da pirâmide que é a sociedade de classes, os próprios capitalistas. O capitalista é a personificação da força do capital, é o capital em forma humana, o que lhe confere um caráter especial de alienação da sua essência humana em benefício do capital. Seus interesses coincidem com a sociedade tal como é. De fato, a alienação é tanto mais completa quanto mais se aproxima do topo da pirâmide social, que é o sentido da linha dinâmica da adesão à sociedade de alienação que é o capitalismo. A classe operária é levada, pela sua própria posição de classe, à luta revolucionária contra o capital, a qual é a única forma de atividade consciente na sociedade.

Outra peculiaridade destes raciocínios está em que o baixo clero intelectual bien pensant das classes médias é um feroz partidário do ópio em sentido não figurado. A sua ala esquerda abertamente, a sua ala direita, de maneira hipócrita. A defesa do uso de drogas é um paradoxo na boca dos que defendem que “o futebol é o ópio do povo” porque, para eles, o ópio tout court das classes médias não é ópio.

O que seria mais fácil de manipular do que os arrogantes ignorantes que acreditam dominar a arte da manipulação e os iluminados que conhecem todos os segredos hieráticos da alienação… dos outros?

Panem et circenses

A frase, tornada famosa em mais um equívoco histórico, é de Juvenal, poeta satírico da época de decadência de Roma no primeiro século da era cristã. Sua frase é citada normalmente como uma diatribe contra o povo pobre, manipulado pelos poderosos. No entanto, o seu sentido é muito diferente. Segundo ele, “(…) os romanos, que antes eram tão poderosos, tornaram-se escravos de prazeres corruptores e só precisam de pão e circo”. A leitura da frase mostra claramente que se trata de uma crítica à elite romana, lançada nos prazeres sensuais, um sinal inequívoco da decadência de Roma.

Dificilmente esta frase e a ideia que ela contém podem servir ao povo brasileiro que vive do trabalho, da dificuldade de ganhar o pão e de muito pouco divertimento. Revela, no entanto, o que dissemos acima acerca do esnobismo, do desprezo pelo povo. E mais, ela diz respeito às classes privilegiadas, ou seja, à burguesia e às classes médias, que condenam o povo, mas não abrem mão de todos os prazeres à sua disposição e que têm um verdadeiro culto de não trabalhar e de não abrir mão de nenhum dos prazeres de que pode usufruir.

O panem et circenses da sociedade capitalista moderna é o privilégio de determinadas camadas da população às custas do trabalho sacrificado da imensa e pobre classe trabalhadora, principalmente no Brasil, da mesma forma que os privilegiados em Roma montavam o seu poder sobre milhares de escravos. São os mesmos que se insurgem contra as vítimas do governo FHC e da sua política neoliberal porque recebem uma verdadeira esmola estatal chamada bolsa-família, chamando-os de vagabundos que não querem trabalhar.

“Não ia ter copa”

Bastou a direita mover a sua gigantesca máquina de desinformação para que os preconceitos tradicionais se atiçassem. Os primeiros a se empolgar foram aqueles grupos da esquerda pequeno-burguesa, tipicamente esnobe, bien pensant e baixo clero, como várias alas do Psol, o PSTU e outros apêndices menores destas organizações e soi disant anarquistas de várias penugens. Tais grupos professam, em nome do marxismo, uma concepção anarquista de que a luta fundamental não é a luta de classes, mas a luta contra o governo de plantão, uma teoria que os leva facilmente a se colocar reboque da ala mais importante da burguesia mundial, o imperialismo. Com tais noções apoiaram o golpe militar no Egito e o golpe “civil” na Ucrânia impulsionados pelo imperialismo.

O que se viu, a partir daí, foi um extraordinário e grotesco espetáculo.

“Não vai ter Copa”, gritaram, alegando os gastos multimilionários, sem se incomodar com o fato de que o gasto já havia sido feito e que a campanha estava atrasada em quatro anos.

“Sem direitos, não vai ter Copa”, acrescentaram, sem se dar conta de que com tais critérios, o slogan mais racional seria, “antes da revolução, não vai haver mais nada”.

“Queremos educação e saúde padrão FIFA”, gritaram os que, em todos os movimentos, são os primeiros a se opor às reivindicações “sectárias”, “ultra-esquerdistas” e “utópicas” dos movimentos.

Esta enorme confusão foi sendo esclarecida pela imprensa capitalista em um sentido muito definido: nas eleições de 2014, vote contra o governo, responsável por todos esses males.

O anarquismo dos anarquistas e o anarquismo dos outros

Para um partido operário, o centro de toda a luta política, que é uma luta de classes é a luta pelo poder político. Lênin assinalou que o problema central de toda revolução é a luta pelo poder. Esta é uma orientação acima de tudo positiva, não negativa, no sentido de que o problema central não é contra quem lutar, mas como avançar na luta pelo poder. A luta negativa contra o poder é uma concepção fundamental do anarquismo e alheia ao marxismo. Os partidos operários de orientação marxista subordinam a luta contra à luta pelo poder. Na Revolução Russa de 1917, os bolcheviques rejeitaram totalmente a palavra de ordem de “abaixo o governo provisório” por este motivo. E a sua palavra de ordem central foi a de “todo o poder ao sovietes”. Quando a ala direita da burguesia lançou-se em um golpe de Estado para derrubar Kerenski, os bolcheviques derrotaram o golpe e mantiveram Kerenski no poder porque assim criavam-se melhores condições para a tomada do poder pelos próprios bolcheviques como direção da classe operária.

A campanha contra a Copa é a antítese da política bolchevique. Ela não esclarece a classe operária, confunde. Ela não tem reivindicações que permitam organizar o movimento, baseia-se em uma miragem e um objetivo sem sentido e sem realismo: inviabilizar a Copa. Ela não é uma luta contra a burguesia, mas uma luta de uma parte da burguesia, sua ala direita, contra outra, sua ala esquerda.

Nessas condições, a única função política real, ou seja, (para evitar confusão) não imaginária, é auxiliar a direita na sua luta contra o governo do PT. A campanha contra a Copa é uma campanha eleitoral indireta para os candidatos da direita na eleição de 2014.

O álibi dos esquerdistas de classe média para esta sábia política é a invenção de que PT e a direita são não contrários, mas idênticos. Toda a pessoa ao menos cautelosa deve sempre estar prevenida contra esta fórmula banal porque, conforme assinalou Trótski, os gêmeos também podem ser inimigos. Um aspecto essencial da arte da política revolucionária consiste em compreender as contradições existentes entre os inimigos do proletariado e usá-las em favor da luta pelo poder socialista.

O exemplo clássico desta estultice bien pensant é, como é conhecido, o caso, com efeitos catastróficos, do stalinismo alemão na luta contra o nazismo.

Na década de 30, Stálin, os burocratas do Crêmlim e a esquerda pequeno-burguesa dirigente do Partido Comunista da Alemanha decidiram retomar uma velha teoria, já condenada por Marx, que dizia que o conjunto das classes e forças politicas não proletárias formavam uma “massa reacionária única”. Partindo desse princípio, consideraram todos os partidos como variantes e graus de fascismo, de Adolf Hitler aos dirigentes social-democratas. Como os social-democratas, agora denominados como “social-fascistas”, faziam parte do governo alemão trataram de mostrar que as organizações sindicais por eles dirigidas já não eram sindicatos operários e precisavam ser destruídos e substituídos por “sindicatos revolucionários”. Não bastassem estas sandices, os militantes do partido eram instruídos a se aliar aos nazistas para dispersar pela força as manifestações social-democratas.

A conclusão absolutamente lógica desta política era a de que não havia qualquer diferença se qualquer das frações da burguesia e da pequena-burguesia ocupassem o poder, de Hitler aos social-democratas. Essas ideias confusas explicam o fato de que a direção do PCA não tenha sequer esboçado uma reação quando Hitler assumiu o cargo de chanceler do Reich em 1933.

O restante da história é conhecido demais para que seja necessário insistir aqui.

O povo contra a Copa, um delírio

A direita estimulou todo o movimento de opinião contra a Copa sem se comprometer com o perigoso e impraticável “não vai ter Copa”, o qual, no entanto, apoiou usando a mão das esquerdas pequeno-burguesas para tirar a castanha do fogo.

À medida que a Copa se aproximava, a campanha da esquerda pequeno-burguesa tornava-se cada vez mais delirante. Acreditavam com a fé dos puros que o povo estava contra a Copa. Olhavam na cloaca da imprensa capitalista e viam refletida a imagem do povo. A opinião dos grandes capitalistas e da direita política transformara-se na opinião do povo.

Segundo esse delírio, não apenas o povo estava contra a realização da Copa do Mundo como, em função da rejeição à Copa, o país estava à beira da revolução.

Dificilmente alguém poderia conceber uma teoria mais extravagante do que esta: a revolução popular no Brasil iria começar porque o povo brasileiro não quer ver a Copa do Mundo de Futebol no seu próprio país.

A Copa começou, o país encheu-se de verde e amarelo como em todas as copas e a revolução popular para que não houvesse Copa desapareceu como uma miragem no calor do deserto, que só existe quando você está longe. Desmoralizadas por este fato, as mobilizações contra a Copa desapareceram e deram lugar a manifestações dos torcedores diante das vitórias do selecionado brasileiro.

Não podemos estranhar nesse sentido uma outra revelação feita por esta mesma esquerda pequeno-burguesa diante da agressão verbal do camarote vip feita contra a presidenta da República no primeiro jogo do Brasil, que pelas explicações dadas aos inesperado fenômeno, mostraram que acreditavam que toda a burguesia apoiava o governo do PT, que a direita estava com o PT e que todos apoiavam a Copa do Mundo. Sancta simplicitas!

Do “não vai ter Copa” ao “não vai ter hexa”

Terminada de maneira inglória a etapa do “não vai ter Copa”, a direita ajusta a sua política para sabotar a seleção brasileira, lançando a campanha “não vai ter hexa”.

As críticas chovem contra a seleção. Logo no primeiro jogo, contra a Croácia, que a equipe brasileira venceu com bastante facilidade, a grande imprensa capitalista destaca o pênalti em favor dos brasileiros sugerindo aquilo que é espalhado dos bastidores com bastante vigor: o governo brasileiro “comprou” a Copa do Mundo para o Brasil ser campeão. Na realidade, dando cobertura para o que vai acontecer em seguida, ou seja, os gravíssimos “erros” da arbitragem contra o Brasil como todo o País viu no jogo contra o Chile nas oitavas de final, onde o juiz, escandalosamente, deixou de dar um pênalti em favor do Brasil e anulou um gol legítimo, transformando o que poderia ser um jogo tranquilo em uma jornada excruciante.

No dia seguinte, a imprensa “brasileira” esconde completamente essa realidade e mais uma vez busca desmoralizar os esportistas nacionais. Todos os recursos são válidos: elogiar os adversários, espalhar rumores sobre as dificuldades e crise dos brasileiros etc.

O maior inimigo do time brasileiro é a imprensa nacional, alimentada na sua politicagem pela direita que quer frustrar quase 200 milhões de brasileiros que torcem pelo seu País para obter algum resultado eleitoral na sua oposição ao governo. Com isso, mostram o caráter antipopular da sua cruzada contra o futebol, a Copa, a seleção brasileira.

A esquerda pequeno-burguesa, caricatura da direita, acompanha essa orientação, mostrando o seu extraordinário rancor contra o povo brasileiro em geral. Poder-se-ia entender, de uma mente religiosa que acredita sinceramente que o futebol é um mal, que procurasse, com gentileza, com generosidade, esclarecer o povo desse suposto mal. Mas não se trata disso. É uma investida furiosa, rancorosa e sem qualquer simpatia contra os desejos do povo de ver o País ser campeão pela sexta vez. Comemoram as dificuldades brasileiras, fazem coro com as perfídias da direita, se alegram com o sofrimento do povo. Este fato mostra a inviabilidade desta esquerda pequeno-burguesa como força verdadeiramente popular, tanto quanto a sua cara metade da direita pequeno-burguesa.

Os limites da manipulação

Se a aposta em que o povo ficaria contra a Copa revelou-se um erro político de colossais proporções, o que podemos dizer da esperança de que a derrota do Brasil na Copa vá dar melhor resultado? A direita acredita que pode canalizar a insatisfação popular diante de uma eventual derrota do Brasil na Copa para a qual tem dado uma contribuição evidente.

Na realidade, toda a força desta manobra absolutamente desesperada reside na permanente covardia do PT. Viram a Copa desde o primeiro dia como uma manipulação e não conseguiram entender que o povo é favorável à Copa porque o futebol e a defesa da nacionalidade é uma manifestação política verdadeira e da sua própria natureza de povo oprimido. Ficaram na defensiva diante de uma campanha da imprensa capitalista que, como se pode ver claramente, não representava mais que uma minoria que buscava acuar através da truculência toda a população.

A reação popular diante da Copa, diante dos jogos e vitórias brasileiras é um resultado da própria consciência popular e o PT tem pouco ou nada a ver com isso.

Tudo é política, contrariando o senso comum daquelas pessoas socialmente apáticas, que não querem tomar em suas mãos o destino da sociedade em que vivem. A Copa é política. Há política do PT, há a política dos grandes negócios imperialistas agrupados na FIFA, há a política da direita nacional e do imperialismo, há a política da esquerda e da direita pequeno-burguesa, histericamente antipopular, e há a política da classe operária que instintivamente se opõe à direita, às maquinações nos bastidores da FIFA contra o Brasil e despreza a direita e a esquerda pequeno-burguesa. Esta parte imensa do povo quer a vitória do Brasil na Copa.

5 Respostas para “DIREITA BRASILEIRA: DO “NÃO VAI TER COPA” AO “NÃO VAI TER HEXA”

  1. Tenho um Dúvida. Rui você fala que os setores da esquerda são de pequeno-burgueses, o que parece estar correta, mais qual o setor operário que você trabalha? Qual o setor operário que o PCO dirige? O PT é um governo provisório que nem o Kerensky?

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  2. Brilhante análise. O autor coloca em pauta todos os grupos políticos envolvidos na polêmica questão sobre a Copa do Mundo no Brasil. Além de apontar os erros de ordem ideológicos ele dá um historicismo a sua análise buscando comparações em outros contextos sócio-políticos do passado. Acho que além da discussão política sobre a Copa deveríamos nos estender também ao aspecto cultural. O futebol além de político ele também faz parte da cultura do povo brasileiro.Parabéns , belo artigo. Sérgio Dente.

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  3. Eu concordo sim no futebol como questão cultural do povo. O futebol deve ser mantido sim. No entanto, não deixo de apresentar opinião contrária a Copa. Ser contra a Copa não é ser contra o futebol, é ser contra a interferência da Fifa e de interesses estrangeiros no Brasil. Eu acho importante lembrar que 250 mil foram desalojados pela construção dos estádios. Eu não vejo um legado da Copa, porque o dinheiro investido nos estádios e na infraestrutura poderia ter sido investido na própria infraestrutura, só que bem mais. O Não Vai Ter Copa atende aos interesses da burguesia? Mas a Copa atende aos interesses do povo? O evento atende, mas o legado atende a quem? Exatamente, a burguesia: as empreiteiras, os agentes da especulação imobiliária, etc. Acho que a Copa não ocorrer no Brasil atenderia bem mais aos interesses dos brasileiros, em geral.

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  4. SOMENTE PARABENS!!! EFUSIVOS E SSERENOS, AO MESMO TEMPO …

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  5. João Silva, acredito que a copa tem um conteúdo burguês ( que vc mencionou ) e um conteúdo popular. Não há como dissociar as duas coisas, do ponto de vista prático. Portanto, deve prevalecer o apoio à copa pelo seu conteúdo popular, em razão dos interesses que estão em jogo, tão bem destacados pelo Rui. Trata-se de uma ponderação, meu caro.

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