Golpismo: Imperialismo faz campanha pelo “não” em referendo na Bolívia

Como nos outros países em que o imperialismo está na ofensiva, setores de esquerda cedem à pressão e se juntam à campanha da direita

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No próximo dia 21 a Bolívia realizará um referendo popular para decidir se a Constituição será ou não mudada para que Evo Morales possa se candidatar mais uma vez ao cargo de presidente.

Morales está na presidência desde 2005, e acaba de iniciar seu terceiro mandato, o segundo depois da fundação da República Plurinacional da Bolívia. As pesquisas indicam uma vitória apertada do “sim”, apesar da grande popularidade de Morales.

Governo denuncia participação do imperialismo

No dia 15 de janeiro, segundo o jornal El Cambio, o presidente Evo Morales revelou que existem gravações que mostrariam a briga da direita local pelo dinheiro enviado dos EUA para a campanha do “não”. Segundo o presidente, o chefe da campanha do “não” seria Sánchez Berzaín, que fez parte do governo de Gonzalo Sánchez de Lozada, apelidado pela população “el Gringo”.

O governo de Lozada caiu depois da “guerra da água”, em 2002, uma revolta popular contra a privatização da água. Os protestos foram brutalmente reprimidos no início, deixando 40 mortos e centenas de feridos. Membros do governo fugiram para Miami, de onde atuam até hoje apoiando a direita boliviana com ajuda do imperialismo norte-americano. É de lá que Berzaín comanda a campanha do “não”, segundo a denúncia do governo. O ministro da Defesa, Reymi Ferreira, afirma que a campanha do “não” é parte de uma campanha internacional contra as esquerdas na Argentina, na Venezuela e na Bolívia.

Enquanto isso, setores da esquerda pequeno-burguesa apoiam a campanha da direita no referendo, chamando voto pelo não. É o caso do Partido Obrero Revolucionario boliviano (POR), por exemplo, que em um panfleto do último dia 29 defende que o “não” seria um “não das massas oprimidas” contra a “impostura de um governo que se diz anti-imperialista”.

O argumento é familiar e tem sido usado por setores de esquerda em toda a América do Sul: o partido de Evo Morales, MAS (Movimiento Al Socialismo), seria tão direitista quanto os partidos do imperialismo. Não haveria nenhuma contradição entre o governo nacionalista burguês com o imperialismo, e o MAS seria, inclusive, o “melhor defensor do princípio da propriedade privada”.

Assim, o POR faz campanha pelo voto da direita no referendo. E faz essa campanha em pleno avanço da direita apoiada pelo imperialismo em toda a região, impulsionando golpes e candidaturas da direita pró-imperialista em todo o continente. Não existe um “não das massas oprimidas” no referendo da reeleição boliviana, o “não” significa criar uma dificuldade eleitoral para o governo em 2019 para facilitar que a direita volte ao poder.

Por princípio, essa alteração na Constituição e a permanência de um presidente indefinidamente no cargo é uma medida antidemocrática. Mas a defesa dos princípios é uma coisa concreta. A tentativa de manter Morales no poder por meio do referendo é uma tentativa débil do governo de se defender do imperialismo, que está em uma ofensiva contra os governos nacionalistas burgueses para tentar derrubá-los em toda a região. Não se deve, no entanto, apoiar o “sim” no referendo por causa disso. Reeleger Evo Morales não é a solução para combater e derrotar a direita e o imperialismo. Muito menos fazer campanha junto com a direita pelo “não”. É isso, porém, que parte da esquerda levanta, misturando suas bandeiras indiscriminadamente com as da direita.

O chamado a votar pelo “não” no referendo precisa estar subordinado a uma luta intensa, para unificar a classe operária e os camponeses pobres da Bolívia no combate contra a direita golpista boliviana e o imperialismo.

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