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Bernie Sanders, “o machista”: como as campanhas de calúnia se parecem

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No último domingo, 7 de fevereiro, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, marido da pré-candidata democrata Hillary Clinton, resolveu partir para o ataque contra Bernie Sanders, candidato à esquerda nas primárias do Partido Democrata. Bernie Sanders era dado como carta fora do baralho com insistência pela imprensa capitalista. Depois de quase empatar em Iowa, no entanto, mostrou que pode disputar com Hillary de verdade, e tornar-se o candidato democrata à presidência. Diante disso, Bill Clinton fez as seguintes declarações contra Sanders durante um evento da campanha de sua esposa:

“Ela [uma blogueira a favor de Hillary] e outras pessoas que entraram na internet para defender Hillary e explicar – apenas explicar – porque elas a apoiam foram objeto de assédio e de ataques que são literal e frequentemente profanos demais – para não falar do sexismo – para repetir aqui”.

É assim que se faz uma campanha de calúnias. A discussão política tem sido desfavorável para Hillary, a candidata de Wall Street. Com a crise econômica e política nos EUA, Sanders aparece com chances de vencer, expressando essas crises. No desespero, Bill e os pseudo-esquerdistas começam a atacar Bernie Sanders associando-o ao machismo, ao “sexismo”, por causa de comentários na internet feitos por terceiros.

Como costuma acontecer em campanhas de calúnia como essa, a acusação é feita por quem tem menos autoridade para fazê-la. De todos os políticos democratas a favor de Hillary Clinton no partido essas declarações foram feitas justamente por Bill Clinton, que abusou de uma subordinada sua na Casa Branca quando era presidente, envolvendo-a depois em um escândalo na imprensa e à superexposição.

É esse tipo de calúnia que a esquerda pequeno-burguesa repete nos Diretórios Acadêmicos e sindicatos País afora contra todos os seus adversários políticos. A utilização dessa calúnia pela candidata oficial do imperialismo norte-americano revela bem o caráter desse tipo de ataque: é um ataque direitista de quem não tem argumentos políticos.

A campanha suja contra Bernie Sanders deve continuar, pois sua candidatura, por si só e por contraste, demonstra o quanto Hillary está à direita. Para tentar obscurecer suas propostas de um salário mínimo, educação superior gratuita, impostos mais altos para os mais ricos etc, os pseudo-esquerdistas vão tentar evitar o debate com calúnias e outras baixarias do tipo.

França quer cassar nacionalidade de condenados por terrorismo

Nova legislação pode valer apenas para quem tenha duas nacionalidades, criando-se cidadãos de segunda classe

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Nesta quarta-feira, 10 de fevereiro, avançou no Parlamento francês uma nova legislação que poderá ser usada para tirar a cidadania francesa de condenados por terrorismo e facilitar a entrada de medidas do estado de emergência na Constituição do País. Depois dos ataques em Paris em novembro do ano passado, o governo francês aproveitou para impor um “estado de emergência”, aprovado pelos parlamentares e posteriormente prorrogado por um prazo maior.

Agora o governo do presidente François Hollande procura transformar o estado de emergência em leis permanentes, consolidando um estado policial na França, um estado de exceção. A medida dividiu a bancada do Partido Socialista (PS). As medidas foram aprovadas por 317 deputados, contra 199, com 51 abstenções. Entre os 199 deputados que votaram contra a nova legislação, 89 eram do PS. É uma divisão maior do que a ocorrida durante as votações dos novos pacotes de “austeridade”, aprovados em 2015. A nova legislação não teria sido aprovada sem os votos dos partidos de direita.

A proposta de tirar a cidadania francesa dos condenados por terrorismo é defendida pela Frente Nacional (FN), partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen. A extrema-direita tem avançado continuamente nas eleições, e só não ganhou nenhum governo regional em dezembro devido à retirada de candidatos do segundo turno pelo PS (segundo turno com mais de dois candidatos). Sob pressão da FN, o governo “socialista” de Hollande tem adotado medidas de extrema-direita para tentar combater eleitoralmente o partido de Le Pen, mas isso só tem fortalecido a extrema-direita ainda mais.

Como aconteceu com o 11 de setembro nos EUA, o governo francês está aproveitando os ataques terroristas para aprovar leis contra a população, retirando direitos e garantias contra o poder do Estado. Sob a alegação de que essas medidas seriam destinadas a combater o terrorismo, o Estado está se fortalecendo para manter toda a população sob vigilância, além de, a partir de agora, criar uma categoria de cidadãos de segunda classe, que podem ter sua cidadania cassada.

Manipulação: o jogo sujo contra Sanders

Imprensa capitalista vende a história de que Sanders seria impopular entre negros e latinos, e que esses tenderiam a votar em Hillary Clinton

As eleições presidenciais norte-americanas do ano que vem já começaram. Em um sistema montado para que apenas os dois maiores partidos tenham chances reais de eleger um presidente, as eleições primárias, que começaram semana passada, decidem quem serão os candidatos deses dois partidos à presidência. Além do sistema bipartidário, que já é um mecanismo de controle das eleições, as próprias eleições primárias são um esquema cheio de mecanismos adicionais para controlar a votação.

Essa semana, graças aos “superdelegados”, Hillary Clinton conseguiu o mesmo número de delegados que Bernie Sanders em Nova Hampshire, depois de perder na votação de muito longe (60% a 38%). Um fato que ilustra de forma contundente como o aparato do partido está contra a candidatura de Sanders e a favor de Hillary, que é apoiada também pelo mercado financeiro, por Wall Street.

No entanto, diante da crise social e política nos EUA, há uma crise também dentro dos partidos. Apesar de todos os mecanismos de contenção, Bernie Sanders conseguiu romper o cerco e entrar na disputa com chances de vencer as eleições primárias e impor sua candidatura, propondo salário mínimo, sistema público de saúde, educação superior gratuita etc.

Para tentar evitar uma candidatura de Sanders, o aparato democrata tem promovido uma campanha suja contra o pré-candidato. Para minimizar sua vitória em Nova Hampshire, estão dizendo que Sanders está tendo votações boas em estados com poucos negros e latinos. Assim dão a entender que sua candidatura continuaria sendo “inviável”, e que a candidata das minorias norte-americanas seria Hillary Clinton. Mais uma tentativa de controlar os votos evitando um debate político, jogando negros e latinos contra Sanders em benefício de Hillary.

A intriga também é uma falsificação da história, tudo que os Clinton ofereceram aos negros e latinos foi demagogia, enquanto deslocavam todo o partido à direita depois do governo Reagan, como aconteceu com o Partido Trabalhista britânico depois do governo Thatcher. Na época, em 1988, Sanders apoiou Jesse Jackson, um pré-candidato negro, para concorrer às eleições presidenciais pelo partido.

Primeiro Sanders não tinha nenhuma chance. Agora não poderia vencer porque não teria votos de eleitores que não sejam brancos. São tentativas seguidas de fraudar por dentro das regras a vontade dos eleitores. Regras que já são pensadas para manipular os eleitores mas que podem ser insuficientes dessa vez.

Varoufakis lança mais um partido pequeno burguês, dessa vez europeu

Depois de capitular com o “Psol grego”, o ex-ministro das Finanças fundou um partido pan-europeu essa semana em Berlim, o DiEM 25

Yanis Varoufakis

Durante 2015, o governo do Syriza, na Grécia, liderado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, foi eleito duas vezes, venceu um referendo popular e capitulou nas negociações da dívida com os credores da União Europeia (UE) e o FMI. Em janeiro, o partido foi eleito com a promessa de acabar com as políticas de austeridade impostas pela UE. Depois de meses de negociações, o Syriza cedeu em tudo à burocracia europeia controlada pelos interesses da Alemanha e aceitou aplicar praticamente todo o programa neoliberal da Europa para a Grécia, depois de chamar um referendo em que a população rejeitou, mais uma vez, esse programa. Um programa que está destruindo o País há mais de cinco anos.

O ministro das Finanças durante aquele primeiro governo era Yanis Varoufakis, professor de economia especializado em teoria dos jogos com diversos livros acadêmicos publicados. Da academia para o governo, Varoufakis participou da capitulação de um partido pequeno burguês no poder. Consumada a derrota nas “negociações” com a UE, Tsipras chamou novas eleições, em que se candidatou para se tornar o primeiro-ministro novamente, dessa vez para aplicar o pacote de ajustes da UE. Varoufakis já tinha saído do governo semanas antes de novas eleições serem chamadas.

Agora o ex-ministro grego lança novamente um partido pequeno burguês como o Syriza, mas em todo o continente. O DiEM 25, fundado nesta terça-feira, 9 de fevereiro, em Berlim, propõe uma nova constituição para todo o continente. Segundo Varoufakis, não há mais democracia na Europa, com os governos sendo esmagados pela burocracia da UE.

De fato a burocracia europeia esmaga os governos dos países mais fracos dentro do bloco. O Syriza, no entanto, prometia encerrar as políticas de austeridade em uma negociação com a UE, alimentando uma ilusão. O partido é uma espécie de Psol grego, um partido esquerdista pequeno burguês e sem programa. Sem disposição para romper com a UE, o primeiro e breve governo de Tsipras foi para uma negociação perdida.

Diante da experiência desse fracasso, Varoufakis continua alimentando essa mesma ilusão na democracia burguesa. No lançamento do DiEM 25 Varoufakis afirmou que o “modelo dos partidos que prometem e não cumprem” teria sido “superado”. E propõe seu novo movimento para “lançar as ideias sobre as alternativas que temos para superar o modelo neoliberal”. Um programa ainda mais vago do que o do Syriza.

Trump: o perigo de fora do “establishment”

Candidato avulso lidera as pesquisas eleitorais e expressa crise do Partido Republicano e do sistema político norte-americano

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Nesta terça-feira, 9 de fevereiro, Donald Trump, pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano, venceu a segunda etapa das eleições primárias. Depois de ficar em segundo lugar no estado de Iowa na semana passada, Trump confirmou seu favoritismo nas pesquisas em Nova Hampshire. Com 35% dos votos, Trump ficou muito à frente do segundo colocado no estado, John Kasich, governador de Ohio, que ficou com 16%.

Na semana passada, Trump acusou Ted Cruz, candidato do Tea Party para concorrer à presidência pelos republicanos, de ter fraudado a votação no Iowa. Trump, um bilionário do ramo imobiliário e celebridade televisiva, é um candidato avulso, que tem aparecido nas pesquisas eleitorais como o republicano com mais chances de vencer as primárias e ser candidato à presidência. Em Iowa, terminou em segundo lugar, surpreendido pela votação de Cruz. Seu favoritismo, dessa confirmado com ampla vantagem em Nova Hampshire, expressa uma crise no Partido Republicano, parte de uma crise do sistema político norte-americano em geral.

Enquanto Trump lidera as pesquisas rumo à candidatura pelos republicanos à presidência, o candidato de Wall Street, Jeb Bush, governador da Florida, ficou com apenas 11% dos votos em Nova Hampshire, terminando em 4º lugar entre os pré-candidatos de seu partido. Na votação anterior, em Iowa, Jeb Bush ficou em sexto, com apenas 3% dos votos. Bush é de muito longe o candidato republicano com a campanha mais cara. Assim como Hillary Clinton do lado democrata, o irmão do ex-presidente George W. Bush é o candidato do mercado financeiro.

Desde o momento em que Trump começou a liderar as pesquisas a imprensa capitalista norte-americana tratou de fazer uma forte campanha contra o candidato. Mesmo a Fox News, canal de televisão que representa a extrema-direita, faz uma violenta campanha para tentar freiar a candidatura de Trump. Sua candidatura foi lançada para dividir os eleitores e evitar a ascensão de Scott Walker. A manobra saiu de controle.

Trump não representa a ala de extrema-direita dos republicanos, mas tem feito propostas de extrema-direita durante sua campanha, como proibir a entrada de muçulmanos no País e fazer um muro na fronteira com o México para que “imigrantes ilegais” não possam mais entrar nos EUA. Uma possível disputa entre Trump e Bernie Sanders, pelo Partido Democrata, nas eleições presidenciais do ano que vem, será uma disputa com uma enorme polarização. Sanders, pelos democratas, também expressa uma crise de seu partido (e do sistema político norte-americano de conjunto) e está muito à esquerda de Hillary Clinton.