Não à agressão imperialista

40176A tensão militar na Península da Coreia escalou aos níveis mais elevados desde o final da guerra de 1950-1953. O imperialismo norte-americano e o governo marionete da Coreia do Sul estão realizando as maiores manobras militares anuais dos últimos anos, batizadas de Key Resolve, envolvendo 10.000 soldados sul-coreanos e 3.500 norte-americanos. Estas manobras se somaram a outras que estavam em andamento desde o ano passado, Foal Eagle, com o claro objetivo de ensaiar uma invasão à Coreia do Norte usando armamento nuclear – estão envolvidos aviões B-52, capazes de carregarem armas nucleares, um portaviões, caça-bombardeiros F-22 Raptor, um destrutor capaz de interceptar mísseis, os B2 que têm lançado bombas falsas em localidades próximas à fronteira e há preparativos para aumentar as manobras neste mês a partir das ilhas fronteiriças do Mar Amarelo.

À nova escalada das provocações militares se somam o reforço das sanções econômicas e da campanha propagandística na imprensa burguesa em níveis de histeria não vistas desde o início da chamada “guerra ao terror” no início da década passada.

O governo da Coreia do Norte anulou o armistício de cessar fogo de 1953, cancelou as conversações para a desnuclearização da Península, eliminou a linha telefônica direta por meio da Cruz Vermelha, ratificou o estado de guerra e declarou que poderia atacar, de maneira preventiva, as bases norte-americanas no Pacífico, como a localizada na ilha de Guam. A entrada dos funcionários sul-coreanos no complexo industrial de Kaesong foi suspensa. Todas as instalações nucleares foram reativadas, inclusive o reator de Yongbyon, o principal do País, que tinha sido fechado em 2007.

A escalada belicista promovida pelo imperialismo

O imperialismo norte-americano é responsável pelo fato de não ter sido assinado um tratado de paz na Península da Coreia, desde o Armistício de 1953. Em flagrante violação à soberania norte-coreana, os imperialistas têm feito mais de 200 voos de reconhecimento anuais, crescentes ameaças militares e sabotagens econômicas que chegam ao sequestro de navios comerciais que importam grãos ou exportam carvão. A intensidade das provocações aumentou com George Bush Jr. na presidência dos EUA e de Jung Hong-won como primeiro ministro da Coreia do Sul, jogando no lixo os acordos com a administração Clinton, quando se tinha chegado perto do estabelecimento das relações comerciais e diplomáticas. A nova política passou a priorizar o controle direto do petróleo do Oriente Médio, como base para uma nova escalada da especulação financeira, e aumentou as agressões contra a Coreia do Norte.

A Coreia do Sul tem desenvolvido um programa nuclear secreto desde 1975, com o apoio dos EUA, apesar de ter assinado o tratado de não proliferação nuclear até 2000, e que pode ainda estar ativo.

As medidas adotadas pelo governo norte-coreano são basicamente defensivas, direcionadas a defender a soberania nacional perante a enorme superioridade militar das forças agressoras. O exército norte-coreano não dispõe da tecnologia necessária para guiar mísseis que possam atingir com sucesso o território dos EUA e, é possível, que também ainda não tenha desenvolvido a miniaturização suficiente para colocar numa cabeça dos mísseis de longo alcance uma tonelada de material nuclear. Em contrapartida, dispõe de um arsenal capaz de infligir enormes danos à Coreia do Sul, onde estão estacionados 30 mil soldados norte-americanos e ao Japão, onde estão estacionados 40 mil. A capacidade de autonomia de combustível dos tanques não passa dos 30 dias.

O foguete que foi lançado com êxito em dezembro colocou em órbita um satélite dentro do programa de desenvolvimento de satélites meteorológicos, de comunicação e de investigação científica. Da mesma maneira, a enorme dependência energética levou o País a desenvolver a geração de energia elétrica a partir das centrais nucleares. O teste nuclear subterrâneo realizado em fevereiro se seguiu aos testes realizados em 2006 e 2009 e 2012, e teve como principal objetivo dar uma resposta à escalada da agressividade militar nas regiões próximas fronteiras. Em 2010, manobras de menor envergadura levaram o exército a afundar uma corveta sul-coreana, após vários avisos por ter invadido e ter disparado foguetes contra o território.

A atual presidente da Coreia do Sul, Park Chung-hee, é filha do ditador que permaneceu no poder desde 1961 até 1973. Ela prometeu durante a campanha eleitoral retomar as negociações com a Coreia do Norte, mas acabou priorizando a política do imperialismo norte-americano na região que ao mesmo tempo lhe serve para desviar a atenção do aprofundamento da crise capitalista no País.

Uma luta do bem contra o mal?

A imprensa imperialista tem tentado apresentar a nova escalada militarista na região como uma luta do bem contra o mal, do mocinho imperialista contra o demônio comunista. Na realidade, não há nada disso.

O mundo contemporâneo se encontra dividido entre os países imperialistas e os países dominados pelo imperialismo. Por esse motivo, o dever dos revolucionários é defender os países atrasados, independentemente do regime, contra a agressão imperialista. Está na ordem do dia uma campanha internacional contra a agressão imperialista à Coreia do Norte.

O problema não é de ordem ideológica, mas econômica e política. A Coréia do Norte é um país atrasado e, apesar de não ser um país socialista como apregoam muitos, é um país onde foi expropriado o capital e, por esse motivo, pode ser considerado como um estado operário deformado. Em todo caso, trata-se de um país que se subtraiu parcialmente ao domínio do imperialismo sobre o mercado mundial.

Exatamente o mesmo debate acontece em relação a Cuba. Segundo setores da esquerda, como o PSTU, devido a Cuba não ser socialista não haveria a necessidade de defendê-la. O mesmo acontece em relação ao chavismo e aos demais regimes nacionalistas. A incompreensão teórica do problema é tão grande que o PSTU e vários outros grupos acabam ficando, de maneira recorrente, no campo da direita. Essa política representa uma traição à classe operária por posicionar-se do lado do inimigo número um da classe operária mundial, o imperialismo e isso a pretexto de combater uma burocracia operária ou o governo da burguesia nacional de países oprimidos pelo imperialismo. Até quando a sanguinária ditadura militar argentina do general Leopoldo Galtieri ocupou as Ilhas Malvinas, os revolucionários ficaram contra o imperialismo britânico no conflito. Este é o programa revolucionário do trotskismo.

O aumento da campanha da propaganda imperialista se deve a que os norte-coreanos reagiram às agressões, e por esse motivo foram transformados, pela propaganda imperialista, em agressores. A realidade é exatamente a oposta. De qualquer maneira e em qualquer circunstância, para os revolucionários isso não faria a mínima diferença. Toda guerra imperialista contra um país atrasado nunca pode ser defensiva. Mesmo se a Coreia do Norte tivesse começado um ataque, o que NÃO aconteceu, ela estaria se defendendo da ameaça imperialista. Na luta entre países opressores e países oprimidos, a luta defensiva está do lado dos países oprimidos.

A burocracia norte-coreana, dominada pelo exército, sempre buscou a assinatura de um tratado de paz com a Coreia do Sul e o imperialismo, o reconhecimento diplomático e o estabelecimento de relações comerciais, assim como a suspensão das sanções. Essa política de conciliação foi dominante a partir da década de 1990 com a derrubada da União Soviética e o aumento das reformas neoliberais na China. O País conta com apenas 18% do território agricultáveis e possui escassos recursos naturais o que tem levado às dificuldades para a autossuficiência em alimentos, apesar de ter desenvolvido uma indústria autárquica, principalmente na indústria pesada.

Na prática, trata-se da mesma política seguida pela maioria dos países nacionalistas que buscam acordos com o imperialismo para poder impor a própria política no País. O problema é que o aprofundamento das contradições nem sempre o permitem. Por outra parte, as agressões imperialistas normalmente têm conduzido ao fortalecimento da unidade nacional em torno aos nacionalistas ou à burocracia.

Quais são os objetivos imperialistas por trás da sabotagem do tratado de paz?

De acordo com o parágrafo 60 do Armistício de 27 de Julho de 1953, todas as tropas estrangeiras deveriam ter sido retiradas da Coreia. Imediatamente depois, em 8 de Agosto de 1953, os EUA assinaram o “Tratado de Defesa Mútua” com a Coreia do Sul, legalizando a presença militar norte-americana. Em 21 de junho de 1957, sabotaram o parágrafo 13 do Armistício que bania a introdução de planos operacionais, veículos armados, armas e munições na península coreana, por meio de outros países, introduzindo não somente um gigantesco arsenal bélico, mas mais de mil armas nucleares, transformando o País no maior arsenal nuclear do Extremo Oriente.

O imperialismo norte-americano tem usado o estado de guerra existente sob o Acordo de Armistício com o objetivo de manter e fortalecer a presença militar na região, incluindo as alianças com a Coreia do Sul, o Japão, a Austrália e outros países. As agressões levaram a frequentes conflitos militares de menor envergadura e tinham como objetivo justificar essa política, como os que aconteceram em Panmunjom e no Mar Oeste, incluindo o incidente da Ilha de Yonphyong. As derrotas no Afeganistão e no Iraque e a queda dos lucros do complexo industrial militar encorajam o aumento de um clima bélico na região para onde o Pentágono deslocou a metade do orçamento militar.

O aumento das sanções pelo Conselho de Segurança da ONU tem como objetivo asfixiar o regime da Coreia do Norte e avançar no controle da região contra as potências regionais, a China e a Rússia, e o imperialismo japonês.

Coreia do Norte: foco do acirramento das contradições em Ásia Pacífico

O aprofundamento da crise capitalista mundial tem levado ao acirramento das contradições do imperialismo com as potências regionais e com o Japão, o que acrescentou um potencial altamente explosivo no cenário internacional.

A vitória da direita, de lavada, nas eleições de dezembro foi promovida pelo impulso da ultradireita que marcou a pauta da campanha e saiu de zero deputados para 31. Como saída à crise galopante estão colocados o aumento dos ataques contra as massas, por meio de uma política de força, que seria promovida pelo ressurgimento do militarismo fascista, e uma política exterior abertamente belicista, que inclui o confronto aberto com a China, o desenvolvimento da bomba nuclear, a criação de um exército (hoje é um órgão de defesa) e, principalmente, a revitalização da indústria bélica que teria como clientes naturais os países da região. As multinacionais japonesas têm se expandido aceleradamente na região após o colapso capitalista de 2007-2008 e o desastre de Fucuxima, disputando mercados com as multinacionais norte-americanas.

Obviamente, essa política bate de frente com os interesses do imperialismo norte-americano e dos governos da China e da Rússia.

Os EUA tentam aplicar a qualquer custo a política elaborada em 2002, “full spectrum dominance”(domínio total do espectro, que implica no controle militar total de todas as regiões do mundo. A escalada da agressividade militar contra a Coreia do Norte, com o apoio do governo marionete da Coreia do Sul, visa conter o ascenso das potências regionais e do imperialismo japonês, protegendo as próprias posições e mercados que foram conquistados na Segunda Guerra Mundial.

A China e a Rússia estão armadas até os dentes e têm condições de infligir fortes danos em um enfrentamento militar com o imperialismo. Ao mesmo tempo, a desestabilização da região pode promover o desenvolvimento das tendências revolucionárias em centros operários importantes.

A estabilidade da Coreia do Norte, a desnuclearização da península coreana e a manutenção como uma zona tampão é de enorme importância estratégica para o governo chinês. Isso explica que tenha aderido aos pacotes de sanções aplicados pela ONU em 2006, em 2009, em 2012 e no mês passado em seguida aos novos testes nucleares, mas sem isso ter implicado na diminuição das relações comerciais.

Além do perigo do contágio está a questão de que se o País fosse anexado pela Coreia do Sul, ficaria frente a frente com o exército norte-americano. Principalmente por esses motivos, a China se tornou o maior fornecedor de alimentos e petróleo à Coreia do Norte à custa de um superávit comercial crescente que tem sido subsidiado. Segundo estimativas do Banco Mundial, desde o início de 1990, a China foi responsável por quase 80 % das importações de energia, além de grande parte dos bens de consumo e dos alimentos.

O potencial contágio da crise na Coreia do Norte

Em 1987, a Rússia eliminou os subsídios às exportações para a Coreia do Norte e, em 1990, eliminou o comércio baseado na troca de mercadorias. Em 1992, a China fez o mesmo provocando o aprofundamento da crise econômica no País, principalmente devido à dependência energética. A crise dos chamados Tigres Asiáticos impediu que as medidas de liberalização, o chamado “socialismo de mercado” inspirado no modelo chinês, adotadas pelo governo liderado por Kim Il-sung, decolassem devido a que os investimentos imperialistas foram concentrados na China. Entre 1990 e 2002, o PIB se reduziu em mais de 30%.

Em 2002, o governo decretou novas medidas que incluíram a liberalização de preços e salários, uma forte desvalorização da moeda local (won), o fim dos subsídios às empresas, e a formação de Zonas Econômicas Especiais, sem a necessidade de participação estatal de 50%, e da região turística do Monte Kumgang. Os salários não acompanharam os aumentos dos preços e a pobreza e as diferenças sociais aumentaram.

O complexo industrial de Kaesong entrou em operação em 2004, faturou US$ 470 milhões no ano passado e emprega 53 mil trabalhadores norte-coreanos que recebem, em conjunto, US$ 93 milhões. As empresas sulcoreanas, com as multinacionais imperialistas por trás, pagam um salário mínimo de US$ 60. A estimativa do principal arrendatário do complexo, a Hyundai é que a Coreia do Norte possa vir a receber em torno a US$ 1,4 bilhão por ano em impostos quando o complexo estiver funcionando de maneira integral.

Após o embargo norte-americano de 2006, em represália ao primeiro teste nuclear, aumentou a presença japonesa.

Em 2009, a população foi expropriada por meio da criação de novas cédulas que retiraram três zeros dowon, mas limitaram as trocas a 100 mil won (menos de US$ 40 no mercado paralelo). Os protestos levaram a aumentar o limite para 500 mil won em depósitos bancários 200 mil won em dinheiro.

Foi aberta uma Zona Especial na fronteira com a China e outra mais próxima ao Japão. Duas ilhas foram arrendadas a capitalistas chineses. Foi criado um banco de investimentos com capital nacional e estrangeiro.

A Coreia do Norte representa a ponta do iceberg da desestabilização de uma região de importância fundamental para o capitalismo mundial, Ásia Pacífico. A administração Clinton calculou que uma nova guerra na Península da Coreia custaria um milhão de mortos, dos quais em torno a 100 mil seriam norte-americanos. Os custos imediatos seriam de US$ 100 bilhões e os posteriores de pelo menos US$ 1 trilhão, e aumentariam se fossem atualizados.

O contágio provocado pela revolta das massas coreanas, que poderia ser detonado por uma guerra, tem o potencial de elevar as tendências revolucionárias em todos os principais países da região.

Diante desta situação, a classe operária mundial deve denunciar a agressão imperialista, desmascarar a cínica propaganda dos agressores e se mobilizar contra as ameaças de guerra do imperialismo contra a Coreia do Norte.

matéria do Diário Causa Operária de 4 de abril de 2013


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