Alemanha: quem quer derrubar Ângela Merkel?

O agravamento da crise dos refugiados na Europa pode levar ao fortalecimento da extrema-direita, diante de uma disputa dentro do próprio Imperialismo

Pegida-Cologne5

Com o avançar da crise de refugiados do Oriente Médio e Norte da África na Europa, deu-se início uma campanha que pede a saída da chanceler alemã, Angela Merkel (CDU, Democracia Cristã). A chefe de governo de direita defende a entrada de uma quantidade de imigrantes limitada, de acordo com o interesse da burguesia industrial do país, que almeja mão-de-obra barata. Há, no entanto, uma campanha exterior à Alemanha para a migração ao país e também a oposição da crescente extrema-direita xenófoba.

Está no cargo desde 2005 e é a pessoa mais importante dentro da União Europeia. Devido à sua política de abertura das fronteiras, em 2015, o país recebeu 1,1 milhão de refugiados, foi a maior quantidade da Europa. Para este ano, a expectativa é de que o número seja parecido ou ainda maior.

“Se a Europa fracassar no assunto dos refugiados, sua estreita relação com os direitos civis universais serão destruídos”, disse a chanceler alemã.

Campanha de imigração para a Alemanha

Apesar de o governo ter adotado uma política de abertura das fronteiras para refugiados e imigrantes em geral, esta posição não é fruto de uma política humanitária e nem parte apenas do governo. O objetivo do governo com esta abertura e da campanha em torno dela é a entrada de imigrantes para suprir a necessidade da indústria de mão-de-obra barata.

O presidente da Federação da Indústria Alemã (BDI, da sigla em alemão), Ulrich Grillo, afirmou na metade de 2015 que as empresas do país suportariam a entrada de 800 mil refugiados. A necessidade desta população trabalhadora se deve ao envelhecimento da população alemã, além do alto salário do trabalhador da zona do euro.

Prova de que não se trata de uma questão humanitária, ligada à Guerra Civil Síria, como divulga a imprensa é que a maior parte dos refugiados que vai para a Europa não é por razão da guerra, mas por questões econômicas. A devastação econômica dos países do Oriente Médio e do Norte da África, fruto da própria política imperialista na região é o grande impulsionador desta peregrinação.

Além do apoio do governo, grande parte da campanha a favor dos refugiados na Alemanha parte de fora da Europa. Segundo o site orientalreview.org a campanha feita no Twitter através dos EUA e Austrália tem o objetivo de atacar a condição social na Alemanha e a sua economia. Outra consequência disso seria o fortalecimento da extrema-direita xenófoba.

Um dos motivos para este ataque dos EUA a Alemanha é o recente distanciamento das duas potências. O governo americano está se opondo em diversos lugares a governos apoiados pelo governo russo. Na Ucrânia, um dos últimos casos, que resultou na queda do governo pró-russo e em uma guerra civil, a Alemanha apoiou a ação financiada pelos EUA, mas teve efeitos negativos na sua economia, que depende em parte do fornecimento de gás russo.

Estupros em Colônia: armação?

O crescimento da extrema-direita já é um fato na Alemanha, como tem ocorrido em todos os países imperialistas desde a crise de 2008. Ligada ao capital financeiro e movida por ideais nacionalistas, grande parte resquício do nazismo, esta ala ganhou um novo impulso com a crise migratória.

A extrema-direita é contra os refugiados e tem organizado protestos e ataques aos campos de refugiados no país. Apenas em 2015, foram registrados mais de 1.600 ataques contra estrangeiros na Alemanha.

Na virada do ano, um suposto ataque de milhares de refugiados a mulheres em Colônia serviu para pressionar o governo e impulsionar as manifestações contra os refugiados. Na manhã do dia 1º, duas mulheres deram queixa de estupro dentro de uma estação de metrô e em seguida cerca de 200 pessoas denunciaram abusos e assédio na festa de réveillon da cidade.

Segundo relato da jornalista canadense Marcia Adair, que trabalha e vive em Colônia, ela estava na estação do metrô em que o suposto ataque teria ocorrido, mas só ficou sabendo do fato após a divulgação nos noticiários.

“Eu estava sozinha na estação principal, depois da meia-noite, como muitas vezes eu fico, feliz por ter tido uma noite agradável assistindo fogos de artifício no Reno. Imagine minha surpresa, seis dias depois, ao descobrir que eu tinha estado a menos de 100 metros de uma gangue de estupradores itinerante sem perceber que alguma coisa estava errada”, relata a jornalista no portal canadense nationalpost.com. Adair ainda destaque que o que mais teme não são os supostos estupradores, mas o medo que a notícia está gerando na população do país.

Apesar do tamanho das denúncias, as informações sobre estes ataques são vagas e estranhamente não há sequer imagens que comprovem o ocorrido. A maior parte de vídeos e fotos vazada após a denúncia dos estupros é falsa, segundo investigação feita pelo portal france24.com.

Mesmo assim, a campanha na imprensa contra os refugiados árabes foi grande. O maior exemplo foi a charge contra os refugiados feito pelo jornal francês Charlie Abdo, que sofreu um ataque no ano passado. Na charge, o garoto de 3 anos Aylan Kurdi, que apareceu morto em uma praia na Turquia, após sua família tentar fugir de barco da Síria é retratado ao lado de homens perseguindo mulheres e questionando o que ele faria se tivesse crescido.

Um dos grupos de extrema-direita que teve grande destaque com manifestações após as notícias de Colônia foi PEGIDA (sigla em alemão para Europeus Patriotas Contra a Islamização do Ocidente) que se organiza há dois anos para atacar refugiados e estrangeiros. Foi esta crise também que abriu espaço para pedirem a renúncia da chanceler Angela Merkel.

Organizações de esquerda e humanitárias, que defendem os asilados, chegaram a fazer manifestações contrárias à campanha da extrema-direita. Em alguns casos, as manifestações foram consideravelmente maiores que dos xenófobos, mas o destaque na imprensa foi menor.

A campanha em torno do suposto ocorrido em Colônia levará a um endurecimento da legislação contra os refugiados e estrangeiros em geral, segundo compromisso já feito pelo parlamento alemão. Acusações de crimes que possam levar a ao menos um ano de detenção, poderão levar os estrangeiros a serem extraditados do país.

O endurecimento das leis de asilo e o cerco que pode ocorrer nas fronteiras da Alemanha terão como resultado fortalecimento da extrema-direita, assim como a possível queda de Merkel.

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