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Volpone – uma peça isabelina em cartaz

O teatro Mube Nova Cultural, em São Paulo, exibe a peça de Ben Johnson sobre a ganância

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Ben Johnson foi contemporâneo de Shakespeare. Escreveu inúmeras peças de teatro e Volpone talvez seja sua melhor peça. Se não, pelo menos a mais conhecida e a mais representada. Volpone é um rico cavalheiro que finge estar morrendo para enganar três pessoas que fingem agradá-lo com o propósito de herdar-lhe a fortuna.

Assim como Volpone, as personagens da peça têm nomes italianos de animais. Os espectadores da peça, no século XVII entendiam esses nomes como nomes italianos engraçados. Apenas quem conhecia a língua sabia o que havia por trás deles.

Como a peça trata da ganância, nada mais interessante do que retratar as personagens com nomes de animais predadores, como a raposa, o abutre, etc.

A diretora da peça ora em cartaz figurou as personagens com as máscaras da Commedia dell’Arte. Isso valeu-lhe uma crítica da Folha de S. Paulo. Mais uma vez o jornal soube mostrar, com maestria, a sua enorme arrogância. Como dono da verdade, procura destruir a encenação, fazendo chacota da ideia de fantasiar as personagens com roupas de animais.

Isso é sistemático no jornal. Seu quadro de medíocres intelectuais acham-se donos da verdade, talvez porque escrevam num jornal que se sente dono da verdade.

Mas a crítica parece ser mais direcionada ao próprio Ben Johnson do que à diretora da peça, Neyde Veneziano, a qual tratou logo de responder às críticas da Folha. E respondeu bem. Não sabemos por que razão o plumitivo disse que o público se sentiu infantilizado ao assistir à peça. E Veneziano também não, afinal como alguém poderia afirmar algo assim sem se dar ao trabalho de psicanalisar os espectadores.

Mas nada disso importa. O que importa é que é uma oportunidde rara de ver encenada no Brasil uma peça de Ben Johson, um magistral autor de teatro cuja obra foi eclipsada pela de Shakespeare e de Marlowe, seus contemporâneos.

A peça encontra-se em cartaz no teatro Mube Nova Cultural e os ingressos são de apenas R$5,00. No elenco, grandes atores, como Chico Carvalho (Volpone), Claudinei Brandão (Corbaccio), Dirceu de Carvalho (Bonário e Voltore), Eliana Rocha (Urraca), Fabio Espósito (Corvino), Fabíola Moraes (Célia e Serpina), Gabriel Miziara (Mosca), Guryva Portela (Soldado e Juiz).

Eram os deuses inocentes?

Afonso Teixeira

Estudo da revista Nature procura demonstrar que os crentes são mais honestos

A famigerada Folha de S. Paulo não perdeu tempo e tratou logo de replicar um “estudo” da revista Nature em que se procura provar que pessoas que acreditam em deuses vingativos e moralistas são mais honestas. O diário paulistano segue na rota de tornar-se uma publicação cada vez mais direitista; não apenas uma defensora de políticas neoliberais, mas também uma publicação moralista e de caráter semi-fascista.

Por que um interesse momentâneo em divulgar teses questionáveis, como essa da revista Nature?

O periódico britânico publicou ontem (10 de fevereiro) um estudo no qual nove especialistas concluem que a crença em um deus vingativo e moralista promove um comportamento mais socializável entre os crentes nesse mesmo deus e, consequentemente, a expansão desse comportamento.

O estudo é bastante estranho, pois pretende comprovar, por meio de dados estatísticos, algo que os antropólogos já sabiam desde sempre. O alastramento de uma crença em um deus sempre foi um instrumento de promoção da unidade nacional. Assim ocorreu com os hebreus e os povos que os rodeavam, como os cananeus. Assim foi com os árabes e com os primeiros cristãos.

O deus é a figura central da sociedade e é, por meio dele, que as leis são impostas. O deus era uma figura necessária para a constituição de uma sociedade, visto que era preciso estabelecer uma autoridade inquestionável para impor as leis, sem as quais a sociedade não poderia desenvolver-se ordenadamente.

A pesquisa divulgada pela revista Nature não traz novidade. Entretanto confunde-se nas conclusões, pois não é a crença em entidades sobrenaturais, vingativas e todo-poderosas que torna o indivíduo socializável. É, em vez disso, a necessidade de manutenção dessa sociabilidade que impõe a invenção de deus.

A revista Nature sempre foi considerada uma importante publicação científica; existe desde 1865 e é uma das publicações mais citadas no mundo acadêmico. Não obstante, cabe a pergunta: quem financia a revista? De onde ela obtém recursos?

Sabemos que uma publicação não se mantém simplesmente com a venda. É preciso publicidade, patrocínio e, muitas vezes, a colaboração de organismos públicos para a sobrevivência da publicação — como acontece com a revista Veja (e os diários Folha e Estado), que, graças às assinaturas feitas pelo governo estadual (PSDB) para todas as escolas e repartições públicas, conseguem sobreviver.

No caso das publicações científicas, o mecanismo é semelhante. É possível que alguma agência de fomento à pesquisa patrocine a publicação. O dinheiro poder vir de um fundo estatal ou de uma fundação, como acontece na maioria dos casos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, uma grande parte das agências de fomento à pesquisa é financiada pela Igreja. Isso é problemático, pois implica a interferência de um organismo tendencioso em relação ao universo científico. Quantas pesquisas sobre células-tronco não foram desfeitas por falta de verba ou, simplesmente, porque uma determinada universidade (que também é, em muitos casos, patrocinada pela Igreja) exigiu de seus cientistas que interrompessem a pesquisa ou se dedicassem a outra coisa?

O livro de Susan George, Culture in Chains, faz uma denúncia sobre isso. Susan George, uma socióloga franco-americana, relata uma série de interferências da direita conservadora norte-americana em diversos ramos da sociedade. É a igreja interferindo violentamente na educação infantil (pois procura monopolizar o setor de educação no lar, quer por meio de publicações, quer por meio das igrejas comunitárias); são os grupos religiosos agindo prontamente nos meios políticos do país (financiando campanhas e a educação de advogados que, um dia, poderão compor a Suprema Corte do país); são fundações e pesquisa que funcionam apenas como fachada para determinadas igrejas. E, além disso tudo, há também grupos como The American Israel Public Affairs Commitee (AIPAC) que atuam sistematicamente em campanhas políticas, de forma que nenhum candidato a cargos importantes nos Estados Unidos se elege sem pedir a bênção à entidade (inclusive o presidente).

A AIPAC também exerce pressão sistemática sobre as universidades, difamando qualquer professor que se demonstre partidário da causa palestina. Esses professores são acusados de antissemitas e execrados publicamente. É a mesma tática utilizada pela esquerdinha brasileira que, quando perde uma discussão, trata logo de taxar o adversário de machista.

A questão é: estaria algum desses organismos pautando matérias para a revista Nature? Ou, pelo menos, financiando a pesquisa que a revista publicou. Essa segunda hipótese não é apenas plausível, como muito provável. Afinal, a pesquisa foi feita por nove pesquisadores, e envolveu deslocamento às regiões mais remotas do planeta. Deve ter custado muito dinheiro.

No entanto, cabe ressaltar, mais vergonhoso do que esse pesquisa foi o destaque dado pela Folha para e matéria. O título da matéria “Estudo vê elo entre fé em Deus e caráter” não é exatamente o que o estudo diz. E o subtítulo, “Experimento aponta que pessoas que creem em entiddes oniscientes e moralistas tendem a ser mais honestas”, também não é correto. O estudo, na verdade, aponta para a socialização e não para a honestidade, que seria uma forma de socialização mais específica. Vale dizer, a Folha pretende ser mais moralista do que o próprio estudo e seus patrocinadores.

Jacques Rivette: cinema francês perde um dos “pais da Nouvelle Vague

Cineasta que foi o mais “misterioso” do principal movimento de cinema francês morreu aos 87 anos

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No último dia 29 de janeiro o cinema mundial, mas em especial o cinema francês perdeu Jacques Rivette, cinéfilo, crítico de cinema e cineasta que foi ao lado de Francois Truffaut e Jean Luc-Goddard um dos fundadores do movimento de cinema Nouvelle Vague. Rivette estava com 87 anos e ainda em atividade.

Do Quartier Latin à crítica de cinema

Jacques Rivette era amante do cinema desde jovem, em sua cidade natal, Rouen, ainda adolescente, ele fundou um cineclube. Ao final dos anos 1940, mudou-se para Paris para estudar na Sorbonne e passou a frequentar o Quartier Latin e o círculo de cinéfilos da cidade luz. Foi quando em 1950 fundou, juntamente com o então amigo, Eric Rohmer, a revista La Gazetta du Cinema. Em 1953 Rohmer e Rivette foram chamados a fazer parte da equipe de críticos da revista Cahiers du Cinéma. 10 anos depois Rivette se tornou editor chefe da revista que dirigiu até 1965.

Foi na redação da Cahiers que eles conheceriam François Truffaut e Jean Luc-Goddard e desta amizade surgiria, ainda na década de 1950 um dos mais importantes movimentos do cinema mundial e o principal do cinema francês, a Nouvelle Vague. A eles ainda se juntaria o cineasta e também crítico, Claude Chabrol.

As críticas produzidas por todos eles na Cahiers du Cinéma deixaram marca. Foram os críticos da revista que colocaram Alfred Hitchcock no patamar de filme de arte, em especial, François Truffaut. Já Rivette, amante de Jean Renoir e das comédias norte-americanas da era de ouro do cinema era admirador de Howard Hawks. Ele foi o primeiro a chamar este diretor de “gênio” destacava como genialidade a “evidência” dos filme de Hawks. Este grupo de críticos ficaram conhecidos como “hitchcocko-hawksianos”. Rivette também defendeu bastante nos textos o cinema de Fritz Lang, ainda na fase norte-americana. O cinema de Lang por sinal teve bastante influência sobre as produções cinematográficas de Rivette.

O início da Nouvelle Vague

Mesmo escrevendo para a revista, Rivette tinha muita vontade de fazer cinema. Seu início como cineasta foi em 1949 com o curta metragem “Aux Quatre Coins”, seguidos de “Quadrille” (1950) e “Le Coupe du Berger” (1956). Este último que foi rodado no apartamento de Chabrol é considerado como o ponto de partida da Nouvelle Vague.

O primeiro longa metragem veio dois anos depois, em 1958, com “Paris nos Pertence”, mas o filme só foi para as telas quatro anos depois. Neste filme já é possível identificar algumas das chamadas “obsessões” de Rivette em seus filmes, a estrutura teatral e labiríntica ou fantástica e a improvisação. Estas características fizeram com que o cineasta ficasse conhecido como o mais misterioso do movimento da Novelle Vague.

A censura do General De Gaulle

Em 1966 viria um dos filmes mais polêmicos de Rivette, a adaptação da obra de Denis Diderot, “A Religiosa”. O filme, mesmo antes de ficar pronto, foi proibido de ser exibido nos cinemas. O produtor, Georges de Beauregard, manteve as filmagens, mas o ministro da informação, Alain Peyrefitte, a mando de De Gaulle, proibiu a exibição.

O caso repercutiu nacionalmente o que gerou protestos da classe artística. Cerca de dois mil intelectuais assinaram um manifesto intitulado, “Libérez la Religieuse”, pedindo a liberação do filme e classificando a censura imposta como um retrocesso monárquico do regime. Os protestos chegaram aos sindicatos, realizadores e atores chamaram o governo de paternalista. A repercussão foi tanta que o Parlamento francês discutiu a censura ao filme e depois de muita pressão De Gaulle recuou e liberou o filme declarando “Não quero mais ouvir falar desta Religiosa , façam o que quiserem”.

A Religios”a teve sua estréia autorizada no começo de 1968, mas com restrição para menores de 18. Meses depois os estudantes tomariam Paris nos protestos daquele ano.

Foi no final da década de 1970 que Rivette teve sua fase mais excêntrica e digamos longa. Com L’Amour Fou ( 1967-1968) de quatro horas de duração e depois dois filmes intitulados Out One, “Noli me Tangere” e “Spectre” com mais de 12 horas de duração ao todo.

Depois seguiram-se “Celine e Julie Vão de Barco” de 1974, filme que teve relativo sucesso e “Duelle” e “Noroeste”, ambos de 1976 que foram verdadeiros fracassos de público o que afastou distribuidores e patrocinadores para outros projetos.

As musas de Rivette

Entre as atrizes que trabalharam com Jacques Rivette algumas ficaram marcadas como Jane Birkin, Sandrine Bonnaire, Emmanuelle Béart e Jeanne Balibar.

Nas décadas seguintes se destacam em sua produção “O Bando das Quatro” (1988), com Inês de Medeiros em um exercício de improvisação. “A Bela Intrigante” (1991) com Emanuelle Béart e Jane Birkin que levou o prêmio do Juri no Festival de Cannes, “Jeanne La Pucelle” (1994) com Sandrine Bonnaire interpretando Joana D’Arc e “Paris no Verão” (1995) com Jeanne Balibar.

Nos últimos anos Jacques Rivette, já septuagenário produziu ainda “Quem Sabe” (2001) da relação pessoal de atores de teatro, “Não Toque no Machado” (2007) e seu último filme em 2009, “36 Vues du Pic Saint-Loup” que conta como uma trupe de artistas de circenses tentam superar a morte do dono circo.

Vale a pena conferir o “mistério” dos filmes de Rivette em seus 30 filmes de sua carreira de pouco mais de 50 anos no cinema.

Revista Arte e Letra chega ao fim após sete anos em circulação

arteeletraApós se destacar pela publicação de contos inéditos, a revista curitibana Arte e Letra: Estórias, publica seu último número.

Idealizada pelos irmãos Frede e Thiago Tizzot, sócios da editora Arte e Letra, a revista, que tinha como objetivo publicar obras literárias pouco conhecidas ou inéditas no Brasil chega ao seu último número, 26, com a publicação “Z”.

A revista trimestral que, que circulava desde 2008, foi de “A” a “Z”, o que era o objetivo de seus idealizadores há algum tempo desde a metade do alfabeto, tendo em vista que o projeto tinha como um de seus principais objetivos não repetir autores, o que limitava o prazo de existência da mesma.

Alguns dos autores que fizeram parte das publicações foram: Edgar Allan Poe, Enrique Vila-Matas, Isaac Asimov, Ricardo Piglia, Luís Henrique Pellanda, Selva Almada, Almeida Faria, Marta Brunet, Pablo Besarón, Jens Smaerup Sorensen, Rogério Pereira, Leonardo Villa- Forte, Julie Fank e Tatiana Eiko, entre outros.

Além de ser uma revista de literatura, Arte e Letra: Estórias também valorizava o padrão gráfico, tendo em todas as publicações imagens de artistas plásticos, fotógrafos e ilustradores. O objetivo era apresentar artistas que não são ligados diretamente à literatura.

Outro fato a ser destacado é que alguns contos publicados na revista ganharam versão em livro, como “A mão na pena”, de Dalton Trevisan, edição artesanal que levou a editora a receber o prêmio da Biblioteca Nacional na categoria projeto gráfico. De acordo com Frede Tizzot: “Nesses anos de editora, observamos uma mudança em direção à valorização do livro como objeto. Foi a partir de pesquisas que fazíamos nesse sentido que surgiram os livros artesanais. É um trabalho demorado, leva cerca de um ano cada um. Com essa coleção, também ganhamos, no ano passado, um prêmio na Bienal Brasileira de Design Gráfico, no Rio.”

Mostra reúne mais de 200 obras de artistas contemporâneos

Exposição traz acervo de Sérgio Carvalho

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Está acontecendo no Centro Cultural Correios de São Paulo uma mostra que reúne obras de diversos artistas contemporâneos brasileiros.

As obras fazem parte do acervo do advogado e procurador curitibano Sergio Carvalho.

A exposição leva trabalhos de artistas como João Angelini, Rubens Mano, Paulo Meira etc.

A exposição estará disponível até o dia 27 de março e a entrada é gratuita.