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Prenúncio de tempestade

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Os eventos que ficaram conhecidos como “rolezinhos”, em que jovens da periferia marcam encontro em shoppings centers, têm se espalhado pelo país.

O início desse movimento não foi casual. Poucas semanas antes tinha havido pelo menos dois casos de repressão a jovens de periferia em shoppings. O mais marcante deles foi o do Shopping Vitória, no Espírito Santo. Jovens tentaram se refugiar no shopping após repressão policial a um baile funk que acontecia próximo dali. Não adiantou. Os lojistas se assustaram com o novo público e a polícia deteve todos, não sem antes humilhá-los.

Pouco depois os “rolezinhos” começaram a se proliferar. Os encontros, que já aconteciam há algum tempo, ganharam um volume inesperado. Um evento marcado para o shopping Itaquera, em São Paulo, reuniu milhares de jovens e foi reprimido brutalmente pela polícia. Após essa repressão, mais eventos foram marcados para diversos shoppings de São Paulo, que conseguiram liminares judiciais para impedir que eles acontecessem.

Mas como impedir o evento sem fechar o local? A solução encontrada pelos empresários foi fazer uma “triagem” das pessoas, selecionando quem estava apto a entrar ou não. Todos os que tivessem “cara de pobre”, e isso na maioria das vezes significa ser negro – seriam barrados.

A medida é inclusive inconstitucional, pois impede com base em critérios de raça, cor, classe social, o acesso de pessoas a estabelecimentos comerciais e local aberto ao público em geral.

Os “rolezinhos” acabaram, assim, revelando que o Estado brasileiro é profundamente racista, ao contrário dos ideólogos da democracia racial brasileira, mas principalmente, que sequer é uma democracia.

Esses acontecimentos só deram força ao “movimento”, que acabou se espalhando por outros estados, como Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, entre outros.

A imprensa capitalista em lugar de atacar os “rolezinhos”, tem procurado desviar do assunto principal e desvincular os mesmos da política.

“Especialistas” entrevistados pelo portal G1, pertencente às organizações Globo, afirmaram que ver os rolezinhos como manifestação política é “bobagem”. Eles seriam uma forma de manifestação social, cultural, uma demonstração do anseio para participar da “sociedade de consumo”, “não critica-la”, uma expressão da falta de opções de lazer oferecidos pelo governo ou mesmo apenas vontade de se divertir. Isso é o que, de uma maneira ou de outra, diz toda a imprensa capitalista.

Primeiramente, é preciso observar que eles não são acontecimentos isolados, mas que, pelo contrário, ocorreram depois de inúmeras manifestações da periferia no último período.

Nas manifestações de junho já havia uma participação dos jovens de periferia, mas elas se deram principalmente na região central da cidade de São Paulo e com ampla participação de universitários. Depois de junho, as manifestações começaram rapidamente a se espalhar para as periferias propriamente ditas. Passeatas para protestar contra a situação do transporte ou por moradia passaram a ser organizadas em bairros como Guaianazes, Capão Redondo e outros, diante dos quais o governo imediatamente cedeu.

Poucos meses depois as manifestações se tornaram mais radicais, com queima e apedrejamento de ônibus e bloqueio de rodovias. Duas delas ocorreram na zona Norte e se deram em protesto contra a polícia, que assassinou a sangue frio dois jovens de bairros da região. Nas duas ocasiões, que aconteceram com intervalo de uma semana, a população se rebelou.

Não podemos esquecer também da grande repercussão do caso Amarildo, que havia desaparecido após ser levado para uma UPP. Diante da pressão, policiais confessaram que o ajudante de pedreiro havia sido torturado e assassinado.

No final de novembro, houve o caso do shopping em Vitória e uma semana depois os “rolezinhos” começaram a ganhar maiores dimensões. Vale destacar ainda que, no meio disso, houve um protesto num bairro periférico de Campinas, onde policiais encapuzados promoveram uma chacina.

O fenômeno dos “rolezinhos” está, portanto, totalmente ligado não apenas às manifestações de junho, como a uma crescente mobilização das periferias.

O que tem despertado essas mobilizações é a violência policial, ou seja, a repressão estatal contra a população. A reação contra a polícia também vem sendo preparada há anos. A PM vem sendo chamada a agir com mais violência pelo menos desde 2007, se concentrando inicialmente nas manifestações estudantis, que despontaram a partir da ocupação da reitoria da USP aquele ano. Estudantes presos, acusados de formação de quadrilha, espancados. Mas a repressão logo foi atingindo outros setores: a desocupação violenta do Pinheirinho, da Cracolândia, entre outros. A revolta contra a polícia finalmente explodiu em junho de 2013, em especial com a brutal repressão do dia 13.

Tanto é assim que os rolezinhos dos jovens se espalhou de fato após a repressão policial no shopping Itaquera e com a série de decisões judiciais proibindo os eventos e propondo multa para quem descumprisse a resolução.

Consciente ou não, a expansão dos eventos foi uma resposta a essa situação.

Há muito tempo a polícia tortura e mata pessoas na periferia, assim como há muito tempo jovens negros e pobres são discriminados nos ambientes da burguesia e da pequena burguesia. Por que só agora a população está se levantando para protestar contra isso?

Impossível, diante desses fatos, encarar os rolezinhos como uma manifestação puramente cultural, que ganhou repercussão por acaso. Assim como também não é possível dizer que todas essas manifestações e levantes populares são fatos isolados.

A crise econômica que já começa a se manifestar no Brasil está elevando a temperatura da situação política. A juventude universitária foi a primeira a romper a barreira e lutar contra a verdadeira ditadura reinante no País, expressando um descontentamento geral da população. Logo foi seguida pela população trabalhadora desorganizada, nas periferias e mais à frente se expressará no movimento dos trabalhadores enquanto classe.

Os últimos acontecimentos só mostram a enorme amplitude da insatisfação popular e é isso que amedronta a burguesia, que, após a repressão promovida pelo governo do PSDB, está procurando colocar panos quentes sobre a situação, mostrando tolerância, simpatia, procurando direcionar o movimento e desvinculando totalmente da política.

Os capitalistas, o governo, todos aqueles que dominam o país, têm plena consciência da situação e do fato de que todos os acontecimentos até agora são apenas o prenúncio da tempestade. É por isso que o Congresso está discutindo a aprovação de uma lei antiterrorista e que o Ministério da Defesa publicou um documento que visa a legalizar a atuação das forças armadas como polícia, para “garantir a lei e a ordem”, ou seja, esmagar toda manifestação popular e operária. Eles estão se preparando para enfrentar o que vem pela frente. É chegada a hora dos trabalhadores também se prepararem.


Não há soberania nacional sem a derrota do imperialismo

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No dia 17 de janeiro completaram-se 53 anos do assassinato do líder nacionalista congolês Patrice Lumumba.

Mas, diferente dos outros aniversários de sua morte, agora é comprovado que partiu do próprio presidente norte-americano Eisenhower a ordem para mata-lo.

O fato veio a público com a divulgação do novo volume da história da diplomacia norte-americana, publicada pelo Departamento de Estado e para isso enviou ao país o agente da CIA Frank Carlucci.

Deposto apenas três meses após sua eleição, Lumumba foi levado por mercenários belgas e congoleses, torturado brutalmente por duas semanas e depois finalmente amarrado a uma árvore e fuzilado. Seu corpo foi então retalhado e mergulhado em ácido sulfúrico, para logo depois ser espalhado em seus diversos pedações por diferentes lugares.

A operação foi toda organizada pelos Estados Unidos, com a cooperação do Reino Unido e da Bélgica, que colonizou o país.

Eles começaram a financiar congoleses para o processo de derrubada do governo recém-eleito.

Lumumba chegou a pedir a intervenção da ONU, mas essa, evidentemente, somou-se à conspiração golpista.

Na última década, vimos ressurgir o fenômeno do nacionalismo burguês, em especial na América Latina. Ele atingiu seu auge nas décadas de 1940 e 1950, não só no continente, mas de certo modo todos os países atrasados do mundo, como Índia, Irã, Indonésia, entre outros.

O nacionalismo burguês que surge nesses países é essencialmente uma expressão da necessidade de se libertar da opressão imperialista e possibilitar o desenvolvimento capitalista represado.

No entanto, os governos nacionalistas, devido ao seu caráter burguês, não têm condições de romper de fato com o imperialismo e, portanto, não conseguem levar a cabo a tarefa de libertar o país.

A encruzilhada está em que para derrotar a dominação imperialista, é indispensável a mobilização e o armamento dos trabalhadores, o que conflita (e assusta) totalmente com os interesses, burgueses, desses governos. Hoje há uma enorme campanha na imprensa contra todos os governos desse tipo. O chavismo na Venezuela, Rafael Correa, no Equador, Evo Morales, na Bolívia, Cristina Kirchner na Argentina e os próprios governos petistas no Brasil.

Não é incomum chamarem a esses governantes de ditadores e usar uma suposta falta de democracia, bem como a corrupção, para tentar derrubar esses governos, manobra bem sucedida no Paraguai e em Honduras.

Essa campanha é orquestrada diretamente pelo Departamento de Estado norte-americano para repercutir na imprensa capitalista, subserviente aos seus interesses, de cada um desses países.

Como no caso de Lumumba e dos inúmeros golpes militares que tiveram lugar na América Latina, a intenção de tirar esses governos do caminho não ficará apenas no discurso. A tendência diante do ressurgimento e fortalecimento desses governos é a derrubada violenta dos mesmos por meio de golpes de estado. Diante desses golpes, o nacionalismo burguês se revelou em todas as situações, completamente impotente. Por isso, os trabalhadores devem se organizar para derrotar por meio de suas próprias forças o avanço do imperialismo sobre o país, que se dá por meio de todo uma ala da burguesia que é completamente submissa a seus interesses.

 

O quarto mandato de George W. Bush?

 Mais uma vez, o público se vê confrontado pela denúncia de que o governo norte-americano teria ordenado o grampo das linhas de milhões de clientes de uma operadora de telefonia.

A operadora de telefonia Verizon recebeu ordens da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) para que entregasse as gravações de milhares de usuários, além de fornecer relatórios diários de todas as ligações de milhões de clientes entre 25 de abril e 19 de julho deste ano. A Casa Branca confirmou.

Não teria parado por aí, no entanto. A denúncia foi acompanhada da revelação de que os dados de usuários do Google, Facebook, Microsoft, Yahoo, Skype e YouTube foram acessados pela NSA. Obama deu continuidade e aprofundou o uso da obtenção compulsória de dados, iniciada em 2007 com a Microsoft por George W. Bush.

Com a obtenção das informações dos usuários da internet de empresas como essas, cujo alcance e predominância no uso da rede mundial de computadores chegam à quase totalidade dos usuários, ninguém que esteja conectado à rede está a salvo da espionagem do governo norte-americano. Não só nos EUA, mas no mundo inteiro.

Procuraram amenizar. Um alto funcionário da Casa Branca, sob anonimato, vazou à imprensa norte-americana que as informações coletadas a partir dos registros telefônicos não revelam o conteúdo das chamadas nem o nome dos assinantes, apenas os números de telefone e a duração das chamadas.

A justificativa do governo do Partido Democrata é a mesma dos Republicanos, quando confrontados pelas críticas sobre o uso da Lei Patriótica: “é uma ferramenta muito importante para proteger o país de ameaças terroristas”.

Barack Obama

Partiot Act, a chamada “Lei Patriótica”, dá ao governo dos EUA poderes supraconstitucionais para quebrar o sigilo telefônico, invadir a privacidade e suspender os direitos democráticos de cidadãos e residentes nos EUA, como o habeas corpus e a realização de um julgamento com amplo direito a defesa. Apoiando-se nas prerrogativas lançadas por George W. Bush em 2001, quando arrancou a aprovação desta lei do Congresso norte-americano, Obama tem levado à frente aquilo que já não era mais possível de ser feito por um Republicano.

O mesmo vale para Guantánamo, o campo de concentração norte-americano em Cuba. A primeira promessa de Obama ao assumir era fechar a prisão. Não a cumpriu, pelo contrário. A denúncia recentemente publicada nestas páginas é de que prisioneiros que aí estão fizeram mais de 100 dias de greve de fome, para exigir sua soltura, já aprovada em instâncias judiciais mas descumprida por veto presidencial. Não só os manteve presos, como sob seus auspícios alguns dos que estavam em greve de fome foram forçados a se alimentar em verdadeiras sessões de tortura.

Voltando aos grampos. Em 2005, o jornal The New York Times revelou que o governo Bush fez o mesmo que Obama e forçou seu acesso às gravações de ligações internacionais dos clientes da operadora AT&T.

As inevitáveis ações judiciais de cidadãos comuns contra a operadora foram barradas com uma canetada. Uma lei aprovada no Congresso anistiou as companhias telefônicas de qualquer responsabilidade por terem revelado dados de seus usuários a pedido do governo. Novamente, a “segurança nacional” foi invocada para dar legitimidade ao ato de invasão e espionagem do governo sobre seus cidadãos. Os processos foram arquivados em 2008.

Pesam ainda sobre Obama o reconhecimento público feito em maio de que seu governo teria grampeado os telefones da agência de notícias Associated Press para, segundo o presidente, “evitar que soldados norte-americanos morressem em um ataque terrorista no Iêmen”.

Outra denúncia, confirmada tacitamente pela “licença administrativa” do chefe da Receita Federal norte-americana, Lois Lerner, é a de que o governo teria ordenado ao órgão fiscal que monitorasse as movimentações financeiras dos membros do Tea Party, a facção ultraconservadora do Partido Republicano. Estariam os advogados da “guerra ao terror” implicados

Ordens confidenciais cumpridas pelo Judiciário. Espionagem sobre os cidadãos do seu próprio país. A integração permanente entre o Executivo e a ação da Polícia Federal norte-americana (o FBI), e das agências de arapongagem (o SNI, velho conhecido dos brasileiros, se divide em múltiplos departamentos na terra do Tio Sam, como a CIA, a NSA etc.). O Estado defendido com unhas e dentes por ideólogos imperialistas, a imprensa cartelizada e logicamente por seus porta-vozes oficiais como sendo o “mais democrático do planeta” descortina-se como um estado-policial, ainda mais temível que as caricaturas presentes nas obras de diversos escritores no século XX. E seu “comandante-em-chefe”, o Democrata Obama, o homem do diálogo e da conciliação, a “mudança” encarnada, revela-se como a continuidade do governo da ala direita do Partido Republicano, trabalhando para dar uma forma mais palatável à obra inacabada de Bush e companhia.

 

Publicado no Diário Causa Operária Online, de sábado, 7 de junho de 2013

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Dilma envia Força Nacional de Segurança contra índios

Mato Grosso do Sul
Governo quer reprimir as ocupações de terra pelos índios. Um índio foi morto após ter sido baleado por policiais durante a reintegração de posse de uma das fazendas ocupadas

 Índios rasgam documento com a decisão da juíza pela reintegração de posse da fazenda

O governo federal decidiu na última terça-feira, dia 3, enviar tropas da Força Nacional de Segurança para a região de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, onde fazendeiros acionaram a polícia contra índios para uma ação de reintegração de posse na fazenda Buriti. A decisão é de uma covardia sem tamanho. Os índios são totalmente indefesos diante da Polícia, que dirá da Força Nacional de Segurança, que é acionada para conter greves de policiais civis e militares.

A juíza federal Raquel Domingues Amaral tinha determinado o prazo de 48 horas para que os índios saíssem da fazenda. Os índios rasgaram a notificação da Justiça. A Justiça Federal então anulou a liminar da juíza, para evitar a desmoralização do tribunal de Justiça do estado, depois dos índios mostrarem que não se importavam com a decisão tomada.

Ao contrário do que ocorrem com outros movimentos sociais, a Justiça Federal interveio porque percebeu que os índios não iam cumprir a decisão da juíza e estão dispostos a morrer por suas terras. Quando ocorre com outros movimentos sociais, a imprensa capitalista é a primeira a condenar o não cumprimento de uma ordem de um juiz, que sempre age a favor dos poderosos.

A Justiça Federal então estabeleceu um prazo para que União , Funai e Ministério Público Federal se manifestem sobre o caso.

No mesmo dia, o índio Oziel Gabriel, de 35 anos, foi baleado por um policial quando estava na área da Fazenda de São Sebastião. Seu primo, Josiel Gabriel Alvez, de 34 anos, foi baleado nas costas e outros dois índios que estavam com Oziel no momento que foi morto estão desaparecidos.

Não sendo suficiente a polícia para reprimir os índios, Dilma enviou 110 homens da Força Nacional. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu ainda à Polícia Federal que discutisse com o secretário estadual de Segurança Pública a possibilidade de elevar o contingente de policiais no local.

Cardozo autorizou a ação da Polícia Federal de reintegração de posse da fazenda, o que causou a morte do índio.

Os índios terena reivindicam a posse de 17,3 mil hectares de terra que estão ocupados por fazendas. Essas terras já eram ocupadas pelos índios quando foram tituladas a fazendeiros pelo governo federal.

Os índios organizaram novas ocupações de fazendas no Mato Grosso do Sul e ocuparam a sede do PT em Curitiba, em protesto pela morte de Oziel.

 

Publicado no Diário Causa Operária Online, de domingo, 9 de junho de 2013

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Bradley Manning: preso político do imperialismo norte-americano

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Manning foi o responsável pelo vazamento de milhares de documentos secretos sobre a guerra do Iraque e do Afeganistão que foram publicados no site Wikileaks. Isso ele mesmo admitiu.

Mas se isso é crime, de que tipo de crime se trata?

Esse único fato, que viola normas militares e tantas outras, poderia ter rendido ao soldado 20 anos de prisão. Mas o governo norte-americano quer mais: quer acusá-lo de “conluio com o inimigo” e condená-lo à prisão perpétua.

Mais que uma condenação por seus “crimes”, o governo quer uma condenação moral de Manning.

Se de fato for o responsável pelo vazamento, o soldado é, em realidade, um verdadeiro herói dos tempos modernos. Arriscou sua vida e sua liberdade para expor a brutalidade do exército norte-americano, ou seja, por um problema de consciência.

Assim, deu um presente à população norte-americana e ao mundo: a revelação das atrocidades de uma guerra de expoliação conduzida pelos Estados Unidos; uma guerra repudiada pelo mundo inteiro.

Sem nenhuma legitimidade para conduzir a invasão e ocupação dos países do Oriente Médio, o governo do então presidente George W. Bush reforçou a campanha “contra o terror”, na tentativa de encontrar uma boa justificativa para a atrocidade imperialista.

O “terrorismo” é um bom álibi moral. Não se trataria de mandar soldados invadirem um país para matar e morrer em defesa do lucro das empresas de petróleo. Não: se trataria de salvar o mundo do “terror” e estabelecer a “democracia” nos países “incivilizados”. Uma farsa completa.

A farsa foi justamente exposta por Manning, ao divulgar os documentos no Wikileaks. Esse é o motivo da condenação de Bradley Manning. Para ser inocentado, Manning terá que provar que não sabia que os documentos poderiam parar nas mãos dos “inimigos”. Na realidade, o correto seria a acusação mostrar quais os danos causados pela publicação dos documentos. Tendo por base o que foi noticiado pela imprensa norte-americana, o prejuízo teria sido… nenhum.

Vale a pena ressaltar que nessa guerra não há “um inimigo” no sentido em que se quer dar à palavra. Nem é uma guerra no verdadeiro sentido do termo. Diferentemente da Segunda guerra mundial por exemplo, onde os exércitos aliados se confrontavam com os exércitos do eixo, ou seja, onde de fato se enfrentava um país contra o outro, o que existe nesse caso é o país com maior poderio bélico do mundo invadindo um país atrasado, que não teve sequer condições de resistir. O “inimigo” é a população iraquiana e afegã e os tão falados “terroristas” não passam de grupos guerrilheiros muito mal armados que resistem à invasão do seu país, algo totalmente legítimo.

Manning já ficou preso mais de 100 dias sem julgamento e sofreu maus tratos por parte dos militares: ficou em celas isoladas e teve roupas e óculos confiscados.

Mais de um milhão de pessoas assinaram petições para acabar com o isolamento do soldado e estão sendo organizados protestos em frente o tribunal onde ocorre o julgamento pedindo liberdade para ele.

Quando o governo acusa de Mannning de ter “ajudado o inimigo”, que na realidade esconder que o maior inimigo, o que deve permanecer iludido e desinformado é em primeiro lugar a própria população norte-americana e, em segundo lugar, o resto da população mundial. O verdadeiro crime de Manning, do ponto de vista do imperialismo, foi ter revelado a verdade sobre a invasão dos países do Oriente Médio e a farsa da “guerra ao terror”.

Editorial do Diário Causa Operária Online de 5 de junho de 2013