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A NEUTRALIDADE DIANTE DA AMEAÇA DE GOLPE DE ESTADO É APOIAR O GOLPE

Rui Costa Pimenta

 

Agora, chegamos ao ponto em que as ilusões sobre a possibilidade de golpe de Estado no Brasil estão fora de questão. Todos os líderes da direita deixaram claro que pretendem remover Dilma Roussef da presidência nos próximos 300 dias.

Desde 2013, vimos apontando que o imperialismo, impossibilitado de remover os governos da burguesia nacional dos países atrasados pela via eleitoral, se via obrigado a substituí-los por meio de golpes de Estado.

Os golpes de Honduras (2009) e, principalmente, do Paraguai (2012) marcam o ponto de inflexão desta política. Egito (2013), Ucrânia (2014) e Tailândia (2014) o confirmam.

Todos os governos de inclinação nacionalista da América Latina estão submetidos ao cerco político do imperialismo: Argentina, Equador, Venezuela, Bolívia etc.

No Brasil, a campanha golpista pretende atingir um novo patamar com a manifestação de 15 de março próximo, para a qual estão sendo investidos enormes recursos. O tema central da campanha golpista é, como é de hábito nas campanhas políticas da direita ligada ao imperialismo estrangeiro, a corrupção. Sob esta bandeira, estão mobilizando uma fração mais despolitizada, direitista e conservadora das classes médias.

A ninguém é permitido negar que esta manifestação e a campanha da qual é uma espécie de coroamento são organizadas, dirigidas e orientadas politicamente por uma ampla frente única de direita, que vai de organizações abertamente fascistas ao direitistas tradicionais e que, por detrás delas, se encontra o tradicional inimigo do povo brasileiro, o imperialismo, em particular o imperialismo norte-americano, artífice dos golpes de 1954 e 1964.

Os objetivos do golpe podem ser percebidos com extrema facilidade. Basta ver o programa de destruição completa da Petrobrás, estabelecido pelos golpistas na imprensa, e o violento pacote econômico de Beto Richa no Paraná, que suscitou uma imensa mobilização da massa do funcionalismo público daquele Estado.

A crise econômica mundial chegou a um ponto crítico. Os governos de tipo nacionalista, mesmo muito moderados como o PT, já não são tolerados pela burguesia que necessita retomar em sua plenitude a política neoliberal da década de 1990 e leva-la a um novo nível, sem precedentes, de ataques à classe trabalhadora e ao povo.

Independente do resultado imediato da campanha golpista, que ameça de imediato, derrubar o governo que tomou posse em janeiro, ou seja, impedi-lo de exercer o mandato popular, o crescimento e fortalecimento da direita, é uma ameaça a todo o movimento operário e popular, às suas organizações e aos direitos democráticos conquistados.

Diante da ameaça de golpe de Estado não pode haver nenhuma neutralidade. Aqueles que não denunciam e não combatem a ofensiva golpista, apoiam e são cúmplices, diretos ou indiretos, voluntários ou involuntários do golpe de Estado.

Opor-se ao golpe de Estado não significa nem concordar, nem apoiar a política do PT, como martela insistentemente a propaganda da direita. Representa, ao contrário, um movimento de defesa dos trabalhadores contra um inimigo muito superior e muito mais feroz que a política de conciliação de classes do PT.

A classe trabalhadora brasileira encontra-se em um momento histórico fundamental e deve se colocar à altura do desafio mobilizando-se contra a direita em defesa dos seus interesses próprios, das suas organizações e das suas conquistas sociais e políticas e, acima de tudo, do futuro desenvolvimento da sua luta.

Chamamos todos os trabalhadores e a juventude a se mobilizar contra a ameaça do golpe de Estado com suas próprias bandeiras e sua próprias reivindicações. Chamamos todos a participar do ato do dia 13 de março, que é um esforço consciente para dar uma resposta à ameaça de golpe de Estado da direita.

 

COM O MONOPÓLIO DA COMUNICAÇÃO, NÃO HÁ ELEIÇÃO

Rui Costa Pimenta

Eleição significa escolha, preferência. No caso da política supõe-se que seja um direito, o direito de escolher as melhores pessoas para os cargos públicos.

Não há nada menos parecido com isso do que a eleição brasileira.

Os capitalistas que dominam o Estado criaram um mecanismo com um sem número de engrenagens que permitem fazer com que as pessoas escolham, justamente, … o que não escolheriam, o que não seria a sua preferência.

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Uma das inúmeras engrenagens dessa natureza é o instituto do segundo turno. No segundo turno, o eleitor é levado a escolher quem não escolheu no primeiro turno, porque as opções se reduziram drasticamente. O segundo turno, permite, inclusive que um candidato que não obteve a maioria dos votos no primeiro turno se transforme em candidato majoritário.

A eleição burguesa é, por obra dessas técnicas, um vasto mecanismo de controle da opinião popular, engrenagens cujas roldanas, rodas, eixos e outras peças permite conduzir a opinião por canais pré-determinados e, assim, falsificar a vontade do povo. As peças deste mecanismo encontram-se tanto na sociedade política, no Estado, ou seja, instituições e leis, como na sociedade civil, como o poder financeiro das grandes empresas e o monopólio capitalista dos meios de comunicação.

Este último, sozinho, é quase capaz de, em determinadas condições, definir o destino das eleições.

As eleições brasileiras, em particular para os cargos majoritários, são planejadas para serem processadas por meio do monopólio da imprensa capitalista. Em primeiro lugar, os candidatos escolhidos e pagos pelos capitalistas aparecem nos jornais, TVs e rádios deste monopólio durante todo o ano, seja porque são governantes, seja com a alegação de serem postulantes ao cargo ou qualquer outro pretexto de conveniência. Quando chega o período da campanha eleitoral, a campanha destes candidatos selecionados já está 70% feita e aí eles são apresentados como candidatos “principais” ou “competitivos. Neste momento, recebem dezenas ou centenas de milhões de reais que permitem manter a ilusão.

A campanha eleitoral efetiva dura cerca de dois meses, período no qual se apresenta aos candidatos que  não detêm este título a perspectiva de se comunicar com os mais de 100 milhões de eleitores em 8 milhões de quilômetros quadrados que constituem o território nacional. Uma tarefa impossível de ser realizada, a menos… que o candidato disponha de meios eletrônicos e grandes jornais e revistas sustentadas pelo Estado.

Durante a campanha, realizam-se debates nas grandes redes de TV privadas, que se amparam em uma lei feita pelos grandes partidos que elas apoiam para excluir dos debates os candidatos que tenham representação parlamentar. A exclusão não é obrigatória, mas o monopólio de TV se ampara nela para poder excluir. Quando os candidatos “incômodos” para este monopólio ou para os capitalistas em geral, tiverem a representação parlamentar necessária, será votada uma nova lei que preverá uma certa porcentagem de representação parlamentar.

Desta forma, os capitalistas proprietários destes monopólios e os demais capitalistas que por meio deles controlam totalmente a informação do processo eleitoral, tornando-se entidades que definem a eleição de acordo, claro está, com os seus próprios interesses econômicos e políticos.

Fica claro que, com o monopólio capitalista dos meios de comunicação, não há eleição alguma, no sentido de eleição pelo povo, mas apenas de eleição por um punhado de grupos empresariais.

Se em tempos passados, podia-se alegar – embora, não fosse verdade, senão do ponto de vista legal, não real – que o monopólio da imprensa escrita não feria o direito de ninguém de publicar um jornal, o mesmo não acontece com o monopólio de rádio e TV, que é um monopólio garantido juridicamente pelo Estado. Trata-se de um monopólio de natureza medieval e não capitalista, ou seja, legal, político, e não meramente econômico. O direito de ter uma emissora de TV é uma concessão pública, que, de maneira absurda, é garantido a uma meia dúzia de grupos capitalistas e negado à totalidade da população.

Sindicatos, Centrais Sindicais, entidades de diversos movimentos populares, universidades e a comunidade em geral, não têm o menor acesso à transmissão por TV ou pelo rádio. É evidente que se trata de um sistema ditatorial, onde o Estado legisla em favor de uma ínfima minoria.

Estas emissoras de TV não poderiam se concedidas a nenhum grupo em particular, menos ainda capitalistas privados. Elas deveriam ser geridas pelo Estado que distribuiria as horas de programação entre grupos diversos, de acordo com o interesse social.

Outro mecanismo que os grandes grupos capitalistas utilizam para controlar e deter o monopólio da comunicação é o monopólio sobre os anúncios. Esta função deveria também ser estatizada e o Estado deveria distribuir a verba dos anúncios entre todos os anunciantes e órgãos de imprensa de maneira igualitária.

Cinicamente, os interessados denominam este monopólio “liberdade de imprensa” e atacam qualquer tentativa de modificação do atual sistema totalitário como um atentado a esta liberdade. O monopólio, no entanto, é o exato oposto de qualquer liberdade: se há liberdade, não há monopólio, se há monopólio, não há liberdade.

Com o monopólio capitalista da imprensa, não há eleição, porque não há a liberdade de escolher.

LEGALIZAÇÃO DE TODOS OS PARTIDOS: NENHUM PRIVILÉGIO ELEITORAL

Rui Costa Pimenta

Desde que a burguesia existe seu maior sonho político é o de ter um regime “democrático”, com eleições, representantes e toda a parafernália, mas onde o povo esteja excluído.

Sua grande visão política se materializa assim: dois grandes partidos, ambos burgueses, ambos integrados ao mesmo sistema e defendendo no fundamental os mesmos interesses. Uma minoria da população vota. É o melhor de todos os mundos.

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A rejeição ao bipartidarismo da burguesia é generalizada

A Inglaterra, pátria da democracia liberal, fez a sua revolução burguesa em 1648, sob a liderança do extraordinário Oliver Cromwell. Nela o terrorismo e a ditadura serviram para aniquilar o poder da monarquia e da grande nobreza. Passado o furacão revolucionário, em um estilo muito britânico, fizeram uma segunda revolução, sem o terrorismo e a ditadura que, por ser tão inodora e insípida, foi denominada “A Revolução Gloriosa”, onde se estabeleceu o domínio estável e regular da burguesia.

A classe operária e as mulheres foram, logicamente, excluídas desta gloriosa solução, onde até a monarquia, com poderes diminuídos, foi preservada.

Foram criados dois grandes partidos, o conservador (tories) e os liberais. A classe operária era estimulada a apoiar os liberais, embora não votasse.

No século XIX, a classe operária lançou-se na luta pelos seus direitos políticos, na luta pela Carta.

Dessa luta nasceria o Partido Trabalhista (Labour) que, posteriormente, seria completamente integrado ao regime substituindo o Partido Liberal. Hoje este sistema está em completa decomposição, com os dois partidos fundamentais, mas principalmente o partido conservador, caindo em frangalhos.

Este, no entanto, é o sonho de toda a burguesia, a qual gostaria de reduzir os partidos brasileiros a três ou quatro cárceres políticos onde os interessados na atividade política teriam que estar independentemente da sua inclinação política.

Esta sanha antidemocrática e antipopular se expressa na luta que se trava por um imprensa burguesa interessada em eliminar toda participação popular da “democracia”, contra o direito de organização partidária.

A legalização de um partido hoje no Brasil tornou-se impossível. Esta lei “imparcial” atinge sobretudo a esquerda e o movimento operário. No Brasil há dezenas, senão centenas de organizações de esquerda, muitas delas ligadas à classe operária, que são impedidas de se legalizar por uma legislação ditatorial.

Foi por este motivo, inclusive, para combater esta ditadura, que o PCO ofereceu a sua legenda, sem qualquer compromisso, a qualquer organização da esquerda que quisesse lançar candidatos e estivesse impedida por esta lei antioperária e antidemocrática.

Esta proibição de fato retira das eleições qualquer caráter democrático porque impede que o principal direito eleitoral seja exercido, ou seja, que cada cidadão possa ser candidato, inclusive sem partido.

LEVY FIDELIX E A LIBERDADE PARTIDÁRIA

 

O ataque do candidato do PRTB aos gays no debate presidencial causou uma enorme comoção e, como sempre, o que menos se viu foi qualquer tentativa de defender os direitos dos homossexuais e mais que tudo um ataque aos direitos democráticos de todos.

Os partidos da esquerda pequeno-burguesa trataram de pedir prisão, processo e cassação do candidato. O PSol levantou uma lei que prevê entre outras coisas a punição ao “ódio de classe”, lei que nenhum partido democrático poderia ver senão com total rejeição.

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Levy Fidelix, candidato a presidente pelo PRTB

O ataque aos direitos democráticos mais contundente veio, como se era de esperar do monopólio capitalista que logo passou pelo ataque aos gays para capitalizar a comoção no sentido de atacar os “partidos nanicos”.  Segundo a BBC Brasil, que publicou matéria com o título “Por que partidos ‘nanicos’ têm tanto espaço no debate eleitoral?”, o problema estaria em que “segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, isso só pode acontecer por causa de uma falha no sistema eleitoral brasileiro. É ela que permite que partidos com pouca representação na sociedade tenham acesso ao fundo partidário e espaço em debates e no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.”

Traduzindo, a solução para o ataques dos partidos de direita aos direitos dos homossexuais estaria em promover um ataque generalizado aos partidos políticos que não fazem parte da confraria sustentada pelo grande capital pela imprensa capitalista nacional e internacional (como a BBC). É importante notar que os três partidos “nanicos” que não participaram do debate são todos da esquerda e defensores dos direitos dos homossexuais.

A realidade aqui é exatamente o oposto do que desonestamente prega o órgão da imprensa imperialista britânica. Se os partidos “nanicos” tivessem participado do debate, a tirada fascista de Levy Fidelix teria sido respondida à altura ali mesmo e denunciada diante de todo o público, o que seria mil vezes mais eficaz do que se calar diante de milhões de pessoas para depois utilizar uma lei antidemocrática para dar poder ao judiciário de direita e à polícia (precisa dizer que é de direita?) se fortalecerem com o escândalo, ganharem apoio popular para atacar trabalhadores, negros, jovens, mulheres e… gays.

Uma parte da esquerda tem pregado, de maneira histérica, uma política de defesa do Estado capitalista como instrumento de defesa dos oprimidos, pedindo penas de prisão e as mais diversas punições para expressões verbais, criando um clima propício para a perseguição à opinião em geral.

Esta política é visivelmente uma política de frente única com a direita, com o Estado capitalista, ou seja, com os próprios capitalistas que controlam o Estado. Uma política de frente popular e de conciliação de classes que em nada fica a dever à política de colaboração de classes do PT no governo.

Movimentos libertários de defensa dos negros, mulheres, homossexuais e outros têm sido envolvidos nesta política de fortalecimento do poder repressivo do Estado, que se apoia na ilusão de que o Estado é neutro diante da luta de classes e que pode ser inclinado para qualquer posição. Uma fantasia que ignora completamente o caráter antidemocrático do Estado em geral e do Estado nacional brasileiro em particular.

O caminho para a defesa de minoria e maiorias não é o do fortalecimento do poder repressivo do Estado e da colaboração de classes, ou seja, fortalecimento da legislação repressiva seja contra quem for, da usurpação de direitos, do judiciário reacionário e da sanguinolenta polícia brasileira.

Em uma sociedade de classes, o poder punitivo do Estado age apenas e tão somente em favor da burguesia, mesmo quando aparenta punir a burguesia.

O único caminho real, efetivo, para defender os oprimidos é a organização própria dos oprimidos, com total independência política dos opressores, em particular do Estado dos opressores, e a sua aliança com o setor mais importante, mais numeroso, mais organizado e mais poderoso dos oprimidos, que é a classe operária, em uma ampla frente social de luta por um governo próprio dos operários e do povo explorado e oprimido.

“Cría cuervos, que te comerán los ojos”, diz um provérbio espanhol. A esquerda pequeno-burguesa, navegando na ilusão da democracia de pura aparência que existe no Brasil, faz questão de ignorar esta sábia advertência e, como tudo de ruim, o faz na melhor das intenções. Como diz um outro provérbio popular: “a estrada para o inferno está pavimentada pelas boas intenções”.

A ESQUERDA PEQUENO-BURGUESA E OS PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICOS

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debates eleitorais: espetáculo para manipulação do eleitor

Rui Costa Pimenta

A eleição brasileira, mais ainda do que o sistema eleitoral nos países desenvolvidos, é uma engrenagem construída para estabelecer o monopólio de uns poucos partidos políticos dominados pelos capitalistas, com a exclusão dos que não são sócios deste clube privé.

O mesmo espetáculo repete-se em todas as eleições. A imprensa capitalista domina toda a propaganda eleitoral por meio de concessões estatais como se fosse um negócio particular.

O mais escandaloso são os debates entre candidatos, onde uma parte expressiva de partidos não pode participar. Em particular os partidos da esquerda que não participam de nenhum desses eventos, uma vez que eles não são promovidos pelo Estado, como seria o correto, mas por entidades privadas.

A defesa do princípio democrático nesta questão é de fundamental importância. O que está em jogo é que o eleitorado tenha a possibilidade de conhecer e comparar as propostas políticas de todos os candidatos e não de candidatos previamente selecionados por parte interessada no resultado eleitoral.

Nessas condições, uma das tarefas básicas de qualquer partido que se considere democrático, não necessariamente socialista, revolucionário ou proletário, é a de denunciar o caráter antidemocrático da eleição e defender, em oposição a ele, um programa de luta pelo direito popular geral.

Este programa deve contemplar reivindicações tais como a de que os debates sejam organizados pelo Estado, nesse caso, o TSE, com oportunidades iguais para todos os candidatos, independentemente de qualquer outra consideração.

Tais reivindicações têm a função de esclarecer para toda a população trabalhadora e o povo em geral o verdadeiro caráter da eleição e desta forma, ir criando uma oposição cada vez mais ampla ao domínio tirânico da burguesia, disfarçado de democracia.

O PT, partido integrado ao regime, acredita que pode se beneficiar da política de criar privilégios antidemocráticos e o defende. No entanto, em S. Paulo, na atual eleição, o próprio PT, partido que detém o controle do governo federal, foi ameaçado de ser excluído dos debates e da cobertura da imprensa capitalista.

O bloco centrista da esquerda pequeno-burguesa – nos referimos ao Psol, PSTU e PCB – também fracassa completamente nesta questão democrática básica.

Estes partidos não se colocam de forma alguma no terreno da defesa deste princípio democrático elementar.

O Psol é convidado para os debates organizados pelo monopólio da comunicação capitalista. No entanto, em momento algum, se levantou contra o sistema antidemocrático, passando a usufruir de um privilégio antidemocrático e a defende-lo, uma vez que não o denuncia. Nenhum dos três partidos denuncia o sistema de exclusão como um todo.

Os dirigentes do PSTU organizam uma campanha para que o seu partido seja incluído no clube dos seletos privilegiados, mas não se coloca contra o privilégio em si. Apenas considera que é injusto que não seja um dos usufrutuários daquilo que é negado a todo o povo e aos partidos em geral, de um mecanismo que serve apenas para manipular o eleitorado e nada mais.

Esse simples fato mostra que tais partidos não defendem uma posição medianamente democrática contra um regime completamente dominado pela arbitrariedade. Diante disso, nada há a estranhar que Psol, PSTU e PCB promovam debates “entre os partidos de esquerda” e utilizem o mesmo mecanismo, agora já dentro do movimento sindical ou estudantil, o que é ainda pior, uma vez que se trata da democracia das massas e não do Estado, excluindo o PCO de todos eles.

Estes fatos corroboram a caracterização de que se trata de partidos pequeno-burgueses e não partidos operários. A classe operária, como assinalou Marx, não luta por novos privilégios de classe e sim pela abolição de toda dominação de classe. Este fato se reflete naturalmente na política cotidiana na qual, do mesmo modo, um partido operário não busca privilégios para si, mas defende o interesse do conjunto da classe operária e de todo o povo. Os partidos pequeno-burgueses lutam por novos privilégios para si contra os privilégios estabelecidos porque esta é uma classe que representa a sociedade atual, uma das formas e estágios de desenvolvimento da sociedade capitalista.

A luta da classe trabalhadora não pode ser, de forma alguma, para forçar a imprensa burguesa a atuar em favor do proletariado, mas deve ser uma luta por um programa democrático geral, que se oponha integralmente ao atual regime. Nesse sentido, não se trata de reivindicar um lugar ao artificial brilho do sol das grandes redes de TV capitalistas, mas de acabar com esse monopólio privado da comunicação, o mais odioso dos privilégios. Para isso, a tarefa número um não é lutar pelo sua minúscula migalha do bolo dos poderosos, mas denunciar diante de todo o povo, o regime dos privilegiados.