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SAIU O JORNAL CAUSA OPERÁRIA Nº 810

Jornal Causa Operária nº 810, de 30 de agosto a 5 de setembro de 2014.
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ASSISTA AO VÍDEO DA PALESTRA SOBRE A FAIXA DE GAZA

“O HAMAS DEVE SER APOIADO INCONDICIONALMENTE”

SEGUNDA PARTE
Leia aqui a segunda parte da transcrição da palestra apresentada pelo companheiro Rui Costa Pimenta, candidato presidencial pelo PCO, sobre a luta que se trava neste momento na Palestina, e a posição dos revolucionários diante do ataque de Israel contra o Hamas e a Faixa de Gaza

Nós vimos debates no Brasil em que há setores que falam que o Hamas não pode ser apoiado. Me chamou atenção um comentário que nas redes sociais em que a pessoa fala, se referindo às matérias que saíram na imprensa do PCO: “se você apóia ao Hamas, então tem que apoiar igreja evangélica aqui no Brasil. “Vamos esclarecer: Se uma igreja evangélica pegar em armas contra o imperialismo, para expulsar o imperialismo no Brasil, nós apoiaremos essa igreja evangélica que está de armas na mão na luta contra o imperialismo. O problema para nós é que as igrejas evangélicas não estão na luta contra o imperialismo, por isso não vamos apoiar. Não é um problema da ideologia. Nós apoiamos a luta do governo do Irã contra o imperialismo, e o governo do Irã é de tipo religioso; nós apoiamos a luta do nacionalismo burguês da Venezuela contra o Imperialismo, e nós somos um partido operário que luta contra a burguesia em todos os lugares; por isso nós temos que apoiar o Hamas. As pessoas se confundem. Se o Hamas é um grupo religioso, não tem a menor importância. Se o Hamas é um grupo que não reconhece os direitos das mulheres, dos homossexuais e outros direitos que eles não reconhecem mesmo, não tem a menor importância. Não se trata absolutamente disso. Nós vamos explicar mais detalhadamente o porquê desse apoio nosso ao Hamas de maneira tão incondicional.

A outra questão é justamente a posição da esquerda pequeno-burguesa nacional que é quase homogênea, do PT ao Psol e PSTU, passando por outros grupos; é uma posição de tipo humanitária: “não mate os coitados dos palestinos”. Tudo bem é uma posição. Nós também não somos a favor de que matem os palestinos, logicamente, mas é uma posição burguesa ultra-moderada. Não é uma posição revolucionária e nesse sentido é ineficaz. O PT, que muita gente no Brasil considera de direita, chamou o embaixador para consulta sobre o massacre. Foi um dos pouquíssimos governos que tomou qualquer medida prática. O que mostra que ele é um governo de esquerda ultra-moderado e não um governo de direita. Governo de direita apoia Israel. Agora, embora tenha causado alguma repercussão, é o mínimo do mínimo que alguém possa fazer. Temos então a ala radical da mesma política que propõe o rompimento das relações diplomáticas com Israel. Não só chamar o embaixador, nem tirar uma nota contra Israel, mas romper relações. Tudo bem. Não temos nada contra isso, mas está longe de ser uma posição revolucionária principalmente se este for o centro da posição. Houve posições também de que o Brasil deveria propor ao Mercosul romper relações com Israel. Outros falam em romper relações militares. Quer dizer, tudo no âmbito da diplomacia internacional. Tudo bem, seria importante até certo ponto, mas isso é insuficiente. Basta ver o que outro governo que está muito longe de ser um governo revolucionário, o governo do Irã, declarou: é preciso ajudar a Palestina de maneira prática e mandar armas para o Hamas lutar contra o governo de Israel. A pressão internacional logicamente é uma política, mas esta deve estar subordinada a um apoio incondicional à resistência armada Palestina. Só a revolução Palestina pode derrotar Israel. Nenhuma diplomacia vai derrotar Israel. Se existe algum poder na face da terra capaz de derrotar Israel é a revolução Palestina é a revolução Árabe. E esta deve ser a nossa posição estratégica fundamental. A posição da esquerda é democrática num sentido muito moderado, mas não é revolucionária. No Brasil temos que mostrar aos trabalhadores e ao povo que os palestinos estão lutando contra nosso inimigo principal. E que há uma solidariedade absoluta entre a luta dos palestinos e a luta dos brasileiros. Não que a gente esteja fazendo filantropia, como se fôssemos da Cruz Vermelha, ou instituições da ONU, para defender uns coitados que estão sendo esmagados pela agressão israelense. É preciso mais. É preciso uma posição ativa, revolucionária, de mobilização contra o imperialismo para derrotar a ofensiva israelense. Nesse sentido, a maior contribuição que a classe operária brasileira pode dar é a luta contra o imperialismo no Brasil. É a mobilização, é a compreensão de que entre o que os palestinos estão fazendo e o que nós queremos fazer aqui há uma ligação indissolúvel.

Bom, uma quinta questão. Qual o sentido social da nossa posição? Aqui temos que estabelecer alguns fatos fundamentais: Israel é um enclave imperialista no Oriente Médio. Há discussões, que têm características acadêmicas, sobre se os judeus teriam direito ao território da Palestina, Jerusalém, que é a terra da Bíblia… Isso não tem a menor importância. Não tem nada a ver com a questão. O que tem a ver é que com a constituição de uma sociedade judaica, religiosa, na Palestina, o imperialismo conseguiu uma cabeça de ponte no território dos países árabes. O que é usado como um enclave. Uma espécie de cão de guarda feroz contra os árabes em geral. Esse é o x do problema. A pretexto de se defender, ou do que aconteceu na segunda Guerra Mundial, Israel atua como um verdadeiro cachorro treinado para atacar a população local. Nesse sentido é preciso defender uma posição do Hamas que a imprensa criticou escandalizada: a destruição do Estado de Israel. Eles [a imprensa capitalista] dão a entender que seria o extermínio dos judeus na região. Não. A posição é clara. Destruição do Estado, do estado religiosos, dominado pelo imperialismo, armado até os dentes pelo imperialismo. Desse estado que é uma verdadeira base militar norte-americana na região. E o estabelecimento de um estado democrático onde os judeus, a população normal, porque embora uma parcela apoie a barbárie do Estado, eles não têm culpa de nada, porque as pessoas são levadas a apoiar isso pelo imperialismo. Nós como marxistas não podemos colocar a culpa na população local. Nós atribuímos exclusivamente ao imperialismo. E por isso defendemos um estado multinacional, laico, onde haja tolerância religiosa, um estado onde possa participar em pé de igualdade todos os povos, todas as nacionalidades que convivem naquela região. Contra um estado fascista, religioso, dominado e armado pelo imperialismo para agir contra a população, nós propomos uma revolução que acabe com esse estado e estabeleça um estado democrático. O estado de Israel da maneira como é hoje precisa ser destruído de maneira revolucionária.  A função da verdadeira revolução social é destruir o estado opressor. E essa palavra de ordem tem de ser defendida por todas as pessoas que sejam socialistas e revolucionárias, como também por um verdadeiro democrata. Essa é uma questão chave. Um segundo aspecto desse problema é que quando falamos que Israel é um enclave do imperialismo, não falamos de uma palavra vazia. Nos referimos ao conteúdo social do imperialismo. Uma política de conquista, imperial, de anexação, mas não de uma nação de um povo, de um governo. É uma política imperial de um conjunto de monopólios econômicos, bancos que dominam toda a economia mundial, a indústria petroleira que dominam todo o petróleo mundial, a indústria armamentista. Israel é uma base de operação militar a serviço dos monopólios imperialistas naquela região. Em primeiro lugar os monopólios do petróleo. Porque como é sabido por todo mundo aquela é uma região muito rica em petróleo. Outra coisa que precisa ficar esclarecida com relação ao Hamas e a luta que se trava lá naquele momento, uma guerra que é uma guerra muito desigual, entre um povo desarmado e um dos exércitos mais armados do mundo, uma coisa que precisamos esclarecer é o seguinte: para nós não interessa a ideologia do Hamas porque a posição do partido revolucionário, socialista, que defende os oprimidos não deve ser tomada sobre a base ideológica ou do caráter político das facções em luta. Mas sobre uma análise de classe, ou seja, uma análise do ponto de vista social. Isso é uma luta de classes e qual as classes estão em luta? De um lado uma nacionalidade oprimida que não chega sequer a ser um país, mas o povo palestino, de outro lado um Estado que é uma arma do imperialismo internacional, que são os grandes monopólios. Do ponto de vista do povo palestino, o Hamas representa não a classe operária palestina, se vê isso por ser um ser um grupo de forte tendência ideológica religiosa, mas um grupo de setores pequeno-burgueses, burgueses da Palestina. Eles lutam pela independência nacional e pela constituição de um estado burguês democrático. Eles não são marxistas, não propõem a revolução socialista, mas são o setor que representa a luta de um povo oprimido. São as classes sociais de um povo oprimido contra a classe social mais opressora do mundo que são aqueles elementos que representam o imperialismo mundial da burguesia, dos grandes monopólios. Essa é a posição tradicional de Marx, de Engels, de Lênin e de Trótski.

Trótski num texto que ficou muito famoso fez uma colocação que aqui precisa ser repetida. Respondendo a uma entrevista de um trotskista argentino, Mateo Fossa, ele explicou o seguinte: na luta entre um país atrasado e um país oprimido o que importa são as classes sociais e não as características políticas. Ele estava dizendo isso para explicar o problema de que a luta contra a Alemanha de um lado e os EUA e Inglaterra de outro não era a luta entre a democracia e o fascismo. Mas era uma luta entre dois blocos imperialistas igualmente opressores. E que o problema da democracia e do fascismo era um problema absolutamente secundário. Por isso ele propôs como propuseram os bolcheviques na I Guerra mundial que os trabalhadores não deviam ficar nem ao lado de Hitler nem ao lado de Roosevelt, mas deveriam lutar pela revolução proletária em seu país. Então Trótski com grande felicidade, para nós pelo menos, dá um exemplo que é indiscutível: suponhamos que a Inglaterra democrática parlamentar entrasse em guerra com o Brasil semi-fascista de Getúlio Vargas, porque era a época do Estado Novo e ele caracteriza o Brasil como semi-fascista, um governo fascista em essencial sem determinadas características do fascismo. Ele fala, suponhamos que aconteça essa guerra entre a democracia e o fascismo, qual deveria ser a posição dos revolucionários? “Eu ficaria ao lado do Brasil fascista contra a Inglaterra democrática”, diz. Porque ele gostava de fascistas? Não. Por que ele não gostava da democracia? Não. Nada disso. A explicação dele é clara: se a Inglaterra derrotar o Brasil vai colocar outro fascista no palácio do catete no Rio de Janeiro, pior ainda do que Vargas. E ele quando falou essa frase nem sabia o quanto ele estava certo, já que o Vargas depois se revelou ser um representante da burguesia nacional brasileira, ou seja, eles iam colocar outro fascista que seria capacho do imperialismo. Ou talvez ele soubesse, a entrevista não permite que a gente saiba exatamente o que ele conhecia ou não do Brasil. Se nós aplicarmos essa idéia hipotética à Palestina considerando os que dizem que o Hamas é o que tem de pior, temos o seguinte: se os israelenses ganharem, em todos os sentidos possíveis e imagináveis, será muito pior do que o Hamas. Isso é uma hipótese? Não. Veja o que acontece no Iraque. No Iraque tinha um ditador, Sadam Hussein, que agora aparece como um ditador benigno. O homem que estatizou a indústria iraquiana, que investiu em benefícios sociais. Ele até parece um ditador filantrópico. Agora o Iraque está dividido, como país, foi destruído. Uma parte está na mão de xiitas; outra na dos curdos que se transformaram em agentes do imperialismo; e outra parte na mão de um grupo mais fanático sunita que o mundo viu até hoje, que decretou o califado islâmico e tem características de tipo medieval. É a mesma coisa que fizeram no Afeganistão. É a mesma coisa que eles fazem em todo lugar.

Quem acredita que o imperialismo invade um país, ataca um povo para estabelecer a democracia só pode receber um nome: idiota político. O imperialismo é a força mais reacionária que existe no mundo. Se apóia nos setores mais retrógrados, religiosos dos estados do Sul, do Oeste norte-americano que são muito piores que qualquer grupo islâmico. A vitória da ditadura militar no Egito contra a Irmandade Muçulmana não faz avançar nem um milímetro no direito da mulher, do homossexual, nada. Tudo isso é um jogo de cena. É por isso que para nós não interessa qual a ideologia do Hamas. Para nós interessa o processo de luta social. A vitória do Hamas só pode ser uma vitoria revolucionária. No quadro dessa vitória o povo palestino vai ultrapassar todas essas questões ideológicas, religiosas, da política da política do Hamas. A vitória israelense por sua vez, que é apoiada na extrema-direita que tem todas as características de uma direita religiosa etc. também levaria a coisa para um retrocesso total. Isso sem falar nos efeitos econômicos, na ditadura que se estabeleceria ali e tudo mais. Então é tudo uma grande miragem. Por isso que nós, por exemplo, não podemos nunca assumir o lado do imperialismo “democrático” contra os povos oprimidos onde exista uma ditadura, como a de Sadam Hussein, por exemplo. O PCO, logicamente, quando houve o primeiro ataque contra o Iraque, muita gente nem lembra dos acontecimentos ou nem sabe do que aconteceu… o PCO se colocou do lado do Iraque não apenas para defender-se do bombardeio norte-americano, mas inclusive reconhecendo o direito do Iraque de anexar o Quaite, porque esse país é um estado artificial, que foi criado pela diplomacia anglo-francesa para tirar o petróleo das mãos dos iraquianos. Nós inclusive reconhecemos esse direito.

Para concluir, nessa semana chamou muito a nossa atenção, inclusive resultou numa polêmica com a esquerda, uma posição de um importante dirigente do Psol sobre a questão Palestina, Vladimir Safatle, professor da USP que está numa posição de grande evidência em S. Paulo e que era para ser o candidato a governador pelo Psol no estado, apoiado pela atual candidata à presidência da República pelo partido, Luciana Genro. Ele disse em artigo que é contra o Hamas e que o Hamas representa “o que há de pior no Oriente Médio”. Seria pior que a Arábia Saudita que é uma monarquia no sentido mais medieval da palavra, estritamente religiosa. Na Arábia Saudita existe a polícia religiosa. Não sei se todo mundo tem consciência dessa aberração. A polícia religiosa, por exemplo, faz o seguinte: se você for pego comemorando o Natal, você vai ser preso e processado. Se você for pego em um quartinho da sua casa comendo um pedacinho de bacon, você vai ser preso e processado. É uma ditadura religiosa maior do que a que existe em qualquer país do mundo. Mais que a Irmandade Muçulmana, Irã, Hamas. É o setor mais ortodoxo. Como se fosse um estado dirigido pela Igreja Católica durante a Idade Média.  Quer dizer, ele considera que o Hamas é pior que isso. Aqui tem duas coisas que precisam ser analisadas. Eles têm essa idéia porque são democratas no sentido imperialista da palavra. Para eles muito mais importante que a luta entre o imperialismo e um povo oprimido são determinados direitos democráticos que na verdade são secundários, mas que você pode gozar nos países imperialistas. Então os imperialistas fazem a maior campanha de que eles são a favor da mulher, contra o racismo, a favor do homossexual. O que é mera propaganda. Vigora provavelmente para uma faixa superior minúscula da população e só. Então se você é ator de cinema e homossexual você está protegido, mas duvido que a população pobre tenha a mesma proteção…. Essa é a esquerda à lá Vladimir Safatle, à lá Psol, e eu vou explicar porque à lá Psol, é uma esquerda que compartilha de uma ideologia pseudo-democrática imperialista. Em segundo lugar porque essa esquerda se alimenta da propaganda imperialista. Para alguém falar que o Hamas é o que tem de pior no Oriente Médio, ou é má-fé ou desconhece o que acontece nos outros países do Oriente Médio. Em outra parte da mesma matéria Vladimir Safatle fala que a o Hamas será derrubado pelo povo como aconteceu no Egito. Eu não sei, posso estar enganado, mas pelo que eu saiba no Egito a Irmandade Muçulmana foi derrubada por um clássico golpe militar. A propaganda imperialista falou que era uma revolução. Muita gente embarcou nessa canoa. Agora, a gente não é obrigado a reconhecer ou dar mérito à ingenuidade ou ignorância de ninguém. Eles são reféns da propaganda imperialista. Se alimentam da propaganda imperialista. Isso indica que no Brasil existe toda uma parcela da classe média que é profundamente pró-imperialista. Alguns se identificam com a direita, outros com a esquerda; acham que o imperialismo é uma coisa maravilhosa, que os EUA são um exemplo para o Brasil. Não sei de onde alguém pode tirar uma idéia dessa; de que a Europa é um exemplo para o Brasil. E isso ficou claro na Copa do Mundo. Agora a gente teria não apenas que falar inglês como jogar futebol como alemão. Nós teríamos que ser uns macaquinhos adestrados que imitam a cultura decadente do imperialismo mundial. Porque se você é de classe média alta, acredita que o imperialismo defende o homossexual, a mulher… Defender essas questões é uma coisa extremamente residual, as estatísticas não comprovam nenhuma defesa dessa natureza. Ou seja, nós temos uma classe média de direita e de esquerda que está impregnada da ideologia imperialista. De onde vem essa classe média? Justamente de um setor econômico que é ligado ao imperialismo em caráter econômico. Por exemplo, nós temos os revendedores de produtos do imperialismo, de marcas internacionais, os funcionários de empresas imperialistas e temos a propaganda da imprensa capitalista nacional que vai formando uma determinada mentalidade. E essa mentalidade precisa ser combatida.

Durante a discussão da Copa do Mundo vários setores dessa esquerda pró-imperialista nos acusaram de nacionalistas. Vamos esclarecer a posição do PCO sobre isso, para concluir. Isso é muito importante. No programa do PCO sempre constou a luta pela independência nacional do Brasil diante do imperialismo. E a luta pela independência nacional, que é uma luta política e uma luta econômica implica também à luta em defesa da cultura nacional, das tradições do povo brasileiro, então, nesse sentido, não há dúvida nenhuma de que a nossa  posição é “nacionalista” contra o imperialismo. E quem não tem essa posição é a favor do imperialismo. Isso muitas vezes vem encoberto pela palavra internacionalismo. Agora, o internacionalismo não consiste em você gostar das modas do país estrangeiro opressor metropolitano, contra o seu próprio país. O internacionalismo consiste em que um partido internacionalista no Brasil chama o povo brasileiro a apoiar a luta armada do Hamas contra o imperialismo na Palestina. Nisso consiste o internacionalismo. O internacionalismo não consiste em você atacar as tradições culturais do povo brasileiro. Isso precisa ficar claro. Não somos nacionalistas porque não temos um programa que se destina a elevar o Brasil contra os outros países. Nós propomos, por exemplo, a constituição dos Estados Unidos Socialistas da América. Não somos nacionalistas no sentido de defender nenhum privilégio nacional diante das outras nações ou diante dos povos. Somos favoráveis a que o Brasil acolha os haitianos e dê a ele um tratamento igual. Que o Brasil seja uma nação solidária com as nações mais pobres. Mas no que tange à defesa do Brasil contra o opressor a nossa posição é “nacionalista”, lógico.  Esse é um problema que tem de ser explicado. A esquerda pequeno-burguesa está cada vez mais a reboque de uma pequena-burguesia pró-imperialista. Isso precisa ser esclarecido, precisa ser denunciado. Se você, no Brasil, não defende a independência do Brasil diante da opressão estrangeira não há como ser socialista, não há como defender o proletariado, não há como defender nenhum direito democrático nem nada. Por mais que possa parecer que isso seja uma defesa da democracia. O caso Safatle é um caso endêmico no Psol. Eu vi que no debate nas redes sociais as pessoas contestaram que a posição do Safatle não é a posição do Psol. Eu acho que a posição do Safatle é majoritária dentro do Psol. Se for perguntar para as várias alas pequeno-burguesas dentro do Psol todos vão dizer que abominam o Hamas, porque não é democrático no sentido imperialista da palavra, porque os muçulmanos são contra os direitos das mulheres etc. Mas se você é contra todos os muçulmanos você acaba se emparelhando com a ideologia do imperialismo que fala que é uma guerra da civilização contra os bárbaros etc. quando as alas mais radicais foram sempre estimuladas pelo imperialismo por muito tempo. Inclusive a Irmandade muçulmana que foi contra o nacionalismo laico,o nasserismo, do Egito. A posição dessa esquerda está sendo a de ir a reboque, de ser arrastada por uma parcela da classe média que está sendo educada, doutrinada pelo imperialismo, cuja base econômica é a política imperialista dos últimos anos: a política neoliberal; a política do PSDB etc.

“Na luta contra o Estado de Israel, o Hamas tem de ser apoiado incondicionalmente”

Leia aqui a transcrição da palestra apresentada pelo companheiro Rui Costa Pimenta, dia 2 de agosto, candidato presidencial pelo PCO, sobre a questão da luta que se trava neste momento com o ataque de Israel contra a Faixa de Gaza
PRIMEIRA PARTE

Há uma série de questões que envolve o verdadeiro genocídio que está sendo realizado em Gaza que nós precisamos esclarecer do ponto de vista político.

Primeiro, a caracterização dos acontecimentos. A gente vê na imprensa que se fala em massacre, em uso desproporcional de força. Os mais audaciosos falam em autodefesa de Israel etc. Nós temos que caracterizar muito claramente que o que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio, no sentido de que é uma política de extermínio da população palestina naquela região. E a gente até poderia dizer que é de extermínio da população palestina em geral. Primeiro porque o governo de Israel quer o território todo para ele; é uma política conjunta de toda burguesia israelense. E segundo porque aquela região é sublevada contra Israel. Trata-se de não admitir nenhum tipo de insurgência contra a autoridade estabelecida, a ditadura estabelecida sobre a população de Gaza e partir para uma política de extermínio dos inimigos.

Nesse sentido, temos que introduzir uma segunda caracterização. Tudo isso caracteriza uma ação de tipo fascista. Foi o que Hitler e Mussolini fizeram na Absínia, na Tchecoslováquia, Polônia. A política de que se você se levantasse contra a ocupação alemã eles respondiam com o extermínio. Toda conversa de que é uma crise humanitária é uma maneira de encobrir a realidade dos fatos. A verdade precisa ser dita claramente. E a verdade é que temos aqui uma política genocida tipicamente fascista; não pode haver resistência à ditadura israelense. Esse é o sentido geral das coisas que estão acontecendo.

Se tivéssemos dúvida poderíamos pegar os dados que a imprensa capitalista, a imprensa da burguesia, os grandes monopólios da imprensa que ou não mencionam, ou simplesmente colocam em segundo plano; é, por exemplo, que o bombardeiro israelense não apenas mata indiscriminadamente a população, estão bombardeando áreas densamente povoadas, tentando liquidar toda essa população sublevada que apóia o Hamas, não há nenhuma tentativa de atacar simplesmente grupos armados nem nada, atiram em locais onde há prédios, escolas, hospitais, assim como intencionalmente o exército israelense procura destruir toda a estrutura econômica e social da Faixa de Gaza. Destruíram a única usina geradora de energia elétrica, e isso só pode corresponder a uma política genocida, fascista. Destruíram 130 escolas, hospitais, instalações que fabricam alimento para a Faixa de Gaza; fica claro que procuram inviabilizar a vida da população palestina naquela região. Isso corresponde perfeitamente ao que tem dito a direita israelense, o que vem aparecendo em alguns jornais, na internet. Um rabino norte-americano declarou que é preciso acabar com todos os apoiadores do Hamas. Quer dizer,  matar a população de Gaza porque eles apóiam o Hamas. Uma parlamentar do Knesset, o parlamento israelense, declarou que tem que matar as mães dos palestinos, que é para elas não darem mais crias a esses terroristas. A juventude de extrema-direita israelense foi filmada festejando a morte dos palestinos e cantavam um tipo de palavra de ordem que falava o seguinte: “amanhã não vai ter aula em Gaza porque não existem mais crianças em Gaza”. E foi também logo no começo do conflito que vários jovens de classe média alta foram pegos no alto de um monte assistindo como se fosse um espetáculo a destruição da Faixa de Gaza. Isso é importante não apenas para mostrar que toda a direita é fascistóide, a favor da política de extermínio dos oprimidos em geral, mas serve para mostrar que a política que está sendo realizada lá é a política da extrema-direita; que há uma completa identidade entre a extrema-direita e a política que está sendo realizada pelo governo de direita de Israel com o apoio em geral da imprensa burguesa internacional, de inúmeros governos, do governo norte-americano em particular, do imperialismo norte-americano. Temos então essa caracterização. É uma política genocida. É uma matança indiscriminada. É uma tentativa de inviabilizar a sociedade palestina em Gaza. E é uma política fascista. A mesma política que os fascistas usaram nos territórios ocupados na segunda Guerra Mundial. A mesma política, igualzinha, e isso precisa ser dito muito claramente porque é preciso esclarecer o problema.

Uma segunda questão sobre esse genocídio é a análise da orientação política geral que o imperialismo adotou no último período. Nós temos caracterizado que há um recrudescimento da política imperialista. Nós assinalamos o que aconteceu na Venezuela, Ucrânia, a guerra na Síria movida pelo imperialismo, a tendência ao golpe de estado na América Latina e em vários países, o golpe na Tailândia, por exemplo. E não só isso. Temos assinalado o crescimento geral nos países imperialistas da extrema-direita; a Frente Nacional na França, UKIP no Reino Unido e em geral em muitos lugares, análise das eleições européias etc. mostrando que há um recrudescimento da política imperialista e o desenvolvimento do fascismo nos principais países imperialistas, EUA, França, Reino Unido, o militarismo no Japão, tendência acentuada do militarismo também na Alemanha… O que está acontecendo na Faixa de Gaza corrobora e acentua essa caracterização. Porque essa investida não é mais uma investida, uma coisa periódica é um recrudescimento da política do imperialismo em relação à Palestina. Isso se vê pelo caráter de extermínio dessa política. Trata-se de combater de maneira extremamente dura e violenta, brutal a oposição aos planos imperialistas no Oriente Médio.

Aqui cabe uma explicação. A causa fundamental que pode passar despercebida e levar algumas pessoas a concluírem que esse é o fortalecimento do imperialismo, quer dizer, que o recrudescimento da agressividade imperialista seria um sinal de fortalecimento, quando na verdade é um sinal de enfraquecimento diante da crise. A crise de 2008 não foi superada. O Imperialismo se vê numa situação difícil em vários países em crise econômica e com incapacidade de recuperação do capital e, portanto, é preciso atacar os povos oprimidos do mundo inteiro para recuperar essa capacidade, a política neoliberal fracassou e a nova política é tentar impor a política neolioberal a todo custo.

Se o imperialismo estivesse mais fortalecido poderiam fazer isso com métodos “democráticos”; impor uma ditadura, porque os governos neoliberais todos foram uma ditadura, com uma aparência democrática. Agora isso só é possível sobre a base de um ataque bem mais brutal sobre os trabalhadores e povos oprimidos. Essa é uma questão fundamental.

Outro fator é que a ofensiva imperialista resulta de uma momentânea alteração nas relações de força na região. Nós tivemos a guerra na Síria e a Síria era um dos pontos de apoio da resistência palestina; tudo bem que o governo sírio não foi derrubado, mas ficou numa situação muito difícil de compor com os palestinos. Inclusive está sob vigilância do imperialismo. Houve a iniciativa do imperialismo europeu, norte-americano, junto com a Arábia Saudita de reacender (vamos dizer assim) a guerra no Líbano para tentar encurralar o Hezbolah, uma das principais forças da resistência árabe, com maior penetração social, armada, com capacidade e maior treinamento militar etc. Foi o grupo que declarou estar ajudando a resistência armada do Hamas na Palestina. Esse é um fator importante. O mais importante, no entanto, foi o golpe militar no Egito. O golpe derrubou o Hamas do Egito. Muita gente pode não saber, mas o Hamas é parte da Irmandade Mulçumana. Então o Hamas Egípcio que foi caracterizado pelo imperialismo como uma força do mal e essa história foi propagandeada por papagaios do imperialismo dentro da esquerda, como o PSTU, foi derrubado e reprimido duramente no Egito, e agora um dos principais pontos de apoio se não o principal ponto de apoio do governo israelense é o governo egípcio, que seria segundo alguns ingênuos o resultado de uma revolução, porque a Irmandade Muçulmana teria sido derrubada pelo povo. Mas nós vimos algo muito mais comum e conhecido, homens em uniforme, armados dando um típico golpe militar. Agora está claro o objetivo: restabelecer um dos principais pontos de apoio da repressão no Oriente Médio justamente contra setores como os palestinos. Então em torno do Egito se formou uma coalizão, com Arábia Saudita e algumas monarquias vassalas da Arábia Saudita, ou seja, o principal bloco direitista e pro-imperialista da região, defendendo a ação israelense. Essa mudança na correlação de forças abriu o caminho para essa ofensiva massiva, violenta contra a palestina. esses são dos fatores principais que explicam não apenas a oportunidade como a violência desse processo.

Uma terceira questão da análise é qual a posição que devemos ter diante do conflito. Como é de praxe, vários setores de direita ficaram do lado de Israel com a história da autodefesa. Não precisa nem explicar, porque o tamanho do massacre mostra que não há auto defesa nenhuma. E também essa é uma explicação dada pelos nazistas. Invadiam o país e depois falavam que era em nome da defesa da nação alemã e operavam todo o massacre. História muito repetida pelos países imperialista e pelo estado de Israel que é um enclave imperialista no Oriente Médio. Já a posição da esquerda é a posição tradicional humanitária: “bate mas não muito”, “tudo bem que o Hamas é uma organização terrorista, mas isso é um exagero…” Essas posições se bem, logicamente, sejam melhores que da direita, são posições falsas. É um genocídio e a única maneira de acabar com isso não é pregando a paz, pregando a conciliação, mas é preciso apoiar a resistência palestina. É preciso dizer em alto e bom som que tem de ser apoiado primeiro o direito dos palestinos de existir, segundo o direito de resistir à opressão israelense, terceiro de resistir com armas na mão. É um direito dos palestinos. E quem expressa esse direito nesse momento é o Hamas. Por isso qualquer apoio ao povo palestino que não se referencie na luta que está sendo travada pelo Hamas é uma falsidade. É um apoio inócuo. É meramente declarativo, meramente pró-forma. É um apoio que, em certa medida, é totalmente dispensável. A posição que deve ser tomada por qualquer pessoa que seja realmente democrática e pelos revolucionários, é a de que o Hamas tem de ser apoiado contra a ofensiva do estado de Israel. E o Hamas tem de ser apoiado incondicionalmente. O que quer dizer incondicionalmente? Que não se deve colocar condições para apoiar o Hamas. Por exemplo, “eu apoio o Hamas se ele deixar de lado a ideologia religiosa”. Não. Ele tem de ser apoiado com a ideologia que ele tem. “Eu apoio o Hamas se ele parar de jogar foguetes em Israel”. Não. Ele tem de ser apoiado independentemente do que o Hamas tenha feito ou venha a fazer. O apoio tem de ser incondicional. O que está acontecendo lá é uma luta de vida ou morte. Uma luta de vida ou morte entre o povo palestino e o Estado de Israel. O genocídio só pode ser combatido apoiando a resistência armada palestina que nesse momento é o Hamas. Nós identificamos indícios de que a Fatah está se rearmando para oferecer resistência ao estado israelense. Se a Fatah oferecer essa resistência armada, também tem de ser apoiada. Qualquer um que esteja lá lutando contra o imperialismo de armas na mão tem de ser apoiado. E deve ser apoiado incondicionalmente. Da maneira mais completa e mais profunda. Essa é a posição mais democrática. Todas as outras de uma maneira ou de outra favorecem a ofensiva israelense contra a Palestina. Isso precisa ficar absolutamente claro.

continua

O Psol contra o povo palestino: não foi acidente, não é por acaso

A vez de Vladimir Safatle

Rafael Dantas

Depois da candidata a deputada federal pelo Psol, Solange Pacheco, ter divulgado um vídeo defendendo o sionismo, no massacre do povo palestino promovido por Israel, foi a vez do ex-candidato ao governo de São Paulo, e professor da USP, Vladimir Safatle atacar a liderança da resistência palestina em Gaza defendendo as posições da direita brasileira e do imperialismo

Um artigo publicado na edição de ontem do Diário Causa Operária retratou as posições de uma das candidatas a deputada federal do Psol no Rio de Janeiro sobre o massacre em andamento na Palestina.

Em um vídeo divulgado em seu perfil no Facebook a candidata do Psol, Solange Pacheco, acusa o Hamas de “terrorista”, repetindo as calúnias do imperialismo norte-americano.

Pois chegou a vez do ex-candidato ao governo de São Paulo, o professor de filosofia da USP Vladimir Safatle, emprestar seus talentos à justificação da mesma política.

Em sua coluna na Folha de S. Paulo, Vladimir declarou-se impressionado pelas posições do músico judeu argentino (e “mensageiro de paz” da ONU) Daniel Barenboim, expressas no artigo “Podemos viver juntos”. Ele comenta o artigo do músico pró-conciliação e assina embaixo do apelo a que Israel negocie com os “terroristas”, referindo-se nos mesmos termos que Israel ao Hamas, que dirige a Faixa de Gaza.

Guarda o melhor para o final: “Trata-se de um grupo que representa o que há de pior no mundo árabe, com um projeto autoritário, destrutivo e demente de sociedade religiosa. Mas seu destino será, provavelmente, o mesmo de grupos muçulmanos como a Irmandade Muçulmana ou o Nahda tunisiano: serão expulsos do poder pelo próprio povo que eles julgam representar”.

Safatle: um “liberal” ao estilo do Partido Democrata norte-americano

Safatle foi descartado como candidato ao governo de São Paulo pela direção do partido às vésperas do registro das candidaturas. Mas vê-se por meio dessa declaração que o professor da USP está mais do que qualificado para o cargo. É direitista o suficiente para defender as posições do imperialismo norte-americano e da direita pró-imperialista brasileira sem perder o “rebolado” esquerdista.

Safatle é terminantemente contra o Hamas, afinal o grupo representa, segundo ele, “o que há de pior no mundo árabe”. Pior até mesmo do que o massacre promovido pelo governo israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza? Pior do que a ditadura no Egito, do que o governo da Arabia Saudita?

Pior por quê? Será o “projeto autoritário, destrutivo e demente de sociedade religiosa” o que assusta o filósofo uspiano? Em nome da liberdade e da construção da paz, Safatle condena o Hamas em defesa da democracia. Nessa sim, não há autoritarismo, não há destruição e muito menos pode-se dizer que a democracia é compatível com a religião… Muito pelo contrário!

Vejamos o que o governo do país “mais democrático do mundo”, os verdadeiros campeões da democracia mundial, os Estados Unidos da América, tinha a dizer sobre o Hamas quando era dirigido pelo Partido Republicano:

“O Hamas deixou claro que não é favorável ao direito de Israel existir. E eu deixei claro que enquanto sua política for esta, não apoiaremos um governo palestino encabeçado pelo Hamas. Queremos trabalhar com um governo que seja um parceiro na paz, não com um governo cujas intenções declaradas sejam a destruição de Israel”, disse George W. Bush em 2006. (portal de notícias da Casa Branca, 30/1/2006).

Safatle e Bush são contra o Hamas. E, muito bem, podem trabalhar juntos já que defendem os mesmos princípios abstratos: a democracia, a “construção da paz”.

Trabalham juntos, de fato, tal como Democratas e Republicanos nos EUA, já que não existe a “democracia ideal”, pairando no éter, defendida por Safatle. Existe apenas o que o imperialismo determina ser “democrático” e aquilo que, na medida de suas possibilidades, podem fazer os governos dos países atrasados contra a dominação imperialista.

Psol: “socialismo” à moda do liberalismo burguês

Com a aparição do artigo do ex-candidato e a declaração da candidata a deputada federal, o Psol mostra que tem, apesar das diferentes tendências que o compõem, uma política clara sobre a questão palestina: no confronto entre o imperialismo e seus representantes (Israel) e a resistência da população oprimida nos países atrasados, submetidos ao imperialismo, tomar partido da “democracia”, e alinhar-se com o imperialismo na luta contra os “terroristas”, ou, como bem o disse Safatle, “o que há de pior no mundo árabe”.