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Mostra reúne produções do fotógrafo José Oiticica Filho

Exposição acontece em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo

jose foto

Mostra reúne obras do fotógrafo, pintor e professor José Oiticica Filho. Em São Paulo a exposição inicia no dia 18 de fevereiro na Galeria Raquel Arnaud, no Rio de Janeiro na Galeria Índica e fica até dia 12 de março, e por fim em Fortaleza no Espaço Cultural Airton Queiroz que já está em cartaz e se mantém até dia primeiro de março.

Quem visitar as exposições, poderá conferir fotos das décadas de 1950 e 1960 que foi o período em que José mais utilizou a abstração geométrica e aderiu ao construtivismo, características que dominavam o meio artístico da época. A apresentação vai contar também com algumas obras de seu filho Hélio Oiticica e do artista visual Ivan Serpa junto com as suas.

Oiticica foi uma das principais personalidades da fotografia moderna no Brasil. Nascido no Rio de Janeiro no dia 28 de fevereiro de 1906, filho de José Rodrigues Leite Oiticica, professor, filólogo e editor do jornal anarquista Ação Direta. Teve mais sete irmãs.  Em sua juventude muda-se para Alagoas por ter sido acusado de participar de uma conspiração de uma insurreição operária no Rio, sendo seu pai senador da República teve prisão domiciliar concedida, lugar que permaneceu apenas um ano. Após isto chegou a formar-se em engenharia, no Rio. Inicia seu trabalho com fotografias na década de 1940, tornando-se sócio do Foto Clube Brasileiro.

José foi um dos mais influentes fotógrafos brasileiros, integrou diversas organizações de fotógrafos, como o Foto Clube Brasileiro, Associação Brasileira de Arte Fotográfica, e também o Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo. Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior sendo incluído na lista de melhores fotógrafos do mundo.

A verdadeira linguagem do cinema: “Os oito odiados” – A obra-prima de Tarantino

O oitavo filme de Quentin Tarantino supera o que vem sendo feito em Hollywood nos últimos anos

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O gênero faroeste, que fora o principal gênero do cinema norte-americano, andava, havia muito, fora de moda. Poucos filmes de foraoeste foram feitos nas três últimas décadas. Antigamente, até mesmo o cinema italiano – e os quadrinhos – produzia obras bastante interessantes a respeito do desbravamento e colonização do velho oeste americano.

Nos Estados Unidos, John Ford; na Itália, Sergio Leone. Seria agora, a vez de Tarantino? Levando em consideração o último filme dele, diríamos que sim. Para ressuscitar o gênero, era necessário que nada de novo fosse a ele acrescentado. Para recriar o gênero, era preciso que tudo fosse remodelado. O dilema estava entre ressuscitar o gênero e criar um gênero novo, derivado do antigo.

Tarantino fez a escolha certa: ressuscitou o gênero. Nesse oitavo filme do diretor, Os oito odiados, Tarantino trouxe de volta vários motivos dos filmes de faroeste: o caçador de recompensa, o carrasco, o xerife, o mexicano, o pistoleiro, o condenado e, sobretudo, o tiroteio.

Para que se ressuscite um gênero há muito esquecido é necessário que se apresente novidades, mostrando, com isso, que o gênero ainda tem possibilidades: coisas novas a dizer, temas a serem desenvolvidos, etc. Tentou-se fazer isso com o filme Os imperdoáveis. Mas, apesar de esse filme ter ganho o Oscar, pouco despertou o interesse para novas produções no gênero.

Tarantino procurou não apenas reviver o faroeste, como reviver o faroeste italiano. Seu filme começa como os de Sergio Leone: uma longa introdução, demorada, bonita e com a música de Ennio Moriconi. Uma imagem de um Cristo de madeira na neve: um arauto que já nos diz o que esperar do filme e o que esperar da trama.

Um terço do filme, uma hora de duração, passa-se em uma carruagem. Aqui, são apresentadas quatro pessoas. As outras quatro serão apresentadas depois, em uma hospedaria, onde todos se abrigam para enfrentar uma nevasca. Ali, passam-se as outras duas horas do filme. E, apesar de haver apenas dois cenários, o espectador não se sente, em momento algum, claustrofóbico; permanece, sempre, em tensão, a espera dos acontecimentos, acompanhando com atenção o desenvolvimento da trama.

E toda a trama se dá em torno de uma mulher, uma criminosa que está sendo levada a uma cidade para ser executada. E, isso, é tudo o que diremos sobre a trama, a qual recorre mais ao gênero policial, de investigação, do que ao gênero de faroeste.

A grande habilidade do diretor é saber filmar em pequenos espaços, sem que o espectador se importe com isso. Nenhum filme de Tarantino cansa; este, menos ainda.

Tarantino, como Woody Allen, preenche seus filmes com referências a outros e com referências a seus próprios filmes. Seu grande apego aos filmes B, à literatura de banca de jornal e aos gêneros menores faz com que ele se dedique ao faroeste, kung-fu, policial, sub-mundo, etc.; e também que recorra sempre ao humor negro, ao escatológico e à violência. Nesse sentido, os filmes de Tarantino são dedicados às pessoas mais humildes, aquelas que na época de decadência das grandes salas de cinema iam aos ciemas de bairros atrás de entretenimento barato: faroeste, kung-fu, e, posteriomente, o pornô.

Mas Os oito odiados procura explorar todas as possibiliddes do cinema: a direção de filmagem, a fotografia, a maquiagem e, mais do que tudo, a direção de atores. Um filme que se passa, durante três horas, em apenas dois ambientes necessita que os atores conduzam a trama. Tudo depende deles. E deles mais do que da fotografia e do próprio diretor, uma vez que cenário quase não há; iluminação e fotografia são apenas acessórios; e o diretor tem de deixar a coisa toda andar.

São de fato os atores que tornam a trama possível. Todos eles. Todos brilhantes. Mesmo o ator que interpreta o carrasco, sai-se muito bem imitando o ator austríaco dos dois filmes anteriores de Tarantino.

A personagem principal é representada por Samuel L. Jackson, presente em quase todos os filmes do diretor. Um escravo liberto, um negro alfabetizado que serve, no filme, como uma espécie de Sherlock Holmes.

Mas quem mais surpreendeu foi a atriz que interpretou a condenada: Jennifer Jason Lee. Ela sempre foi boa atriz, sempre competente. Mas, na compainha de grande atores e de um grande diretor, superou-se. E superou a todos.

O filme vale por muitas coisas. É um faroeste de tipo italiano: tenso e violento, digno de um Sergio Leone. Conta com uma trama muito bem escrita e desenvolvida, narrada mais pelos atores do que pelo próprio diretor. O resto é acessório, mas acessório preciso, usado porque era preciso ser usado. É cinema de primeira qualidade, pois tem uma grande história, contada com precisão, fazendo dos recursos que o cinema dispõe ferramentas para que ela seja bem contada.

Numa época em que o cinema vem lidando em massa com temas politicamente corretos; em que todo filme tem que ter uma cena de bullying  e uma consequente vigança; em que o cinema procura sempre encaixar uma cena de perseguição (quer de automóveis, quer de naves espaciais); em que o cinema é sempre a luta do bem contra o mal (com é que isso não cansa?), Os oito odiados, que recusa todos esses clichês inúteis, torna-se um dos melhores filmes dos últimos anos.