Jacques Rivette: cinema francês perde um dos “pais da Nouvelle Vague

Cineasta que foi o mais “misterioso” do principal movimento de cinema francês morreu aos 87 anos

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No último dia 29 de janeiro o cinema mundial, mas em especial o cinema francês perdeu Jacques Rivette, cinéfilo, crítico de cinema e cineasta que foi ao lado de Francois Truffaut e Jean Luc-Goddard um dos fundadores do movimento de cinema Nouvelle Vague. Rivette estava com 87 anos e ainda em atividade.

Do Quartier Latin à crítica de cinema

Jacques Rivette era amante do cinema desde jovem, em sua cidade natal, Rouen, ainda adolescente, ele fundou um cineclube. Ao final dos anos 1940, mudou-se para Paris para estudar na Sorbonne e passou a frequentar o Quartier Latin e o círculo de cinéfilos da cidade luz. Foi quando em 1950 fundou, juntamente com o então amigo, Eric Rohmer, a revista La Gazetta du Cinema. Em 1953 Rohmer e Rivette foram chamados a fazer parte da equipe de críticos da revista Cahiers du Cinéma. 10 anos depois Rivette se tornou editor chefe da revista que dirigiu até 1965.

Foi na redação da Cahiers que eles conheceriam François Truffaut e Jean Luc-Goddard e desta amizade surgiria, ainda na década de 1950 um dos mais importantes movimentos do cinema mundial e o principal do cinema francês, a Nouvelle Vague. A eles ainda se juntaria o cineasta e também crítico, Claude Chabrol.

As críticas produzidas por todos eles na Cahiers du Cinéma deixaram marca. Foram os críticos da revista que colocaram Alfred Hitchcock no patamar de filme de arte, em especial, François Truffaut. Já Rivette, amante de Jean Renoir e das comédias norte-americanas da era de ouro do cinema era admirador de Howard Hawks. Ele foi o primeiro a chamar este diretor de “gênio” destacava como genialidade a “evidência” dos filme de Hawks. Este grupo de críticos ficaram conhecidos como “hitchcocko-hawksianos”. Rivette também defendeu bastante nos textos o cinema de Fritz Lang, ainda na fase norte-americana. O cinema de Lang por sinal teve bastante influência sobre as produções cinematográficas de Rivette.

O início da Nouvelle Vague

Mesmo escrevendo para a revista, Rivette tinha muita vontade de fazer cinema. Seu início como cineasta foi em 1949 com o curta metragem “Aux Quatre Coins”, seguidos de “Quadrille” (1950) e “Le Coupe du Berger” (1956). Este último que foi rodado no apartamento de Chabrol é considerado como o ponto de partida da Nouvelle Vague.

O primeiro longa metragem veio dois anos depois, em 1958, com “Paris nos Pertence”, mas o filme só foi para as telas quatro anos depois. Neste filme já é possível identificar algumas das chamadas “obsessões” de Rivette em seus filmes, a estrutura teatral e labiríntica ou fantástica e a improvisação. Estas características fizeram com que o cineasta ficasse conhecido como o mais misterioso do movimento da Novelle Vague.

A censura do General De Gaulle

Em 1966 viria um dos filmes mais polêmicos de Rivette, a adaptação da obra de Denis Diderot, “A Religiosa”. O filme, mesmo antes de ficar pronto, foi proibido de ser exibido nos cinemas. O produtor, Georges de Beauregard, manteve as filmagens, mas o ministro da informação, Alain Peyrefitte, a mando de De Gaulle, proibiu a exibição.

O caso repercutiu nacionalmente o que gerou protestos da classe artística. Cerca de dois mil intelectuais assinaram um manifesto intitulado, “Libérez la Religieuse”, pedindo a liberação do filme e classificando a censura imposta como um retrocesso monárquico do regime. Os protestos chegaram aos sindicatos, realizadores e atores chamaram o governo de paternalista. A repercussão foi tanta que o Parlamento francês discutiu a censura ao filme e depois de muita pressão De Gaulle recuou e liberou o filme declarando “Não quero mais ouvir falar desta Religiosa , façam o que quiserem”.

A Religios”a teve sua estréia autorizada no começo de 1968, mas com restrição para menores de 18. Meses depois os estudantes tomariam Paris nos protestos daquele ano.

Foi no final da década de 1970 que Rivette teve sua fase mais excêntrica e digamos longa. Com L’Amour Fou ( 1967-1968) de quatro horas de duração e depois dois filmes intitulados Out One, “Noli me Tangere” e “Spectre” com mais de 12 horas de duração ao todo.

Depois seguiram-se “Celine e Julie Vão de Barco” de 1974, filme que teve relativo sucesso e “Duelle” e “Noroeste”, ambos de 1976 que foram verdadeiros fracassos de público o que afastou distribuidores e patrocinadores para outros projetos.

As musas de Rivette

Entre as atrizes que trabalharam com Jacques Rivette algumas ficaram marcadas como Jane Birkin, Sandrine Bonnaire, Emmanuelle Béart e Jeanne Balibar.

Nas décadas seguintes se destacam em sua produção “O Bando das Quatro” (1988), com Inês de Medeiros em um exercício de improvisação. “A Bela Intrigante” (1991) com Emanuelle Béart e Jane Birkin que levou o prêmio do Juri no Festival de Cannes, “Jeanne La Pucelle” (1994) com Sandrine Bonnaire interpretando Joana D’Arc e “Paris no Verão” (1995) com Jeanne Balibar.

Nos últimos anos Jacques Rivette, já septuagenário produziu ainda “Quem Sabe” (2001) da relação pessoal de atores de teatro, “Não Toque no Machado” (2007) e seu último filme em 2009, “36 Vues du Pic Saint-Loup” que conta como uma trupe de artistas de circenses tentam superar a morte do dono circo.

Vale a pena conferir o “mistério” dos filmes de Rivette em seus 30 filmes de sua carreira de pouco mais de 50 anos no cinema.

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